Cyril Lieron e Benoit Dahan * Na Cabeça de Sherlock Homes


Confesso… a capa deste livro arrebatou-me! Nem precisei de o folhear para saber que o queria muito ler. Mas, ainda assim, folheei, e fiquei de imediato maravilhada com as ilustrações e as cores de “Na Cabeça de Sherlock Holmes”!

Restava-me ler e perceber se a história e a sua construção, faziam jus ao primeiro impacto que o livro me provocou. Será que é possível dizer que, não só fez jus, como ainda o superou?

Pois é, temos aqui tudo de bom! Uma história para os fãs de Arthur Conan Doyle, com o espírito livre e até presunçoso de Sherlock Holmes e a sagacidade de Mr. Watson. Uma recriação brilhante, quer no que se refere à adaptação, quer à forma como a mesma foi ilustrada.

Para já não falar sobre os pormenores, merecedores de um óscar para o melhor livro de banda desenhada do ano! Que maravilha é ler este livro. Um deleite para os olhos da primeira à última página, um piscar de olhos constante ao leitor, repleto de interação que me deixou sempre com um sorriso no rosto.

Há que ter muita atenção aos detalhes, porque é nos detalhes que este livro é vencedor! Tem ideias muito originais e muito bem conseguidas. Há ali uma pequena brincadeira com uma determinada linha, o fio condutor da história, que me elevaram o entusiasmo com esta leitura para lá do esperado!

Esta novela gráfica tem tudo o que se quer, uma boa história, muita inteligência na forma como é contada, ilustrações soberbas, com um nível de detalhe absurdo, o uso da cor totalmente adequado à época que retrata e um humor refinado. Em suma, uma novela gráfica que entra directamente para o top das minhas preferidas e que irei sugerir muitas vezes. Como agora. Leiam-na e desfrutem, por favor!

Opinião... Denis Thériault * A Vida Peculiar de Um Carteiro Solitário

 


“A Vida Peculiar de Um Carteiro Solitário” estava já na minha lista de desejados desde que foi editado em Portugal. Fui descobri-lo à venda da livraria Dejà Lú, um projecto que me é muito querido, pelo que me deixou duplamente feliz. Mais ainda fiquei quando, ao folhear o livro, descobri que tem uma carta (de amor ou desamor) e uma dedicatória. Portanto, de alguma forma, este livro esteve envolvido na história da vida de duas pessoas. Adorei!

Como o próprio título indica, vamos aqui conhecer um carteiro, Bilodo, que vive o seu dia-a-dia de forma solitária, recorrendo à correspondência alheia para encher a sua vida.

Pois é, Bilodo leva as cartas que deveria distribuir para casa, abre-as cuidadosamente, lê e volta a fechar para as entregar no dia seguinte. É no meio delas que vai “conhecer” Ségolène, apaixonando-se pelas suas palavras, (quase) vivendo delas.

Alguns acontecimentos irão precipitar a situação, revestindo-a de contornos muito mais obscuros do que aparentavam ser…

A solidão é aqui abordada de forma profunda, dando-nos uma perpectiva muito dura do que é vivê-la, seja por opção própria ou imposta. Não esperava o rumo desta história, mas acabou por me surpreender pela positiva, de tal forma me deixou a pensar no assunto.

A escrita de Denis Thériault é simples, mas cuidada o que transforma esta leitura num momento prazeroso, apesar da mensagem. Sendo um livro pequeno, lê-se quase de uma assentada, até porque não apetece parar de ler até ao final, também ele surpreendente!

Opinião... Nelle Lamarr * A Convidada Perfeita

 


A sinopse deste thriller espicaçou, de imediato, a minha curiosidade. Ora vejam: temos uma família ensombrada pelo luto de uma filha que, passados alguns anos, decide acolher uma estudante de intercâmbio, vinda de Londres para a América.

Esta aluna, Tanya, tem semelhanças incríveis com a falecida Anabel, o que provoca na mãe enlutada uma sensação de quase substituição, enquanto nos restantes irmãos, Paige e Will, levanta muitas questões quanto às origens e intenções de Tanya. Estas dúvidas vão sendo reforçadas, perante acções inesperadas daquela estudante.

Quem é, na verdade Tanya? O que pretende ela desta família? É o que iremos descobrir ao longo da leitura. E vamos igualmente perceber que não há inocentes neste livro, todas as personagens têm os seus esqueletos no armário, todos querem, de alguma forma, ocultar algo dos restantes. É isso que faz com que tenhamos aqui um verdadeiro jogo do gato e do rato!

Uma característica que achei muito interessante neste livro, foi o espaço que a autora deu a cada personagem. Geralmente, neste género literário, pela forma compulsiva como se procura a leitura, acabamos por conhecer cada personagem de forma rasa. Tal não aconteceu aqui e apreciei muito este factor.

A contrapartida dele é que foi mais fácil antecipar o final, quebrando um pouco o efeito surpresa, já que a autora nos foi oferendo migalhas de informação aqui e ali que permitiram ir construindo a narrativa por detrás das aparências.

Ainda assim foi uma leitura que gostei bastante, pela forma como cada personagem é exposta e pela trama em si. Não sendo um thriller de cortar a respiração, foi uma leitura que me deu muito gozo fazer.

Opinião... Rui Conceição Silva * Árvores Tombadas

 


Fico sempre feliz quando regresso a um autor que gosto muito. Mais ainda quando se trata de um autor português, como é o caso de Rui Conceição Silva.

“Árvores Tombadas” marca o seu regresso e, mais uma vez, não desilude! Há duas características nos seus livros que adoro. Primeiro, a escrita, sempre cuidada, cada frase é um deleite de ler, apreciar e sentir. Depois a história, que nos oferece um pouco do nosso Portugal rural, neste caso, dos anos 40. A caracterização daquela época, naquele espaço é deliciosa. E ainda que eu seja e tenha sido sempre uma “menina da cidade”, adoro sentir esta nostalgia (e saudade!) associada aos meus avós paternos.

Esta narrativa dá-nos a conhecer Estrela, uma jovem professora que vai dar aulas para uma aldeia do interior de Portugal. A recepção a esta nova professora não é a mais calorosa, numa época em que ser mulher e professora, ainda para mais jovem, era quase um insulto. Estrela irá enfrentar, por isso, muitas situações desagradáveis, mas a sua paixão pelo ensino e a forma como se relaciona com as crianças rapidamente as cativam.

A elas e a Ricardo, filho de uma das famílias mais abastadas da região, com ideias um tanto contraditórias da maioria. A relação entre os dois vai ser construída com base no respeito mútuo, muito bonito de assistir.

E serão eles, Estrela e Ricardo, juntamente com uma terceira voz não identificada, os narradores desta história, que formarão o retrato daquela sociedade, dos acontecimentos trágicos que assolaram a aldeia, em particular das meninas Teotónia e Ritinha. A relação destas meninas com Estrela é o ponto alto deste livro. Adorei cada doce momento!

Se algo tenho a apontar a este livro prende-se apenas com as transições de vozes, principalmente entre Estrela e Ricardo, que não achei serem muito perceptíveis e que me provocou alguma confusão na leitura, principalmente ao início quando ainda os estava a conhecer.

Este facto não tira nenhuma qualidade ao livro. Adorei esta leitura, que me voltou a oferecer momentos de leitura de qualidade e que não posso deixar de recomendar!

Opinião... Shiro Oguni * O Restaurante dos Pedidos Trocados

 


Sinto que este livro precisa de ser analisado de duas perspectivas diferentes. Por um lado, a escrita e a forma como está construído, por outro, a mensagem.

Vou começar pela mensagem, simplesmente incrível. O ser humano quando usa os seus recursos de forma positiva e em prol do próximo, consegue coisas incríveis. Shiro Oguni era realizador de cinema e televisão, mas foi atraiçoado por uma doença de coração que o impediu de prosseguir com a sua profissão. Foi então que, entre outras coisas, decidiu concretizar alguns sonhos antigos, outros mais recentes, como criar um restaurante, cujos trabalhadores sofram de demência. O que poderia parecer um acto de loucura, ele mesmo, tornou-se num fenómeno de reconhecimento mundial.

O retorno desta experiência foi algo totalmente inesperado, uma vez que as pessoas que sofrem de demência são automaticamente conotadas com total incapacidade, no entanto, quando acompanhadas e estimuladas, conseguem ainda ser muito competentes. Depois, foi a reação dos clientes deste restaurante tão especial que surpreenderam. As pessoas que sabiam ao que iam, reagiram de forma entusiástica, mas as que não sabiam foram cativadas pela simpatia destas pessoas simples, que conseguiam reagir com uma gargalhada a cada pedido trocado.

Esta experiência foi, sem dúvida, uma lição de vida que adorei conhecer!

Mas falta falar sobre a parte literária desta obra. A escrita é extremamente simples e muito telegráfica. Há muitos pontos finais, que acabam por quebrar ritmo de leitura. A forma como o livro está estruturado podia, na minha opinião, ser mais apelativa também. Não quero com isto dizer que não gostei do livro, porque gostei realmente muito, pela sua mensagem tão bonita. E neste caso, à semelhança dos pedidos trocados, encaramos este “pormenor” da escrita com um sorriso!

Opinião... Ashley Elston * A Primeira Mentira Ganha

A Evie namora apenas há três meses com o Ryan. Evie não conhece sequer os seus amigos, no entanto, não é isso que a impede de aceitar ir viver com Ryan, um homem carinhoso e atencioso, que tudo lhe faz para que se sinta bem. O jantar com os amigos será o seu primeiro desafio, afinal as primeiras impressões é que contam não é? Ou será a primeira mentira que ganha? J

Mas o que Evie não esperava é que depois de ultrapassar vários obstáculos, fosse encontrar o grande desafio na namorada do melhor amigo. Esta apresenta-se como Lucca Marino, vinda de uma pequena localidade chamada Eden. O problema? Este é o verdadeiro nome de Evie e aquela foi a localidade que a viu nascer...

Pois é, nada neste livro é o que parece, Evie não é Evie. Lucca também não poderá ser Lucca. Mas então, quem é quem e porquê?

São estas as respostas que o leitor procura em “A Primeira Mentira Ganha”, um thriller que, na minha opinião começou muito bem, principalmente quando coloca frente a frente estas duas mulheres, espicaçando a curiosidade! Gostei também do desenvolvimento da narrativa, sempre interessante e cativante.

No entanto, na parte final da história senti que o novelo se estava a “embrulhar” demasiado, obrigando a um esforço e atenção que me quebraram o ritmo de leitura. Ainda assim, achei toda a construção bem estruturada, coerente e o final surpreendente, que é algo que se quer (muito!) num thriller.

A Evie é daquelas personagens que quase nos obrigam a perdoar-lhe os erros, ainda que não nos afaste da máxima: os fins não podem justificar os meios!

Opinião... Mário Rufino * Cadente


Estava numa sessão de autógrafos com a Tânia Ganho, na Feira do Livro de Lisboa, que me apresentou Mário Rufino e sugeriu a leitura do seu “Cadente”. Fiquei de imediato interessada, sugestão da Tânia é sempre para ter em conta!

A verdade é que não desiludiu. Uma leitura um tanto desafiante, é certo, mas um livro incrível sobre uma temática difícil de viver e de lidar. “Cadente” fala-nos da doença de Alzheimer. E fala-nos na primeira pessoa, o que o torna ainda mais intenso e perturbador, ainda que seja uma obra de ficção.

O nosso narrador é o neto. A sua avó foi a enterrar, no entanto, há muito que já não tinha consciência da vida, de quem a rodeava, das suas memórias. Um percurso penoso tanto para ela, como para o neto que ainda tenta, revivendo o passado com ela, buscar essas memórias no recôndito do seu cérebro. Esta viagem ao passado acaba por ser também um pedido de desculpa. De um homem que outrora foi criança e adolescente e que tanto mal fez a esta avó que o criou.

Pelas suas palavras vamos conhecer o passado, as razões por que vivia com a avó, o caminho que trilhou, o desfecho de uma vida sofrida rematada pela terrível doença.

É um livro muito duro e cru, que expõe a dor da perda progressiva. Em termos de escrita, é muito cuidada e, diria até, diferente. Diferença esta que me provocou o desafio, que me desacelerou o passar das páginas, mas que, em retorno, me ofereceu uma narrativa muito mais rica.

Gostei muito deste livro, da abordagem ao tema, da escrita, da sensação de realidade que me provocou. Irei certamente continuar a acompanhar a obra de Mário Rufino!

Opinião... Rebecca Serle * Prazos de Validade

 


Imaginemos que, para cada relação amorosa que temos, sabemos qual vai ser a sua duração. Todas elas têm um prazo de validade conhecido… Como iriamos viver estas relações? De forma intensa, porque iriam ter um fim ou de forma leviana, pela mesma razão?

É esta a premissa de “Prazos de Validade”, um romance que achei muito interessante, principalmente pelo rumo que tomou. Confesso que a dada altura da primeira metade não estava a ver de que maneira a autora iria conseguir fechar esta história de forma coerente e lógica, mas um elemento que introduziu, depois do meio do livro, veio trazer uma nova luz sobre o assunto e gostei bastante do rumo, ainda que tenha percebido antecipadamente qual era.

Daphne sempre recebeu bilhetes, cartas, o que seja, com indicação da duração do seu próximo caso amoroso. Até ao dia em que o bilhete apenas tem o nome do feliz contemplado, sem data. O que significará isso? É desta que terá um: “felizes para sempre”?

É isso que vamos descobrir, em conjunto com esta personagem peculiar. Ela é amorosa, todos gostam dela (incluindo o leitor!) e torcem para que a vida lhe sorria. Ela tem um novo emprego, onde se sente bem, dá-se bem com a chefe e com a ex-colega que lhe apresentou Jake. Tem um ex-namorado que se tornou melhor amigo, o Hugo, com quem tem uma relação estreita e é o único que sabe da existência das datas.

E tem a sua relação com Jake, a melhor pessoa do mundo, tudo faz para que Daphne se sinta bem e confortável. Face à ausência de data de fim, Daphne investe tudo nesta relação, ainda que o coração não galope. Até onde iremos?

Este foi um romance que me soube muito bem ler, ainda que tenha tido umas questões com a escrita, que não consigo identificar se são da autora, Rebecca Serle ou da tradução. Senti alguma estranheza na forma, ainda que a mesma se tenha desvanecido ao longo da leitura.

À parte este detalhe, gostei muito da premissa, da história e da Daphne! Um bom romance para ler numa tarde de chuva, com um chá que nos aqueça o coração e a alma!

Opinião... Betty Cayouette * Uma Última Oportunidade

 

Antes de mais, uma palavra para a capa deste livro, lindíssima. Rapidamente reconheço a Emerson e o Theo nela, na deslumbrante Cinque Terre, numa sessão fotográfica cheia de amor!

“Uma Última Oportunidade” traz-nos um romance, uma história bonita entre duas personagens de quem é fácil gostar. Ainda assim, tem a carga que Emerson carrega, relacionada com uma agressão sexual no seu passado, tornando-o mais sério do que aparenta.

A autora explica, no início do livro, que ela própria foi vítima e que, durante muito tempo, esta agressão condicionou a sua vida. Tendo conseguido ultrapassar a situação, quis que a sua personagem demonstrasse que um episódio dramático não deve tornar toda uma vida infeliz.

Emerson está à beira de completar 28 anos. É uma modelo muito famosa, sobejamente conhecida e solteira. A poucos dias de fazer anos recebe um lembrete do seu grande amigo Theo, de quem se afastou nos últimos 10 anos. Este aviso, relembra-a do pacto entre eles, que se chegassem aos 28 solteiros, deveriam casar um com o outro.

Emerson decide então conseguir um trabalho de modelo numa campanha que Theo está a fotografar, e o reencontro dos dois não é bem o que esperavam. Ambos terão de reaprender a lidar um com o outro e com o passado…

Achei as duas personagens muito carismáticas, e, apesar do sucesso que alcançaram, têm personalidades amorosas e cativantes. Gostei muito dos diálogos entre eles, um misto de intimidade antiga com insegurança presente. Gostei da forma como os temas foram introduzidos e tratados.

“Uma Última Oportunidade” é, em simultâneo, um romance leve e mais pesado, o que o torna especial e me fez gostar bastante da leitura. A escrita é simples, mas a autora teve a capacidade de construir duas boas personagens que gostei muito de conhecer!

Opinião... Elisabete Martins de Oliveira * Onde as Garças Voam


Não posso deixar de começar por falar na capa e no título deste livro. Achei ambos incríveis, tendo despertado de imediato a minha curiosidade. “Onde as Garças Voam”? Onde? Porquê?

Se já queria conhecer a escrita de Elisabete Martins de Oliveira, que se estreou com “Um Muro e uma Cerca”, que ainda não li (ainda, atenção!), a curiosidade levou a melhor desta vez.

E ainda bem! Gostei muito deste livro, e foi, sem dúvida, um “abre-olhos”. Porque estas personagens passam por acontecimentos que não queremos acreditar que sejam possíveis de acontecer a qualquer um de nós, mas que são, no entanto, totalmente plausíveis!

Elisabete coloca esta personagens numa situação complicada e mostra-lhes um rumo, um caminho doloroso, mas, ainda assim, um caminho. E foi todo este desenvolvimento o que me fez gostar tanto deste livro. Isso e a escrita de Elisabete, simples, mas simultaneamente bonita e completa.

Matilde e Duarte são um casal de classe média, a residir numa vivenda em Lisboa, com dois filhos, a menina diagnosticada no espectro do autismo. Lutaram por uma vida mais confortável e conseguiram alcançar parte dos seus objectivos até ao dia em que Matilde perde grande parte da sua fonte de rendimento, logo seguida de Duarte. Este casal vê-se, de repente, sem fontes de rendimento e sem uma rede de apoio que os suporte neste momento mais difícil. E é a partir daí que começam a traçar planos imediatos dos passos a seguir para enfrentar esta crise, sempre com um objectivo em mente, fazer com que os seus filhos sejam o menos afectados possível.

É angustiante, acreditem! Principalmente quando é tão fácil colocarmo-nos nos seus sapatos e perceber que o que lhes aconteceu pode acontecer a qualquer pessoa, que a situação foge ao controlo muito rapidamente e as consequências são dramáticas.

Foi, por isso, uma leitura muito boa, mas que me deu que pensar. O que é sempre um objectivo concretizado numa obra com temáticas como esta. Resta-me agora ir ler o livro anterior da autora. Depois desta descoberta, não o posso, obviamente, dispensar.

Opinião... Rochette * O Lobo


Determinadas novelas gráficas, mais ainda do que livros de literatura, gritam por mim, sem motivo aparente. Apenas pela capa. E este “O Lobo” já me andava a tentar há demasiado tempo. Rendi-me e li-a. Ou deveria dizer, rendi-me e deliciei-me com esta história?

Confesso que não fiquei de imediato encantada com a arte, assim que iniciei a leitura. Aprecio linhas mais precisas, traços mais delicados. Mas à medida que o argumento me foi absorvendo, as ilustrações complementaram-no de forma perfeita, fazendo-me esquecer a sensação inicial.

Temos um pastor e um lobo. Este lobo perdeu a mãe, ainda muito jovem, às mãos do dito pastor, o qual, por sua vez, perdeu parte do seu rebanho (e, consequentemente, do seu rendimento) pela boca da loba. O ciclo é vicioso, e o sentimento de vingança também…

São estes dias frios, no meio dos Alpes, num clima inóspito e em condições extremas de sobrevivência que vamos acompanhar esta luta desafiadora entre homem e animal.

A dada altura, temi um final trágico para todos, um desfecho onde ninguém ganha. Mas Rochette tinha outros planos e gostei muito quer das opções, quer do caminho que tomou até chegar a elas.

É um livro que se sente: sente-se o frio, acima de tudo, o isolamento das montanhas, a raiva, a sede de vingança, o vazio depois desta. Às primeiras páginas não acreditei vir a gostar tanto deste livro, mas a verdade é que me soube conquistar. Definitivamente!

Opinião... José Rodrigues * O Quinto Pescador


“O Quinto Pescador” marcou a minha estreia com o autor José Rodrigues. Já muito ouvi falar dos seus livros, da sua escrita e agora percebo porquê.

Porque, de facto, a escrita é o ponto forte deste livro. A forma cuidada como o José construiu estas personagens e este enredo, ainda que não o ache totalmente original, conseguiu cativar-me e fazer-me perder nestas páginas.

Francisco é a nossa personagem principal. Um homem perdido, depois da tragédia que o assolou, quando a mulher e os dois filhos pequenos sofreram um fatídico acidente de carro, para mais no seu dia de aniversário. Francisco está sem rumo, e decide viajar sem destino. Mas foi esse mesmo destino que quis que parasse em Luzinha, uma localidade pequenina, onde encontrará o que não procurava…

Este livro é uma ode ao amor, ao poder redentor que este tem sobre um coração e uma alma destroçada. As relações de amizade que se desenvolvem, a forma como os afectos são descritos, tornam esta leitura num deleite e fizeram com que “O Quinto Pescador” ganhasse um lugar especial no meu coração de leitora.

A escrita, como referi, é muito bonita, há cuidado com as palavras, com a forma como são entregues. Sente-se! Este livro tem ainda, no início de cada capítulo, uma fotografia, que o autor menciona terem sido tiradas de propósito para o livro e que, de alguma forma, complementam a história. A preto e branco, criam uma aura quase mística em redor de Luzinha, de Francisco, de Pedro e do cão Rafa.

Uma história triste, mas bonita em simultâneo. Uma homenagem ao poder que um coração puro pode exercer sobre um coração ferido. Muito bonito!

Opinião... Fran Littlewood * A Incrível Grace Adams


Gosto de espreitar o Goodreads antes de iniciar uma leitura. Gostos não se discutem, mas quando a classificação é resultado de inúmeras opiniões, a média é indicativa de algo. Por isso, foi com surpresa que vi que “A Incrível Grace Adams” tinha uma classificação mediana, mais ainda quando a sinopse me tinha chamado tanto a atenção.

Parti para a sua leitura com alguma cautela, no entanto, esta foi rapidamente deitada por terra, porque Grace Adams conquistou-me logo às primeiras páginas. A sua loucura/audácia é cativante, de uma forma inesperada. Para mais, Grace tem uma idade próxima da minha e aborda temas que não se encontram recorrentemente na literatura (o melhor exemplo, a perimenopausa).

A história de Grace é-nos contada em três tempos, o primeiro na actualidade, onde acompanhamos a odisseia de uma mãe que quer, a todo o custo, chegar junto da filha que faz 16 anos e com quem está de relações cortadas. Recuamos mais de 20 anos para assistir ao início da relação entre Grace e Ben, que gerou a adolescente aniversariante Lottie. Pelo meio recuamos apenas uns meses, ao momento em que algo aconteceu levando à destruição da relação de mãe e filha.

A construção de toda esta narrativa foi feita de forma muito inteligente. Se no presente temos uma acção lenta e frenética em simultâneo, quase como se fosse a sensação de um sonho onde pretendemos alcançar algo, mas nunca lá chegamos.  No passado a acção decorre num ritmo mais constante e previsível. Já os meses anteriores, escondem verdades inesperadas que me apanharam de surpresa.

Adorei esta personagem. Real acima de tudo, humana, sofrida, verdadeira. Expressa por actos o que muitas vezes nos passa pela cabeça, mas não executamos porque parece mal. Grace é uma mãe em sofrimento, uma mãe que pretende reconquistar a filha, uma mulher que precisa de recriar um rumo, há muito perdido. Toda a teia a fechar-se e a revelar todos os acontecimentos que tiveram consequências, levam o leitor numa roda-viva.

Não esperava gostar tanto desta história, mas a verdade é que Grace Adams ficou e ficará comigo. Uma personagem daquelas que adoro adorar! E a média no Goodreads vai crescer um bocadinho 😊

Opinião... André Fernandes * As Sete Carruagens

 


A premissa deste livro deixou-me de imediato curiosa. Um metro, sete carruagens, e a cada novo dia, a personagem principal, René, revive uma e outra vez a mesma rotina, tendo a acção lugar em cada uma das diferentes carruagens.

E é precisamente aí que os dias variam uns dos outros, já que as pessoas com que interage em cada carruagem são diferentes e o diálogo é, também ele, distinto.

E chego aqui ao cerne da questão, já que achei estes diálogos muito forçados, com um objectivo, é certo, mas sem qualquer subtileza. Ao ponto de me parecer estar a ler um livro de ajuda e não um romance.

A temática que aborda é muito interessante e importante. Não vou revelar qual é, porque é parte do encanto da narrativa, mas acredito que possa ajudar leitores. Da mesma forma, o conteúdo dos diálogos que mencionei acima são, também eles, de extrema importância. Um alerta, uma aprendizagem, uma ajuda. Mas não são diálogos realistas, que se enquadrassem na acção em curso. E foi este o ponto que me incomodou e fez gostar menos da leitura.

A escrita é simples, fácil de ler e compreender e existe sensibilidade na mensagem. Não quero com as minhas palavras tirar valor ao livro, não seria justo. Só não concordo que lhe chamemos romance…

Opinião... Stephen King * Carrie


Confesso, ler Stephen King causa-me receio… Não consigo evitar ir a medo para um livro seu. E este “Carrie” estava talvez no topo dos mais temidos. Afinal sem razão! Embora seja um livro difícil, com uma temática dura, não me provocou insónias!

Publicado em 1974, celebra agora 50 anos… É obra! Não posso deixar de falar sobre esta edição tão bonita, como também não posso deixar de mencionar que embora tenha adorado ler as palavras de Margaret Atwood no prefácio, apanhei uma série de spoilers… É certo que tive 50 anos para conhecer a história, mas a realidade é que não a conhecia e preferia tê-lo lido como posfácio. Fica o alerta para quem ainda não leu.

Carrie é uma menina que nunca teve uma vida feliz. Primeiro às mãos da mãe, depois dos colegas, foi eternamente mal-tratada e vítima de bullying. É também desde cedo que percebe que a força da sua mente é poderosa…

Carrie irá crescer, sempre neste ambiente, sempre alvo de chacota, sempre mal-amada pela sua própria mãe e, no seu interior, a revolta vai crescendo e crescendo até se tornar intolerável e o pior acontecer! E quando acontece tudo é catastrófico e incontrolável!

A escrita de King é muito peculiar, cheia de apartes que tornam o ritmo de leitura diferente, mas não menos interessante. É um livro pesado, mas de leitura viciante. E fez-me pensar o quanto foi corajoso, pelos temas que abordou (e pela forma como o fez), há 50 anos, quando as mentalidades e liberdades eram outras! Não será por acaso que resistiu até aos dias de hoje, continuando a conquistar leitores e, inclusive, com adaptações para filmes.

Pela minha parte, dispenso ver o filme, parece-me que visualmente esta história será demasiado para mim, mas quanto ao livro foi uma bela surpresa. A partir de dada altura, dei por mim a lê-lo freneticamente e a não querer parar enquanto não cheguei à última página. O que, basicamente, diz tudo!

Opinião... Filipa Fonseca Silva * Admirável Mundo Verde


Já não lia uma distopia há bastante tempo. Aliás, não é um género literário frequente para mim. Talvez por isso, e talvez influenciada por outras distopias mundialmente famosas que li, esperava um rumo diferente para este livro.

Filipa Fonseca Silva oferece-nos este “Admirável Mundo Verde”, uma história sobre o mundo que nos rodeia, e o quanto maltratamos este bonito planeta. O tema é mais do que actual e urgente, basta ligar a televisão e assistir aos telejornais. Alterações climáticas, o não atingimento dos valores acordados em Paris, o quanto o poder político se sobrepõe às necessidades mundiais…

Nesta história, temos Laura, uma jovem que acredita que é preciso mais do que palavras, e que decide, em conjunto com outros que pensam como ela, agir. Mas a forma como o fazem é extremada e as consequências imprevisíveis. Até porque falamos de seres humanos, e nem sempre os objectivos iniciais são os mesmos quando se atingem outros patamares de poder…

Avançamos três anos na história e vamos conhecer Billie, ou melhor, Joana. Actualmente, dá pelo nome de Joana e foi amiga próxima de Laura. E será através dos olhos de Billie que vamos conhecer esta nova sociedade e o que foi o caminho até aqui.

Como referi, esperava um rumo diferente para este livro. Se comecei a adorar toda a construção, as personagens, os acontecimentos, a dada altura, a narrativa evoluiu para acções que não esperava e que me levantaram mais questões do que responderam às minhas dúvidas… Não é necessariamente mau, mas fui surpreendida e deixou-me confusa quando conclui a leitura.

De qualquer forma, o tema é necessário e ainda pouco abordado na literatura e este livro é um excelente ponto de partida para uma discussão profunda sobre a temática. Poderá até ser um bom livro para debater num clube de leitura, onde os spoilers não existem e é possível falar abertamente do tema. Fica a sugestão.

Opinião... Aimée de Jongh * Dias de Areia


 Aprendo tanto com os livros! Aprendo outras perspectivas de vida, outras culturas, viajo até locais onde nunca fui fisicamente. No caso de “Dias de Areia” aprendi sobre um acontecimento de que nunca tinha ouvido falar…

Dust Bowl é o nome do fenómeno climático, que ocorreu nos Estados Unidos da América, em 1930 e que durou 10 anos. Em plena Grande Depressão, e depois de uma seca severa e de falhas nos processos de cultivo que tornaram a terra árida, enormes e contínuas tempestades de areia, tornaram a vida uma odisseia em boa parte do país.

O nosso protagonista é John Clark, fotógrafo de profissão, que sendo admitido num jornal, tem como primeiro grande trabalho fazer a cobertura deste fenómeno in loco. E nós iremos acompanhá-lo nesta viagem, que se revela dura em muitas frentes. A areia é o primeiro obstáculo, mas outros se seguirão, como a má recepção que teve por parte dos locais e que ele precisa de ultrapassar.

Este livro é uma novela gráfica, muito completa e bem construída, com uma narrativa sólida e ilustrações incríveis. O traço de Aimée de Jongh é muito bonito e teve a capacidade de passar o sufoco da tempestade de areia para o leitor. A desolação, a dificuldade em respirar, está lá tudo! A acompanhar o traço bonito está a escolha muito adequada da cor, com páginas muito sombrias (adoro o efeito da tempestade a aproximar-se!), mas outras mais detalhadas e coloridas, qual lufada de ar fresco.

A história deste fotógrafo é uma outra história dentro da narrativa, igualmente bem desenvolvida e incómoda até. O que procura ele? E encontrará o que procura?

Como última nota, gostaria de salientar as fotos verdadeiras que se encontram no início de cada capítulo e que a autora inseriu de forma brilhante no todo do seu desenho.

Não conhecia Aimée de Jongh, uma autora dos Países Baixos, mas irei estar atenta à sua obra, já que esta primeira experiência foi muito positiva!

Opinião... Tânia Ganho * O Meu Pai Voava


Conheci Tânia Ganho com o livro “A Mulher-Casa”. Adorei. Um livro que tantos anos depois ainda povoa a minha mente. Seguiu-se “Apneia”, uma leitura arrebatadora, que colocou a Tânia no topo das minhas preferências, no que se refere a autoras nacionais.

Mas, mesmo sabendo a qualidade da sua escrita, o poder da sua palavra, nada me preparou para este “O Meu Pai Voava”. Que livro maravilhoso. De uma tristeza profunda, face ao que lhe deu origem, mas igualmente de uma beleza e simplicidade ímpar. No fundo, uma homenagem sentida (e que se sente!) a este pai que partiu.

Senti-me completamente arrebatada por esta leitura, como se estivesse numa montanha-russa de sentimentos galopantes, ora sorrindo por conta de uma peripécia à mesa da família, ora de coração apertado pela dor da autora.

Importa referir que se trata de um livro de não-ficção, que Tânia sentiu a necessidade de escrever após a morte do seu pai, que se debatia com o terrível Alzheimer. A perda progressiva das faculdades deve ser algo muito difícil de lidar para o próprio e para quem o rodeia, principalmente, como referido no livro, no que toca a manter a dignidade da pessoa doente.

Sente-se que este livro foi escrito por uma alma em chagas, um coração ferido e sofrido. Mas também se sente que só fica assim ferido quem ama, e não há manifestação mais bonita deste amor por um pai.

Eu tenho a felicidade de ter os meus junto a mim, mas sei que um dia voltarei a este livro (que seja daqui a muitos anos!), com outros olhos e outra necessidade. E ainda assim, a sua leitura, no presente, foi tão importante para mim!

Opinião... Kate Morton * O Regresso


 Romances que são sagas familiares, bem escritos e desenvolvidos e aqui esta leitora fica totalmente rendida!

“O Regresso” de Kate Morton conta-nos a história de Nora e da sua neta Jess. Elas são naturais da Austrália, mas Jess vive actualmente em Inglaterra. Certo dia recebe a chamada que não quer receber, de um hospital, a informar que a avó sofreu uma queda e que se encontra nos cuidados intensivos. Tal cenário leva Jess a regressar à sua terra Natal de imediato.

Entre visitas ao hospital, Jess vai juntando algumas peças, que começaram a despertar a sua curiosidade porque a avó caiu quando tentava aceder ao sótão da casa onde vive, empreitada extremamente perigosa, por causa das escadas de acesso. O que estaria naquele sótão de tão importante, para Nora arriscar a subida? Depois, algumas coisas que o cuidador da avó lhe disse, fizeram com que Jess começasse a investigar determinados acontecimentos do passado da família.

E nós, leitores, vamos com ela nesta viagem, ao tempo em que o irmão de Nora era vivo e vivia noutra região da Austrália juntamente com a sua mulher e quatro filhos.

Algo de trágico aconteceu, de tal forma que ainda hoje se reflete nas reacções de Nora. Trilhar este caminho foi descobrir cada uma das personagens, as suas peculiaridades, os seus propósitos.

A forma como Kate Morton foi revelando a informação, quase transformaram este romance num thriller, porque há coisas a descobrir e os pedaços de informação que nos foi oferecendo apenas espicaçaram mais à leitura. E é neste ponto que o livro teve algo que, para mim, não fez muito sentido. A dada altura, Jess tem acesso a um livro que conta a história desta parte da família ligada ao tio-avô. E vai lendo este livro aos pouquinhos, intercalados com o seu dia-a-dia de visitas à avó. Parece-me que nestas circunstâncias, aquele livro teria sido devorado de uma assentada evitando alguns mal-entendidos.

Não significa que tenha estragado a leitura, de todo, mas foi algo que me fez alguma comichão ainda que perceba que esteja relacionado com a construção da narrativa.

Muito bem escrito, com personagens ricas e cheias de vertentes, uma história com suspense e um fim algo surpreendente, “O Regresso” foi um romance que me encheu as medidas!

Opinião... Chas Newkey-Burden * Taylor Swift - A História Completa

 


Dentro dos livros de não ficção, as biografias são os que eu mais aprecio. Acho interessante conhecer as pessoas por detrás da aura da fama, o que muitas vezes nos quebra ilusões, mas por outro lado, cria motivação para correr atrás dos sonhos.

Taylor Swift é mundialmente conhecida e dispensa apresentações. Não sendo uma grande apreciadora da sua música, a sua ascensão meteórica despertou a minha curiosidade para este livro.

Antes de mais importa dizer duas coisas que poderão condicionar a minha opinião que se segue. Este livro é uma biografia não autorizada, pelo que não temos aqui a voz da cantora, antes temos uma recolha de informação pública, como artigos de jornais e revistas ou entrevistas dadas a canais de televisão, que ainda que esteja bem feita, não tem a mesma profundidade que teria caso fossem as suas palavras.

Outra questão prende-se com a data em que o livro foi originalmente publicado. Ele remete-se a 2013, pelo que não temos aqui os últimos 11 anos da sua vida, ainda que aborde alguns factos recentes nesta edição revista.

Como em qualquer biografia, gostei muito de conhecer as origens e o início da vida pública de Taylor. Compreendi uma vez mais a importância que a família tem nestas situações, onde as crianças revelam competências extraordinárias, mas ainda precisam de muito apoio. Os pais de Taylor tiveram a capacidade de a compreender e acompanhar. Mas também a deixaram trilhar o caminho sozinha, fazendo-a crescer de forma responsável.

Depois temos o preço da fama, os episódios de vitórias, os outros episódios menos felizes, a razão de ser das suas músicas (que para ela são como uma espécie de diário).

Em suma, gostei bastante de conhecer Taylor um pouco melhor, ainda que tenha algumas reticências quanto à escrita adoptada no livro e ao facto de ser uma biografia não autorizada. De qualquer forma, a sua leitura foi agradável e fez-me ir ouvir algumas músicas com atenção na letra.

Opinião... Kei Aono * O Destino da Livraria de Kichijoji

 

Sabem aqueles livros que só de olhar para eles, sentimos que queremos muito gostar da leitura? Foi o que me aconteceu com “O Destino da Livraria de Kichijōji”, para mais na incrível embalagem onde o recebi, já de si bonita, melhor ainda porque vinha recheada de Tsuru!

Mas a capa não faz um livro, e o que o envolve também não. A narrativa, as personagens, a escrita, esses sim são factores determinantes. E alguns destes aspectos ficaram aquém, na minha opinião.

É certo que o livro segue em crescendo de interesse, no entanto, a primeira metade é muito vazia de conteúdo, pautada por repetições de ideias e pouca acção. Ainda assim algo no livro me impulsionou a continuar a leitura, e ainda bem, porque a segunda metade melhora significativamente. Porque é na segunda metade que as personagens revelam a sua essência, e onde se comprova que a união faz a força!

A livraria de Kichijōji é uma livraria bastante antiga, com uma enorme oferta, mas meio perdida no tempo. Os funcionários mais novos procuram trazer alguma inovação, mas rapidamente são barrados pelos mais antigos e conservadores. É o caso de Aki, uma jovem que acaba de se casar, e que encontra em Riko, a sua superiora, uma adversária no local de trabalho.

No entanto, o futuro não se avizinha risonho para esta livraria, obrigando a que todos coloquem de lado as suas diferenças e a que Riko, entretanto promovida a gerente, abra horizontes a novas experiências. Conseguirão, juntos, salvar a livraria?

A escrita japonesa é muito característica e única. Pautada pela contemplação e pela lentidão da acção, é expectável que as narrativas não sejam aceleradas e para devorar. Ainda assim, a primeira metade deste livro passa um pouco esta linha divisória, acabando por cair no desinteresse, o que desmotivou a minha leitura. Se todo o livro tivesse o mesmo conteúdo da segunda parte, estou certa de a percepção seria diferente. Desta forma, embora tenha acabado por gostar da leitura, não a senti especial como esperava.

Opinião... Yulin Kuang * Como Terminar uma História de Amor


 Já há algum tempo que procurava um romance levezinho e despretensioso, aquilo que eu costumo chamar, a brincar, de pastilha elástica para o cérebro. E não é tão fácil de encontrar como parece porque, a dada altura, ou se transformam num “dramalhão” ou são tão leves que não chegam a ter qualquer interesse.

“Como Terminar uma História de Amor” conseguiu um bom equilíbrio entre estes elementos. É leve, mas tem história. Tem personagens que apetece gostar e torcer por elas, o que é sempre um ponto a favor, tem tempero q.b. e uma estrutura relativamente linear e pouco exigente que permite desfrutar dos elementos anteriores.

Helen Zhang é uma escritora de sucesso, com uma série juvenil publicada e bestseller, à beira de ser convertida em série. Ela é de origem chinesa e tem, no seu passado, um acontecimento marcante e doloroso que a liga irremediavelmente (e pelas piores razões) a Grant Shepard.

Helen está a viver um sonho, com a criação desta série, mas tudo se complica quando percebe que Grant faz parte da equipa de guionistas. Ele mesmo, aquele que ela não quer ver pelas recordações que acarreta…

Eles decidem seguir em frente, ser profissionais e deixar o passado de lado enquanto trabalham. Será que conseguem?

É esta jornada que iremos acompanhar, ao mesmo tempo de descobrimos o que aconteceu na juventude dos dois que tanto afectou a sua relação presente. O motivo é muito forte e levanta muitas questões, de facto. Temos aqui o tema da culpa e da percepção da mesma. Mas temos também duas personagens amorosas, que cativam o leitor e dificultam ainda mais essa mesma percepção.

Gostei bastante deste livro, dentro do seu género. Foi uma leitura que me manteve sempre interessada, que me fez tentar estar no lugar deles e perceber qual seria a minha posição. Leve, mas não vazio de conteúdo. Perfeito para esta altura do ano, quando o calor não é compatível com leituras mais densas e exigentes.

Opinião... Kristen Perrin * Como Resolver o Próprio Homicídio

 


Aqui está um livro que partiu de uma premissa muito interessante, mas que, na minha opinião, não a soube cumprir de forma plena…

“Como Resolver o Próprio Homicídio” apresenta-nos Frances Adams, que quando jovem foi ler a sua sina numa feira. O que ela não esperava é que esta leitura lhe modificasse toda a vida, já que previa a sua morte por assassinato. E ainda lhe juntou algumas pistas de como tal iria acontecer.

A partir desse dia, Frances passou a viver em função de descobrir o seu próprio assassino, aquele que ainda não existia…

Os anos passaram e, no presente, vamos acompanhar Annie Adams, sobrinha neta de Frances. A sua tia-avó, agora idosa, decidiu mudar o testamento e organiza um encontro com todos os implicados. O problema é que Frances é assassinada precisamente neste dia, pouco tempo antes de todos chegarem, cumprindo-se assim os desígnios da sina.

Mas Frances, embora não tenha conseguido evitar o seu próprio homicídio, deixou preparada uma carta, onde determina que a sua herança irá para quem encontrar o assassino. Annie é uma das contempladas e aceita de imediato o desafio…

E poderíamos ter aqui uma história muito original e divertida, assente numa ideia igualmente original. No entanto, achei a concretização da mesma muito morna. Há vários pontos que não me pareceram lógicos nem coerentes, começando pelo cenário do crime, que foi imediatamente utilizado por todos. Tanto quanto sei, cabia à polícia isolar o espaço e investigar antes de qualquer outra pessoa… E mesmo o desenlace, tem associadas questões desconhecidas do leitor, o que nunca lhe teria permitido desvendar o todo.

Em suma, temos aqui uma ideia gira, uma capa espectacular e expectativas altas que não foram completamente cumpridas. Não é um livro entediante, mas, na minha opinião, não enche as medidas…

Opinião... Fredrik Backman "Os Vencedores"

 


Fredrik Backman faz-me acreditar que a escrita é, de facto, um dom. Que delícia é ler as suas palavras, seja qual for o tema que elas transmitam! Aquela piada “leria nem que fosse a sua lista de compras” assenta aqui que nem uma luva!

“Os Vencedores” encerra a trilogia que se iniciou com “Beartown” e continuou com “Nós Contra os Outros”. Continuaremos a acompanhar o dia-a-dia desta população, residente em Björnstad, bem como a da localidade vizinha, Hed, eternos rivais no desporto do qual respiram, o hóquei.

É precisamente em torno do hóquei que tudo se passa, porque foi esta modalidade que permitiu o desenvolvimento de ambas as terras. A relação da população com este desporto é de quase amor/ódio, tal é a intensidade de sentimentos que os assolam e a forma intensa como o vivem. Mas uma coisa é certa, como eternos rivais, não há nem poderá haver nada na equipa do lado que tenha valor. E o sentimento é recíproco.

É com este mote que acompanhamos os habitantes de Björnstad e de Hed, com todas as questões e situações dentro e fora de cada família. Vamos acompanhando o crescimento de todos, a acção do livro decorre ao longo de vários anos, outra característica que gostei muito nesta trilogia.

Todas as personagens estão muito bem desenvolvidas, temos o nosso tempo para conhecer as diferentes facetas de cada uma delas. Terminada a trilogia, quase as sinto reais! Toda a caracterização é feita com muita mestria, com diferentes perspectivas e opiniões, que revelam muitas vezes pormenores surpreendentes.

Mas o ponto alto é a construção do texto, a forma como Fredrik brinca (de maneira muito inteligente) com o leitor. Como levanta uma pontinha do véu, que espicaça a curiosidade, para nos manter agarrados por mais um capítulo, e depois outro, e depois outro…

Senti que esta leitura exigiu o seu tempo, tempo que lhe entreguei de bom grado, porque senti real necessidade de saborear cada parágrafo! Sendo um calhamaço, naturalmente, este tempo foi ainda mais longo, e que bom que assim foi! Porque a verdade é que tive muita pena de me despedir desta cidade, destas personagens, deste ambiente de que tanto gostei.

Fredrik Backman está, sem dúvida, entre os meus autores preferidos de sempre. Adoro tudo o que ele escreve e, “Os Vencedores” não foram excepção!

Opinião... Íris Bravo * O Som Em Mim


Tenho acompanhado toda a obra de Íris Bravo, desde o seu “A Terceira Índia” e o que me chamou a atenção neste seu novo livro, de imediato, foi o salto qualitativo na sua escrita. Se nos outros livros gostei muito das histórias, assentes numa escrita simples, aqui senti um deleite na leitura. Cuidada e bonita, elaborada quanto baste para contar a história pretendida.

Foi uma surpresa muito positiva que me fez gostar ainda mais do livro. Isto porque voltamos a ter aqui uma narrativa que cativa e absorve. A Íris tem a capacidade de me fazer sentir as personagens e as situações, até os locais.

Comecei “Um Som em Mim” e, ao fim de poucas páginas, parecia que eram pessoas conhecidas, que não as tinha descoberto minutos antes. Adoro essa sensação, que me faz ter uma leitura muito mais absorvente!

Depois temos a história, nada fácil, aviso já. Temos aqui muita violência, que passa não só pela violência doméstica, caracterizada de forma exemplar, no que toca ao perdão e à cegueira que o amor provoca, mas também temos uma outra violência, dura e com consequências catastróficas.

A nossa personagem principal é a Francisca, uma jovem adulta que consegue fugir de casa, levando a mãe e a irmã mais nova. A mãe, impotente face às circunstâncias, deixa-se levar, mas não ajuda muito. Já a irmã mais nova é o grande problema delas, porque sendo menor, esta ausência do lar, pode ser considerada rapto. Isto faz com que vivam escondidas e sem outros recursos que não a força do seu trabalho. São tempo duros e difíceis para as três. Mas são também tempos livres, até dada altura em que a vida de Francisca volta a sofrer outro revés…

Gostei muito desta leitura, pela escrita, pela temática, pela abordagem. Íris Bravo explicou na apresentação do livro o mote para esta história e sente-se que é algo que precisava de ser contado. Não é uma história bonita nem cor-de-rosa, mas é, infelizmente, um retrato da sociedade (para mais, de alta sociedade!) que importa falar.

Opinião... Florbela Melhorado * O Escravo que se Tornou Fidalgo

 


“O Escravo que se Tornou Fidalgo”, logo à partida, o título desperta a curiosidade, pelo inusitado. Qual foi o escravo que chegou a fidalgo? Será real? Um trocadilho?

A verdade é que é real e João de Sá existiu e veio contrariar a norma. Nasceu escravo, e morreu fidalgo, cavaleiro da Ordem de Santiago. Ao longo deste livro, escrito pela mão de Florbela Melhorado, vamos conhecer todo o seu percurso, passando pelos principais acontecimentos da época que atravessa.

Tive a oportunidade de ouvir a autora, na apresentação ocorrida na Feira do Livro, e saber o que deu origem a este livro, tornou-o ainda mais interessante. Tudo partiu de um quadro, que se encontra na capa do livro, na parte superior, a vermelho. A autora detectou que havia neste quadro um cavaleiro negro, o que a intrigou. Partiu então em busca de quem era este homem, para descobrir que dava pela alcunha de Panasco, tinha sido escravo, e chegado a cavaleiro.

Toda esta obra resulta de uma pesquisa cuidada, que se percebe durante a leitura, rica em pormenores e detalhes. E é precisamente aqui que gostaria de ressalvar algo que gostei menos neste livro. As notas de rodapé, que são várias e algumas longas. Ao ler no seguimento da narrativa, provocaram-me uma quebra de ritmo de leitura que não apreciei. Tanto que, a dada altura, optei por ler cada capítulo seguido, para depois voltar atrás e ler as notas de rodapé.

Temos aqui um romance histórico bem construído, que intercala momentos diferentes do tempo, dando-lhe dinâmica e, um pormenor que gostei muito, a autora deu voz a João de Sá, em alguns capítulos, permitindo entrar na sua cabeça e conhecer as suas preocupações, alegrias e tristezas. Gostei muito desta característica, pouco comum neste género literário.

Para quem procura um livro com uma parte da História de Portugal, bem contado e documentado, com episódios pouco conhecidos, encontrará aqui uma boa leitura!

Opinião... Caroline Bernard * Eu Sou a Frida

Assim que descobri esta novidade, intitulada “Eu Sou a Frida”, fiquei de imediato interessada e curiosa com a mesma. Frida Kahlo é uma personalidade que me intriga e atrai. Mulheres que tiveram a coragem de fazer diferente e enfrentar as convenções são sempre uma inspiração.

Aqui vamos acompanhar Frida desde 1938, numa altura da sua vida em que decide deixar de ser a sombra de Diego Rivera, para criar o seu lugar no mundo das artes, já que os seus quadros seriam tão valorosos quanto os do seu marido, no entanto, sendo mulher, foi sempre remetida para segundo plano.

Tomada a decisão, Frida investe nesta empreitada que trará frutos. Primeiro uma exposição em Nova Iorque, depois em Paris, levam a artista ao estrelato que tanto ambicionava. Mas nem tudo foram rosas, inúmeros foram os contratempos que só a sua resiliência permitiu ultrapassar.

Frida teve uma vida difícil, sempre acompanhada de muita dor provocada primeiro pela doença, depois pelo acidente. Será através dos seus quadros que conseguirá ultrapassar parte desta dor, numa jornada muito auto-biográfica.

A escrita de Caroline Bernard é simples e bonita, fácil de ler, mas mantendo uma vivacidade que faz o leitor acreditar que Frida Kahlo está ali, a recordar. Conta-nos inúmeros episódios, muitos deles que eu desconhecia e que gostei muito de descobrir.

Adorei esta leitura e o anterior livro da autora, “Frida e as Cores da Vida”, já está na minha lista de desejados para leitura futura e próxima!

 

Opinião... Victor Vidal * Não Há Pássaros Aqui


Victor Vidal e o seu “Não Há Pássaros Aqui” foi o vencedor do Prémio Leya 2023. Finalizada a sua leitura, consigo perceber as razões para a atribuição do prémio.

O autor fez aqui um trabalho de dissecação da mente humana incrível. Partindo de uma personagem feita em cacos, analisa cada um deles, procurando origens e razões, por um caminho, na maioria das vezes, muito tortuoso.

É uma história difícil de ler, de sentir e absorver, porque revela o pior do ser humano, mas a forma como o autor nos apresenta os factos, impede-nos de virar as costas e seguir.

Aqui conhecemos Ana, quando esta recebe um telefonema que lhe vai virar a vida do avesso, novamente! A sua mãe está desaparecida há uma semana e a sua presença é requerida pela polícia. Ana obriga-se então a regressar ao lar onde nunca foi feliz, revivendo os momentos tensos, tristes e que quer esquecer.

Talvez porque se viu obrigada a viajar até ao seu passado, num impulso decide ligar ao seu amigo de então, Benjamin e passaremos a ter, a partir daqui, duas personagens sofridas, amarguradas, perdidas no presente por conta dos seus passados.

A procura por respostas a questões pendentes fará parte do dia-a-dia dos dois, em busca de uma salvação que poderá chegar tarde demais…

Todo o livro é uma imensa dor, acontecimentos trágicos, mágoas, marcas profundas para sempre. A escrita é muito boa, criando uma teia em volta destas duas personagens, no presente e no passado, que nos levam numa espiral que roça a loucura. Perturbador, intenso e de um enorme sofrimento, até para o leitor, que assiste impotente, a tanta barbárie.

“Não Há Pássaros Aqui” é um título intrigante, mas que faz tanto sentido depois de lido o livro. Talvez se houvesse mais pássaros ali, com a sua beleza e encanto, a vida não tivesse sido tão dura…

Opinião... Catharina Maura * A Noiva Errada


Quem é “A Noiva Errada”?

Esta é a pergunta que o leitor deste livro precisa de ver respondida. Tudo porque nos conta a história de duas famílias muito ricas (embora uma esteja em posição social e económica mais elevada do que a outra) e, no seio destas famílias, o casamento é uma aliança de negócios em vez de uma celebração do amor. Por isso mesmo, a avó da família Windsor já decidiu com quem vai casar o seu neto mais velho, Ares. Ela será Raven DuPont, uma supermodelo tranquila e amistosa.

Os problemas começam quando Raven leva a sua irmã Hannah a uma festa onde Ares também se encontra. Hannah fica perdida de amores por ele e o sentimento é recíproco. A avó decide fazer a vontade ao neto já que, mantendo-se dentro da mesma família a aliança contínua garantida. No entanto, Hannah é uma atriz famosa e rapidamente percebe que este casamento a vai limitar nas suas viagens e disponibilidade para gravar. É então que decide dar um passo atrás e adiar o casamento, atitude que desgosta o noivo e chateia a avó que volta atrás com a sua decisão, retomando a intenção de o casar com Raven.

Agora, quem é a noiva errada? O que acontecerá? É o que iremos descobrir ao longo desta leitura que conta com paixões escondidas, reservas na entrega ao outro, partes picantes q.b., bem escritas e desenvolvidas, más decisões que levam a arrependimentos, e outras decisões que se revelam bem mais acertadas.

Apesar das minhas renitências com o género de romance erótico, este livro acabou por cumprir a sua função de entretenimento de forma bastante satisfatória. Há toda uma série de questões que se levantam relativas aos casamentos arranjados por terceiros que achei muito interessantes. Não me fez mudar de opinião quanto ao género, mas proporcionou-me bons momentos de lazer.

Opinião... Angélica Lopes * A Maldição das Flores


Quando se é uma leitora ávida como eu sou, é sempre uma lufada de ar fresco encontrar uma história original, que nos arrebate e cative. Foi o que me aconteceu com “A Maldição das Flores”.

A premissa é, em si, incrível. Remontemo-nos aos inícios de 1900, quando a voz das mulheres era simplesmente inexistente. Na região de Pernambuco havia um grupo de mulheres rendeiras, do qual faziam parte a família Flores (que dá título ao livro, já que paralelamente conheceremos a maldição que as assola) e uma amiga, a Eugenia. É precisamente Eugenia que, obrigada a casar-se com um homem que a impedia de sair de casa e a maltratava, encontrou nas suas rendas o veículo de comunicação perfeito.

Cada ponto correspondia a uma letra do alfabeto, portanto, todas aquelas que soubessem o código, poderiam comunicar. E é desta forma que Eugenia comunica com a sua amiga Inês Flores, na tentativa de fuga que ambas elaboram.

Damos então um salto até à actualidade e conhecemos Alice, uma jovem activa e reivindicativa, que luta e defende os seus princípios, tentando ganhar a tal voz que tanta falta fez às mulheres ao longo de décadas. Ela será a herdeira de um véu, em renda, e do respectivo código. Este é-lhe oferecido por uma tia que ela não conhecia. Quando percebe o que aquele véu representa, não consegue mais parar até conhecer a história de toda a família e quem foi Eugenia.

É este caminho que iremos fazer em conjunto com Alice e, garanto-vos, é uma caminhada incrível! Toda a envolvente destas rendas, os acontecimentos que se atropelam, as aparências, o sofrimento de tantas mulheres ao longo dos anos, tudo é vívido e sentido. Adorei!

Quem me segue, sabe que tenho alguma relutância em ler em português do Brasil, porque sinto que me atrapalha a compreensão imediata do que leio. Mas, neste livro, senti que fluiu de forma ligeira, talvez porque a história me interessou tanto.

Em suma, encontrei aqui um romance original, com um tema também ele original e muito bem desenvolvido, ainda que assente numa problemática tão antiga: as desigualdades entre homens e mulheres. Aqui, elas provaram que com inteligência se consegue contornar a força bruta, ainda que nem sempre com um final feliz!

Opinião... Sophie Lark * Brutal Prince

 


Temos gangues rivais? Sim, temos. Os Gallo e os Griffin, uma família de origem irlandesa outra italiana, ambas relacionadas com a máfia.

Temos uma relação de ódio que se transformará noutra coisa? Temos. E com cenas bem calientes, por sinal!

Temos então os ingredientes certos para um bom romance, levezinho e divertido, óptimo para estes dias mais quentes. Na minha opinião, poderia ter sido, caso não tivesse um enorme senão, que se prendeu com as cenas mais tórridas do romance. Nada contra elas, mas a linguagem utilizada poderia ser muito mais bonita, revestindo-as de uma sensualidade que achei inexistente. Nada de puritanismos, apenas não se adequa ao meu gosto pessoal.

E este pequeno/grande senão, porque são várias as passagens, fez com que não apreciasse o livro como um todo, ainda que tenha achado bastante piada às picardias entre as personagens principais, a Aida Gallo e o Callum Griffin.

Ela é destemida e não mede as consequências. Ele tem sede de poder, a qualquer custo. Juntos só poderiam provocar um tornado. Foram estas partes que me divertiram e fizeram rir. Isso e as reacções inesperadas, que apanharam as personagens de surpresa e a mim também.

Em suma, é um livro que entretém, não é maçador, mas não me encheu as medidas. É bem verdade que cada livro tem seu leitor, eu não serei o deste...

Opinião... Salva Rubio * O Fotógrafo de Mauthausen

 


“O Fotógrafo de Mauthausen” conta-nos um período negro da história mundial, mas sobre a perspectiva de um fotógrafo espanhol. O que foi, à partida, uma novidade para mim. O tema da Segunda Guerra Mundial e, em particular, dos campos de concentração, dada a sua enormidade, são muitas vezes abordados na literatura, mas nunca tinha lido na perspectiva dos espanhóis.

Mais ainda, perceber que estas pessoas, por serem contra o franquismo, foram obrigadas a exilar-se em França, que rapidamente usou a sua força como préstimos à pátria, para os largar ao seu destino quando os nazis avançaram. É desta forma que milhares de espanhóis foram levados para o campo de concentração de Mauthausen, na Áustria.

Um deles foi Francisco Boix que terá passado por duras penas, à semelhança dos seus compatriotas, mas que teve a “sorte” de ver descoberta a sua habilidade com a fotografia, passando a integrar a equipa de prisioneiros “afortunados” (com muitas aspas). A sua função era acompanhar o fotógrafo nazi e revelar todas as fotos tiradas no campo. E havia ali um pouco de tudo, desde fotos a simular uma realidade inexistente, onde os prisioneiros eram bem tratados, para provar o que não existia, até fotos dos próprios nazis, com o objectivo de as enviarem aos familiares, passando por fotografias que testemunhavam atrocidades várias.

São precisamente estas últimas que Francisco quer esconder para que sirvam de provas futuras. Para tal, arrisca muitas vezes a sua vida e a dos seus companheiros…

A arte deste livro é de grande qualidade, fazendo uso das cores sombrias para retratar um dia-a-dia muito duro e cinzento. Gostei muito da forma como a narrativa foi contada, ilustrada de forma muito adequada à seriedade do tema.

Adicionalmente, o livro tem um dossier histórico muito completo, que detalha partes da novela gráfica, mostra fotos e distingue o que é ficção do que é realidade. Pareceu-me uma obra muito completa, séria e profissional que me deu a conhecer (mais) uma perspectiva que desconhecia sobre um tema que não podemos esquecer.

Opinião... Eleanor Shearer * A Canção do Rio


 Ler um livro sobre escravatura é saber, à partida, que será uma leitura sofrida. Mas se juntarmos uma mãe escrava em busca dos seus filhos vendidos, temos uma história de amor incondicional que não deixa ninguém indiferente.

Que livro bonito. Que ode ao amor maternal. Personagens fortes, lutadoras e bem caracterizadas. Sofri a ler este livro, tanto que tive de retardar o ritmo de leitura, para o absorver e, muitas vezes, respirar fundo.

Rachel é escrava e mãe. Toda a sua vida foi de sofrimento, primeiro pela clausura, depois por ver os seus filhos serem levados, um por um. No dia em que é abolida a escravatura, Rachel sabe que é a sua oportunidade de fugir (porque embora já não fossem escravos, tinham a obrigação de permanecer com os seus anteriores donos, por mais 6 anos) e procurar os seus entes mais queridos.

Parece-me que não é sequer possível imaginar o que será esta demanda. Se seria difícil nos dias de hoje, com acesso a tanta informação, imagine-se em 1834! Só mesmo uma força muito poderosa poderia fazer esta mulher acreditar. E esta força chama-se amor!

Não achei as falas de Rachel fáceis de ler, porque retratam a pessoa que é, iletrada e sem acesso a qualquer tipo de educação. No entanto, só fazia sentido ser desta forma e, como tudo, ao fim de algum tempo, acostumei-me e na segunda metade do livro já não me causava sequer estranheza.

Uma palavra para a tradução deste livro. Calculo que tenha sido uma tarefa árdua, que foi concretizada de forma exemplar.

Este romance é tão bonito quanto a capa do livro, ainda que toque em temas que são tudo menos bonitos. Ressalvar também os cenários onde se passa a acção, senti a terra crua de Barbados e de Trindade, tudo muito bem descrito. Um livro para ler devagar, degustar e louvar esta mãe incrível!

Opinião... Daniel Sweren-Becker * Kill Show

 

“Kill Show” tem uma premissa muito original e interessante. Foi o que de imediato chamou a minha atenção e me fez passá-lo para o topo da lista dos livros por ler.

Sara é uma rapariga de 16 anos, que desaparece a caminho da escola. O caso ganha rapidamente uma nova dimensão quando os pais aceitam participar num reality show televisivo, que tem por objectivo acompanhar e tentar solucionar o caso, em tempo real.

O formato escolhido pelo autor para contar esta narrativa é também ele muito original, já que não há texto corrido, havendo antes falas das diferentes personagens, em jeito de entrevista. Mas o mais interessante é que parece que todas elas estão numa grande sala, a ouvir-se, já que há reacções às intervenções anteriores, o que cria uma dinâmica muito gira no livro.

Depois temos os plot twists, muito bem feitos, que me pregaram valentes rasteiras, mas sempre com coerência e sentido, tornando quase impossível parar de ler.

Todo o livro é uma enorme critica à sociedade actual, ao poder da manipulação de imagem e ao peso da opinião pública anónima. A panóplia de diferentes personagens é outra característica interessante deste livro, temos desde os pais e restante família, a toda a equipa produtora do programa, passando pelo inevitável negacionista ou pelo grupo de apoio criado espontaneamente nas redes sociais.

Actual e com uma utilização muito inteligente das ferramentas digitais, Daniel Sweren-Becker criou um thriller muito interessante e original, que dá que pensar e que levanta inúmeras questões morais. Gostei muito desta leitura!

Opinião... Ticas Graciosa * Nini

 


Saber que um livro, ainda que seja de ficção, é baseado em factos verídicos, para mais vividos pela autora, dá-lhe de imediato outra dimensão.

“Nini” é a menina protagonista desta história, que viveu no seio de uma família com graves problemas, que assistiu ao que não devia desde muito pequena, que perdeu os seus pais da forma mais trágica. Mas Nini é igualmente a menina que soube perdoar e não se deixar amargurar pelos acontecimentos, que facilmente a poderiam ter levado por um caminho de raiva e dor. Ela preferiu ver as coisas boas da vida, segurar-se a elas para continuar, em vez de se perder neste lado mau que vivenciou.

E esta é, sem dúvida, a mensagem forte deste livro. Uma lição de vida, quando nos queixamos de pequenas coisas e fazemos delas uma coisa enorme, ao vermos estes exemplos, percebemos o que são situações dramáticas. É de reflectir!

Desde cedo houve muita violência doméstica na família de Nini. O seu pai sofria de uma doença mental que o cegava de ciúmes, no entanto, apesar dos avisos dos que estavam mais próximos, nada se fez para evitar a tragédia anunciada. Se do lado da mãe de Nini todos procuravam ajudar e incentivar ao tratamento, o oposto aconteceu do lado da família paterna. Aliás todo o contexto familiar deste lado da família causa de imediato alguma estranheza, pela forma fria como se relacionavam, numa relação de quase medo.

São inúmeros os momentos deste livro em que apetece intervir e gritar sinais de alerta. É compreensível que quando se está dentro das situações se tenha uma perspectiva distorcida das mesmas, mas ainda assim é muito custoso de observar.

A escrita de Ticas Graciosa tem por vezes uma construção de frases que me dificultou a leitura, obrigando-me a reler algumas passagens. Mas à medida que o livro avança, acabei por me habituar, não tendo estragado a leitura no seu todo.

Como disse, Nini conseguiu sobreviver a este ambiente doentio, à tragédia (ela nunca culpou o pai pelo sucedido, atribuindo antes culpa à doença), às mudanças drásticas da sua vida após a tragédia (a convivência com a avó não foi fácil) e ainda achar que a vida tem muita graça. Que grande lição!