Opinião... Jennette McCurdy * Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu

“Ainda Bem Que a Minha Mãe Morreu”, um título chocante, sem dúvida. Mas finda a leitura, e dentro do seu contexto, faz muito sentido.

Este é um livro de não ficção, que nos conta, pela voz e palavras da própria, a história de vida de Jennette McCurdy. Desde cedo, aos 8 anos, Jennette foi obrigada pela sua mãe a participar em castings para ser, primeiro figurante, e depois atriz. Esta foi sempre uma imposição da mãe que a usou como meio de subsistência (e talvez a tenha usado de outra forma, ainda que não fique claro da leitura do livro).

A mãe de Jennette era uma acumuladora, pelo que a casa onde esta criança nasceu e cresceu era tudo menos saudável, já que nem quarto tinha disponível porque estava cheio de tralhas… A acrescentar a tudo isto, aos 11 anos tornou-se anorética, muito incentivada pela mãe que a queria pequena e magrinha para continuar a fazer papéis de criança.

Toda a sua vida foi um sem fim de traumas, Jennette foi usada e abusada por todos a começar pela própria mãe. Após a sua morte, não sabendo como agir sozinha, torna-se bulímica, e a sua vida uma sucessão de más decisões que chega a ser atroz acompanhar…

Saber que estamos perante uma história verídica, que não será certamente única e que representa o outro lado do glamour da televisão e do estrelato é perturbador!

A escrita de Jennette é completamente desprovida de tabus, directa e crua, relata tudo o que foi o seu crescimento. Hoje com 32 anos, é escritora e realizadora, mas a sombra do seu passado irá acompanhá-la sempre.

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Opinião... Barbara Davis * O Eco dos Livros Antigos

Que livro bom este! Assim que vi o título e a sinopse, soube que o queria ler, e não desiludiu!

Um livro que nos fala de livros tem logo um ponto extra a seu favor, não é verdade? “O Eco dos Livros Antigos” somou ainda muitos outros pontos, nomeadamente, uma boa história, uma escrita descomplicada, mas bonita, duas narrativas paralelas, em épocas distintas e uma doce história de amor…

Ashlyn tem um dom, ela consegue sentir o eco dos livros. Se um livro já foi lido por alguém com emoções fortes, Ashlyn sente essas mesmas sensações ao folhear o livro.

Ela não teve uma infância fácil, e uma livraria de livros antigos era muitas vezes o seu refúgio. O seu proprietário era um senhor já com alguma idade que a acolheu e lhe ensinou a arte do restauro de livros antigos, acabando por deixar a livraria a Ashlyn, após a sua morte.

É esta livraria o destino de um caixote de livros que Ethan doou, pertencentes ao seu pai, entretanto falecido. No meio destes livros, Ashlyn encontra um especial, cujo eco é muito forte. Mas o livro não tem nem autor nem editora, o que a leva a ficar ainda mais curiosa. É fruto desta curiosidade que parte em busca de respostas, mais ainda depois de descobrir um segundo livro semelhante, que é uma resposta ao primeiro. As personagens destes livros? Belle e Hemi, dois apaixonados de costas voltadas.

Vamos então acompanhar as duas histórias em paralelo, a de Ashlyn e Ethan e a de Belle e Hemi. Duas histórias cheias de pormenores, ricas em detalhes que adorei acompanhar.

Aqui está um romance que tem todos os ingredientes em dose certa, para se tornar numa leitura que me deliciou!

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Opinião... Cy. * Radium Girls

Aqui está um excelente exemplo de um livro que ensina. Quando se consegue aliar arte, diversão e aprendizagem num único momento é perfeito, não é?

As Radium Girls que dão título ao livro são personagens reais, este grupo de mulheres existiu e foi vítima do uso do rádio. Elas trabalhavam numa fábrica onde pintavam mostradores com rádio e ao molharem a ponta do pincel com a boca, acabaram por se contaminar. Os efeitos secundários seriam já conhecidos, mas ninguém fez nada para travar o caminho para a desgraça deste grupo de mulheres.

E o mais incrível é que o caso não é mundialmente conhecido! Cy., a autora desta novela gráfica, tropeçou quase por acaso nesta história e resolveu pesquisar mais. Sentiu então necessidade de a expor, resultando nesta novela gráfica muito bem conseguida. Em termos gráficos, é uma obra muito interessante, em particular na representação da morte de cada mulher.

Uma nota final para a capa deste livro, que brilha no escuro, quase como se ela própria fosse radioactiva. Um pormenor genial!

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Opinião... Beth O'Leary * O Ausente

Vou começar já pelo final e dizer o quanto este livro me desiludiu… Depois dos livros anteriores de Beth O’Leary, tão divertidos, achei este livro muito morno, sem piada e pouco original…

Começamos o livro a conhecer três mulheres que ficaram penduradas em diferentes compromissos. O ausente? Joseph Carter. E estas situações irão criar uma imagem deste homem muito pouco positiva.

Ao longo do livro vamos perceber o que é a relação de Joseph com cada uma destas mulheres e o que foi a sua vida.

Ainda que o final tenha reservado um factor surpresa que não antevi, e que “salvou” um pouco o livro, na minha opinião, este continua a carecer do humor tão característico dos outros livros de Beth O’Leary. Temos, portanto, um romance que se lê bem, mas que não acrescenta muito, com muita pena minha.

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Opinião... Laura Imai Messina * Palavras à Deriva

É tão bom quando se encontra livros originais! Laura Imai Messina tem esta incrível particularidade, todos os seus livros abordam temas únicos, começando pela cabine telefónica onde as pessoas vão falar com os entes queridos que já partiram, passando pela ilha onde são guardados os batimentos cardíacos e agora oferece-nos uma história sobre outra ilha, desta feita, onde estão guardadas as cartas cujos destinatários não têm morada.

Pois é, muitas pessoas sentem necessidade de escrever a pessoas ou objectos (ou até situações), mas não têm para onde enviar as suas cartas. Esta ilha recebe-as e guarda-as!

Imaginem uma criança saudosa de um brinquedo perdido, ou uma pessoa que se lembra da sua primeira casa, local onde foi feliz. Todas estas cartas são recebidas no Posto de Correios à Deriva, na ilha de Awashima, no Japão.

Risa é a nossa protagonista e perdeu cedo a sua mãe. E cedo foi obrigada a crescer, ainda que tenha tido sempre o amor do seu pai, carteiro de profissão. Agora Risa viaja para Awashima, para catalogar todas aquelas cartas. Ela tem também outro objectivo, que apenas vamos descobrindo ao longo da leitura…

Gosto muito da forma com Laura escreve e nos conta as histórias. Contudo, neste livro, senti-a mais japonesa que italiana. Quero com isto dizer que os livros anteriores da autora tinham uma garra diferente, que me fez gostar um bocadinho mais deles. De qualquer forma, e comparações à parte, adorei esta leitura e Laura Imai Messina é, sem dúvida, uma autora de quem quero ler tudo o que escrever!

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Opinião... Nguyen Phan Que Mai * Os Filhos do Pó

Desconhecia o termo “Filhos do Pó”. Termo dedicado àqueles que nasceram no Vietname, durante a guerra, fruto de relações entre militares americanos e mulheres vietnamitas. Filhos muitas vezes renegados, a viver na pobreza e com muitos traumas.

Nguyen Phan Que Mai dá voz a estas pessoas, através das suas personagens neste novo romance. Phong não sabe quem são os pais e quer, a todo o custo, um visto que lhe permita viajar para os Estados Unidos com a família. Ele precisa de saber quem são os pais, depois da irmã do convento que o acolheu ter falecido.

Dan e Linda são um casal americano de visita ao Vietname. Dan esteve neste país durante a guerra e carrega vários fardos relacionados com a mesma. Esta viagem será uma espécie de cura para os seus males.

Por fim, seguimos para o passado para conhecer duas irmãs, que vivem na pobreza e que sentem necessidade de partir para Saigão com o objectivo de ganhar dinheiro que permita a operação que o pai precisa com tanta urgência. Mas Saigão é uma cidade grande, onde a sua inocência será perdida…

A teia que liga estes três grupos vai sendo tecida ao longo do livro, revelando uma história pesada e dura, do que foi a realidade de um país em guerra. A escrita de Nguyen é irrepreensível, sou incapaz de parar de a ler e voltei a aprender sobre uma realidade que desconhecia. Recomendo muito este livro.

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Opinião... Sara Marinho * Quando o Sol Aparecer"

“Quando o Sol Aparecer” representou a minha estreia com a escritora Sara Marinho.

Começo por referir que fui à apresentação do livro, de que gostei muito, e que me deixou sensibilizada para a importância de livros como este. Isto porque, no momento de perguntas do público presente, alguém (que não conheço) fez uma intervenção muito emocionada. Fez-me entender o quanto um livro pode ser um amigo, uma ajuda, um exemplo.

E foi com esta ideia em mente que iniciei a leitura. Confesso que achei o início um pouco simples demais, mas a personagem principal, a Melissa, acabou por ganhar o seu espaço e transmitir uma história sobre duas perspectivas: a de quem foi vítima de uma relação violenta, mas também de quem conseguiu superar e voltar a ser feliz.

Por tudo o que referi antes, julgo que este tipo de livros tem uma missão muito importante, muito para além de contar uma história, de nos ensinar algo ou entreter. E diria até, muito para além da qualidade da escrita que não precisa de ser exímia para ser eficaz. Este é um daqueles livros que sei que recomendarei a jovens a passar pela mesma situação, porque a Melissa é uma personagem com quem é muito fácil criar empatia e, como tal, ser uma ajuda involuntária.

Senti que a leitura foi num crescendo de riqueza e qualidade que me acabou por cativar também. Afinal o sol acaba sempre por aparecer…

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Opinião... Rita Canas Mendes * A Teoria das Catástrofes Elementares

A primeira coisa que me chamou a atenção neste livro foi, sem dúvida, o título: “A Teoria das Catástrofes Elementares”. Que título original, que despertou de imediato a minha curiosidade para o seu conteúdo.

Confesso que não entrei de imediato na narrativa, levei alguns capítulos a conectar-me, mas quando tal aconteceu, foi uma leitura devorada, porque o tom da escrita criou em mim um enorme entusiasmo!

É precisamente o tom o que mais gostei aqui. Com um toque de humor/inspiração, Rita Canas Mendes tem uma forma muito própria de contar uma história, que eu apreciei muito. Ao longo destas páginas, vamos assistindo a um desfiar de memórias, numa viagem às origens da narradora, através dos inúmeros episódios que vai narrando.

Quase como se estivéssemos num serão despreocupado e alguém se fosse lembrando aqui e ali de acontecimentos e nos fosse contando. Gostei muito deste ritmo!

Está escrito na primeira pessoa, e de tal forma real que fiquei com dúvidas se seria tudo ficção…

Foi uma excelente surpresa, depois de um início mais atribulado (houve um capítulo em particular que esmureceu o meu entusiasmo, que foi depois retomado, felizmente), revelou-se uma excelente leitura!

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Opinião... Lénia Rufino * Silêncio no Coração dos Pássaros

Depois de “O Lugar das Árvores Tristes” aguardava com ansiedade o novo livro de Lénia Rufino! “Silêncio no Coração dos Pássaros” veio, finalmente, preencher esta necessidade de voltar a ler esta autora.

Posso dizer, desde já, que gostei muito desta leitura. Ainda que a escrita esteja mais madura, voltei a encontrar a Lénia nestas páginas. A forma como escreve e que tanto me encantou no livro anterior, volta a estar presente, trazendo-nos uma história completamente diferente.

Aqui temos Laura e Álvaro, um casal com uma longa relação que vamos conhecer no momento em que este casamento termina. Ao longo do livro vamos perceber o que os levou a este momento, porque as situações não acontecem por isto ou por aquilo, mas antes pelo acumular de muitas coisas…

Gostei particularmente da forma como cada personagem é real, com defeitos e virtudes, mas sem estereótipos. Não há aqui ninguém para servir de alvo à nossa revolta face à situação. Quer Laura, quer Álvaro são duas pessoas acima de tudo francas uma com a outra (apesar de um acontecimento…) e que são amigos suficientes para se tentarem ajudar no meio da sua tempestade.

Existem apenas dois apontamentos que não posso deixar de fazer, que se prendem com a forma. O uso recorrente dos parênteses que me incomodaram um pouco e a repetição da palavra silêncio no início do livro. Contudo, nenhum destes dois pontos estragou a minha leitura, que foi, de facto, muito agradável e interessante. E que deixa o leitor a reflectir no final da narrativa!

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Opinião... Luísa Sobral * Nem Todas as Árvores Morrem de Pé

Adorei a premissa deste livro. Luísa Sobral ouviu falar sobre uma história, parcialmente passada no nosso país, ainda que sobre pessoas estrangeiras e não sabendo toda a história que as trouxe até aqui, idealizou como terá sido.

Partindo de uma notícia de jornal, verdadeira, conta-nos uma história ficcionada da qual só sabe o desfecho. E não sendo uma música suficiente para esta odisseia, decidiu (e bem!) transformá-la num livro.

Tinha as expectativas altas, já que enquanto compositora, Luísa Sobral é exímia. Quem escreve canções da forma bonita como o faz, certamente também escreve uma história com a mesma riqueza. Não me enganei. Este livro é muito bonito, tem uma sensibilidade e uma doçura na escrita que me cativou desde cedo.

O livro divide-se entre duas vozes, uma na primeira pessoa, de alguém que não sabemos quem é e capítulos sobre a Emmi, na terceira pessoa. São precisos alguns capítulos para o puzzle começar a fazer sentido e as relações surgirem. E para o leitor perceber que há muita dor nesta ligação.

A história é triste, e sabemos logo no início de que forma irá acabar, mas ainda assim, a viagem que fazemos com estas personagens é muito bonita.

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Opinião... Maria Isaac * As Histórias Que Nos Matam

Este livro foi inesperado… terminei-o com a sensação que não tinha captado toda a sua essência, o que me obrigou a reler a parte final.

E ainda assim, tenho mais dúvidas que certezas, o que, atendendo ao que se passa com a personagem principal, Miguel Godói, não deixa de fazer sentido. Passo a explicar, Miguel tinha uma vida equilibrada até ao momento em que sofre um grave acidente. As sequelas foram grandes e passam, maioritariamente por perda de memória e episódios de epilepsia, entre outras coisas que não posso revelar.

A adaptação a esta nova realidade é muito dura e Miguel tem alguma renitência em admitir que as suas capacidades não são as mesmas, sucedendo-se situações de extrema confusão dentro da sua cabeça. E é precisamente neste ponto que fico, porque a sensação com que fiquei ao ler o livro foi precisamente essa, de desnorteio, sem perceber o que é realidade (ficcionada) de alucinação. Terá sido intencional?

Existem algumas pontas soltas que me fazem duvidar de várias teorias e mesmo depois de conversar com alguns outros leitores (este livro é perfeito para uma discussão amigável!), continuo com dúvidas.

Ainda assim, a escrita de Maria Isaac, que eu adoro, cuidada e bonita, com atenção a cada frase, que sem ser rebuscada é deliciosa de se ler, continua aqui. E gostei muito do pormenor do narrador, por vezes, falar directamente com o leitor. Num registo completamente diferente dos seus livros anteriores, “As Histórias Que nos Matam” deixou-me baralhada, confesso, ainda que tenha gostado muito de o ler!

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Opinião... Madeline Martin * A Biblioteca dos Amantes de Livros

Que livro bom este! Não tenho nada a apontar de negativo, já que gostei de tudo: da história, das personagens, da forma como a guerra é o cenário e não o foco principal, da relação desta mãe e filha, da escrita de Madeline Martin. Tudo é bonito aqui!

Emma tem tido uma vida complicada. Perdeu a mãe depois do parto, e foi criada apenas com o pai, que ainda assim lhe dei todo o amor. Juntos mantinham uma livraria, que ambos adoravam, até ao dia em que Emma perde tudo de um momento para o outro…

Iremos encontrar Emma alguns anos depois, sozinha com uma filha pequena, a Olivia (deliciosa!). Viúva e com esta menina a seu cargo, Emma irá ter de tomar decisões muito difíceis, já que a guerra está prestes a chegar à Inglaterra. Como lidará ela com estas decisões e com as suas consequências?

A temática do livro é muito pesada, já que ocorre num país à beira de uma guerra, numa altura em que tudo era difícil, desde obter comida, à segurança de adultos e crianças. Iremos acompanhar estas dores juntamente com Emma, uma personagem muito bem caracterizada.

Para contrabalançar toda a dor, temos a Biblioteca dos Amantes de Livros, o local de trabalho de Emma, com os seus clientes particulares, cheios de manias, deliciosas de assistir!

O livro está muito bem escrito, é cativante, as personagens são bonitas e fáceis de gostar. O equilíbrio dos temas está muito bem conseguido e a guerra, embora sempre presente não é o foco da história, antes condiciona as acções das personagens. Gostei muito disso!

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Opinião... Seichō Matsumoto * Tóquio Express

Jutaro Torigai tem entre mãos um caso aparentemente fechado. Uma jovem e um homem são encontrados mortos numa praia, no que aparenta ser um suicídio de amantes.

Mas este inspector acha que existem pontas soltas e decide investigar por sua conta, dando início a uma busca pesada e prolongada por dados que lhe permitam comprovar as suas dúvidas.

Importa referir que “Tóquio Express” foi escrito em 1958, altura em que as investigações policiais eram muito diferentes, e onde o faro e atenção dos investigadores poderia fazer a diferença. E é precisamente o que faz Jutaro, esmiuçando horários de comboio, tempos de percursos, horas de acontecimentos, de forma a construir o puzzle do que foram os últimos dias destas personagens.

Ainda que ache interessante esta abordagem, uma vez que o livro vive apenas desta investigação, a dada altura, achei-o um pouco repetitivo o que acabou por condicionar a minha opinião.

De qualquer forma, é um livro interessante, bem escrito e consigo entender quando comparam Matsumoto a Agatha Christie. Qualquer coisa na sua escrita assemelha-se à rainha do crime, no entanto, na minha opinião, Agatha conta-nos a história com maior mestria.

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Opinião... Liz Nugent * Espera Silenciosa

O grande problema de se ler um primeiro livro de um determinado autor e adorar, é que eleva a fasquia e, inevitavelmente, procuro o mesmo nível (ou superior) nos livros que se seguem.

Julgo que este foi o meu maior problema com “Espera Silenciosa”. Liz Nugent criou uma personagem incrível e memorável com a sua Sally Diamond, e com toda a história que a rodeia.

Aqui temos um livro que está classificado como thriller, mas que eu arriscaria dizer que é mais um romance de personagens, ainda que haja um crime. A sinopse não o refere, pelo que não vou aqui detalhar, no entanto, o ponto de partida do livro é, de facto, este crime. Uma morte mais ou menos acidental que vai transformar toda uma família.

Passaremos o resto do livro a acompanhar o que se sucede e a assistir ao declínio das personagens. Confesso que li o livro a aguardar o momento em que a história iria dar a volta e revelar-se outra coisa, mas tal não aconteceu… daí referir que não me parece um thriller.

Não é um livro difícil de ler, nem sequer entediante. Li com vontade e curiosidade. Mas no final da leitura, pouco fica, para além de um sabor agridoce, porque a história fica fechada, de facto, mas, para mim, com pouco originalidade.

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Opinião... Jonathan Shannon * Mil Estrelas Entre Nós

“Mil Estrelas Entre Nós” revelou-se um romance bonito e bem construído que me soube tão bem ler!

Duas personagens principais, Tom e Sophie. Ele é músico, ela astrofísica. Não podiam ser mais diferentes. Ele é sonhador e criativo, ela só acredita no que se pode provar.

Sem saberem e sem se falarem pessoalmente, passam anos na órbita um do outro, afinal o destino é muito poderoso!

Achei este romance muito bem construído, de forma inteligente e às vezes subtil, o autor conseguiu passar esta imagem de proximidade. Daquela forma que provoca um sorriso no leitor. Acresce o facto de ter inúmeras referências musicais e de física, que tornam a leitura mais rica. A teoria das cordas foi o que os juntou e é delicioso!

Sem dúvida, um romance que antes de começar a ler tive algumas dúvidas que resultasse, mas que acertou em cheio nas doses certas de amor, delicadeza, destino e humor. Gostei muito!

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Opinião... Sandra Barão Nobre * Ler Para Viver

Biblioterapia é um conceito que chegou recentemente ao meu conhecimento, mas que despertou de imediato a minha curiosidade. Terapia através dos livros, não é a leitura, por si só terapeutica? Para mim é!

Mas é, obviamente, muito mais do que isto. E Sandra Barão Nobre partilha toda a informação, de forma muito generosa, com o leitor. O desenvolvimento da biblioterapia ao longo dos tempos (mesmo quando ainda não era um conceito), o que se pensa sobre o assunto em redor do planeta, os seus fundamentos, o que é necessário aprender, de que forma os livros podem ajudar a saúde mental. Tanto que aprendi com esta leitura!

A autora partilha ainda uma lista de livros que considera importantes para determinadas doenças ou receios. Muito interessante. Li com atenção, marquei livros que li e outros que quero ler.

Em suma, temos aqui um livro de não ficção, muito bom de ler, agradável e útil e, acima de tudo, onde aprendi muito.

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Opinião... Neumar Silva * Entre Livros e Viagens

Redescobrir um local que se conhece bem, pelos olhos de alguém que o visita pela primeira vez é muito interessante! E foi precisamente a constatação deste facto que me surpreendeu neste livro.

Neumar Silva é natural do Brasil, mas depois de muito viajar, decidiu viver durante uns tempos em Portugal, mais precisamente na bonita vila de Cascais. Local que conheço bem, mas que gostei de revisitar pelos seus olhos.

Este livro tem o formato de um diário, com entradas da vivência quotidiana de Neumar. E é aqui que chegamos à parte do que menos gostei no livro. Ainda que entenda que, sendo um diário, é natural que tenha episódios banais do dia-a-dia, também acho que num formato de livro, tais situações pouco podem acrescentar ao leitor, como idas às compras ou descrição de situações imprevistas, como a queda de alguém.

É um livro pequeno, com uma escrita simples e directa, totalmente adequada ao referido formato de diário, onde destaco esta visão externa de um local que tanto aprecio e tão bem conheço.

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Opinião... Mafalda Santos * Aquilo Que o Sono Esconde

Fui em busca d’ “Aquilo que o Sono Esconde” e não estou certa se o encontrei…

Que livro desafiante este… li-o todo, com alguma sofreguidão, confesso, porque não tinha qualquer pista para o seu desfecho e senti que podia ter perdido algo pelo caminho. Por isso, dei um passo atrás, e reli as últimas cerca de 80 páginas, a partir do momento em que a solução se começa a desenhar. Mas mesmo após releitura, continuo a ter pontas soltas que não consigo unir.

O livro conta-nos a história de Jaime, um homem sem sentimentos, que trabalha numa seguradora, procurando razões para que os acidentados não recebam a indemnização a que têm direito. Chega a ser uma personagem execrável, principalmente com a namorada.

Tudo muda no dia em que deixa de conseguir dormir. A partir deste momento entra numa espiral estranha e arrasta-nos com ele.

Tendo por base as várias teorias em redor do sono e do mundo dos sonhos, Mafalda explora aqui o tema, de uma forma, diria, surrealista. Talvez por isso me seja difícil entender o todo, porque ando sempre à procura dos porquês.

Este é certamente, um livro para debater entre leitores, para tecer teorias e desafiar lógicas. E descobri que também gosto bastante disso!

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Opinião... Raphael Montes "Uma Família Feliz"

A capa de “Uma Família Feliz” refere “um thriller psicológico explosivo” e é mesmo isto… Raphael Montes tem uma capacidade de criar enredos que mexem com o psicológico, quer das suas personagens, quer dos seus leitores.

Não consigo ler os seus livros sem sentir emoções fortes, que vão da compaixão à repulsa.

“Uma Família Feliz” conta-nos a história de Eva e Vicente, um casal feliz, com uma boa situação financeira, com duas filhas gémeas e um novo bebé a caminho.

Mas nem tudo é o que parece e cedo percebemos que esta estrutura familiar tem muitas lacunas, a começar pela morte mal explicada da anterior mulher de Vicente…

O livro tem a particularidade de começar no último capítulo, para a seguir voltar ao primeiro e seguir a ordem correcta. Portanto, sabemos exactamente como o livro termina, resta saber porquê!

Posso partilhar que estive bastante convicta do rumo da história e sentia-a a percorrer esse caminho. Feliz por compreender a mente de Raphael Montes, só que não! Perto do fim o autor pregou-me uma bela rasteira e eu nem percebi de onde ela veio!

Que bom é quando isto acontece, um thriller quer-se surpreendente e cheio de reviravoltas! E Raphael Montes sabe com o fazer!

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Opinião... Madalena Sá Fernandes * Leme

Não nos deixemos iludir pelo tamanho de um livro. “Leme” não precisou de muitas páginas para se revelar um verdadeiro murro no estômago.

Foi uma leitura para a qual parti sem saber nada, nem opiniões, nem sequer a temática, e que me apanhou desprevenida, confesso.

Contado na primeira pessoa, relata-nos uma vida difícil e mostra-nos o quanto o ambiente familiar do lar de cada pessoa afecta o seu crescimento, os seus comportamentos e o seu percurso de vida.

Terminei o livro com a sensação de que se trata de um relato autobiográfico, mas não sei se o é. De qualquer maneira, a forma como está escrito leva-me a essa sensação, devido à proximidade com a experiência, muito bem feita! E, por isso mesmo, se torna tão intenso, o seu impacto.

Não me querendo alongar sobre a temática, digo apenas que é um tema demasiado actual (ainda e infelizmente) e Madalena Sá Fernandes conta-nos tudo de uma forma muito nua, mas igualmente inteligente, como um desfiar de memórias, nem sempre cronológicas, que me doeram ler, mas que, ainda assim, me fizeram gostar tanto desta leitura!

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Opinião... Jenny Jackson * A Casa de Pineapple Street

Em “A Casa de Pineapple Street” iremos fazer uma incursão à alta sociedade inglesa, através da vivência da família Stockton.

As relações entre os pais e os seus três filhos, todos já adultos, com vidas próprias e distintas, retratam o que é viver neste extracto social, onde as aparências são tudo.

A irmã mais nova, Georgiana, procura um rumo para a sua vida, actualmente fútil, enquanto se apaixona por um chefe na organização onde trabalha. Mas a vida terá duras lições para ela, que a levarão a reflectir sobre o peso que o dinheiro tem no seu percurso.

A irmã do meio é Darley, muito bem casada com o asiático Malcom, pais de dois filhos lindos e saudáveis. Aparentam ter uma vida idílica até ao dia em que Malcom perde o seu emprego e o seu modo de vida fica em causa.

Por último, Cord, o irmão mais velho, casado com Sasha, uma mulher que veio de um extracto social abaixo, e que procura, a todo o custo, adaptar-se a esta nova realidade. Eles habitam na Casa de Pineapple Street que dá título ao livro, a casa da família durante anos, mas para Sasha é pior que viver num museu…

Uma coisa que achei muito interessante neste livro é que a ambiência me remeteu inúmeras vezes para tempos mais antigos, para de repente uma personagem estar ao telemóvel, por exemplo, num choque de realidades contínuo a que achei bastante piada.

Temos aqui um romance que retrata uma família, com os seus dramas e alegrias, retratando igualmente uma sociedade elitista, que muitas vezes não aproveita o que tem para ter uma vida construtiva, perdendo-se na futilidade…

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Opinião... Jonathan Corcoran * Já Não És Meu Filho

Ao contrário da maioria dos livros que leio, já sabia ao que ia em “Já Não És Meu Filho”. Sabia que se tratava de um relato verídico, na primeira pessoa, de alguém renegado pela própria mãe por conta da sua orientação sexual.

O que procurava com a leitura? Compreender. Mas confesso, desde já, que cheguei ao final da leitura sem o conseguir fazer…

Jonathan Corcoran era o terceiro filho de uma família equilibrada e onde existia amor. Desde cedo Jonathan percebeu que não sentia o mesmo que outros meninos que o rodeavam, mas o passo de assumir a sua orientação sexual e ter um namorado veio apenas mais tarde. Quando, aos 20 anos, a sua mãe o confrontou, ele contou finalmente a verdade que o aprisionava, tendo sido renegado logo de seguida com um “já não és meu filho”.

O preconceito falou mais alto para esta mãe. E o mais triste de tudo é perceber, pelas páginas deste livro, que não só Jonathan sofreu uma vida por conta disto, como a própria mãe não conseguiu nunca ser feliz e equilibrada, dividida entre o amor a um filho e a opinião dos outros. É muito triste, todo este cenário. Uma família que não soube respeitar o próximo (tão próximo deles) e se deixou destruir.

Em termos de testemunho, este livro é muito interessante, porque Jonathan é muito directo e simples na forma de contar a sua história, com factos e sentimentos à mistura, como não podia deixar de ser. Enquanto obra literária, ficou um pouco aquém, essencialmente porque, na minha opinião, peca pela repetição de ideias.

Felizmente em todas as histórias há o reverso da moeda, e Jonathan encontrou no seu companheiro Sam um homem compreensivo, respeitador e amigo.

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Opinião... Liane Moriarty * A Qualquer Momento

Será que o que nos faz viver de uma forma leve e despreocupada é o facto de não sabermos quando nem como vamos morrer?

E, se de repente, soubéssemos? Como iriamos reagir?

Este é o mote de “A Qualquer Momento”. Numa determinada viagem de avião, a meio do voo, uma senhora de idade indefinida levanta-se do seu lugar e vai percorrendo o avião indicando a cada um dos outros passageiros a data da sua morte e a causa da mesma.

As reacções são diversas, se alguns se riem e levam o assunto como uma piada, há quem ache pouca graça e fique muito assustado. De qualquer forma, de uma maneira ou de outra, quando aterram, tentam deitar o assunto para trás das costas e seguir com as suas vidas. Até ao dia em que a primeira morte se concretiza… Ainda assim poderia ser uma coincidência, todos os dias morrem pessoas, mas quando a segunda e terceira ocorrem, uma espécie de pânico geral percorre todos os envolvidos que começam a repensar as suas atitudes e a tentar contornar a “sua causa de morte”. Será ela contornável?

Pensei inicialmente que se tratava de um thriller, no entanto, temos antes aqui um romance, que explora esta vertente humana face à morte, de forma muito inteligente.

Embora não tivesse achado o final ao mesmo nível que todo o livro, gostei bastante de o ler, tendo-me feito reflectir sobre este assunto. É bom quando um livro levanta questões que são presença no nosso dia-a-dia, mas que raramente paramos para pensar sobre elas.

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Opinião... Rafael Gallo * Dor Fantasma

Faz já algum tempo que não lia um livro que me transmitisse a intensidade de “Dor Fantasma”. Este livro surpreendeu-me muito pela forma impactante como a leitura me atingiu.

Partindo de uma obsessão, o autor conta-nos a história de Rômulo Castelo, um pianista virtuoso, que não aceita nada menos que a perfeição. E é em busca desta perfeição que passa os seus dias, em detrimento do tempo com a família ou amigos. Para Rômulo tudo o que conta é conseguir concretizar um sonho, tocar ao vivo a peça intocável de Liszt, o que acontecerá em breve aquando da sua digressão pela Europa.

No entanto, o destino tinha outro rumo traçado e um acidente irá mudar definitivamente a vida de Rômulo. Como é que alguém que dedicou todo o seu tempo a um objectivo reage quando esse objectivo se torna, de súbito, inalcançável?

É este percurso que vamos acompanhar, sofrendo com esta personagem que chega a ser execrável, provocando-nos um misto de indiferença e pena.

Achei esta leitura muito difícil em todos os sentidos, quer pela temática, quer pela forma como está escrita, que ainda que muito bonita, é exigente.

Mas, sem dúvida, vale todo o esforço, temos aqui uma grande obra, que me fez entender de imediato o porquê de ter sido vencedor do Prémio Literário José Saramago 2022.

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Opinião... Jeneva Rose * O Casamento Perfeito

Imaginem uma mulher, advogada de sucesso, com um casamento estável. Certo dia, esta mulher, Sarah, recebe um telefone do marido, que se encontra preso e precisa que ela o defenda. Do quê? Da acusação de homicídio da sua amante!

De uma assentada, Sarah descobre a traição de Adam e a situação crítica em que este se encontra, já que todos os indícios apontam para ele.

Temos aqui um thriller que se fundamenta numa questão ética e moral que dá que pensar. Sarah deverá defender o seu marido, defender a sua inocência ou deverá voltar-lhe costas já que ele a traiu?

É, sem dúvida, um tema interessante e perturbador. E é igualmente perturbador perceber o desenrolar desta história, que habilmente nos encaminha numa direcção para depois percebermos a astúcia da autora. Gostei disso!

Já não apreciei tanto o final, talvez por ter lido já muitos thrillers, pareceu-me uma resolução algo batida e “fácil”, que não antevi de início, mas que, a partir de dada altura, se tornou óbvia. Este facto acabou por esmorecer um pouco o meu entusiasmo com o livro.

Ainda assim, estive sempre interessada na história, curiosa com o desenrolar e, sem dúvida, entreteve.

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Opinião... Lize Meddings * O Clube Sad Ghost

Felizmente a saúde mental tem, progressivamente, deixado de ser um tema tabu, para ser abordado em várias vertentes, entre elas, a literatura.

Em “O Clube Sad Ghost”, não só temos esta temática num livro, como ainda se trata de uma novela gráfica, o que poderá captar leitores mais jovens, na faixa etária dos protagonistas deste livro.

Sam é um menino triste, isolado, introvertido. Para ele, sair de casa e conviver é uma dura batalha interior. Certo dia, convidam-no para uma festa de adolescentes e ele decide ir enfrentando os seus medos. Mas Sam é um fantasma, uma pessoa invisível no meio da multidão, e por muito que se esforce não consegue integrar-se num grupo, fazer parte da piada e não ser o mote dela.

Neste dia, volta a acontecer, mas, de súbito, vê outro fantasma, isolado no meio da sala. A medo, aproxima-se e ambos acabam por perceber que conseguem comunicar entre si, o que não conseguem com os outros…

Esta analogia aos fantasmas é brilhante. De facto, existem jovens que se sentem como tal e que sofrem com isso. É importante que a mensagem lhes seja transmitida. Não há mal nenhum em ser introvertido, nem em não ser o rei da festa. Encontrar pessoas com quem se identifiquem e com quem possam ser eles próprios, é o que realmente importa. É esta a mensagem, bonita e importante, deste livro.

O desenho é muito simples, com poucos detalhes extra personagens, mantendo o foco nas suas conversas e reacções. Também isso foi criado de forma muito inteligente!

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Opinião... Christina Lauren * Amor Real à Prova

Fizzy Chen, a protagonista deste livro, que vive uma ausência total de criatividade quer na sua escrita, quer na sua vida amorosa, refere a dada altura que se vais escrever um livro que todos sabem como começa e como acaba, tens de ter um meio cativante que prenda o leitor até ao final.

E foi precisamente isso que fizeram Christina Lauren, neste “Amor Real à Prova”. Conhecemos a escritora Fizzy e o produtor televisivo Connor, percebemos de imediato a química, ficamos a assistir aos seus encontros e confrontos, apenas à espera do final feliz!

Connor tem em mãos um grande desafio, habituado a produzir programas sobre vida selvagem é agora obrigado a criar um reality show amoroso. Totalmente fora da sua zona de conforto, irá encontrar em Fizzy a protagonista ideal para encontrar o seu par num programa televisivo de grandes audiências.

Fizzy é aquela personagem sem filtros, que diz e faz tudo o que pensa, o que torna este livro um pouco apimentado, enquanto consegue arrancar vários sorrisos e até algumas gargalhadas ao leitor. O mundo dos reality shows é algo relativamente recente, mas que já se impôs na sociedade moderna, e é aqui abordado de forma muito inteligente.

Temos um romance que entretém, com duas personagens principais amorosas, das que gostamos de gostar e por quem torcemos, enquanto aguardamos pelo referido final feliz. No que toca a entretenimento, este livro cumpre perfeitamente o seu propósito.

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Opinião... Francesca Giannone * Amanhã, Amanhã

Descobri Francesca Giannone com “A Carteira” e fiquei fã. A escrita, a história, as personagens (memoráveis), tudo é bom naquele livro. Parti, portanto, para a leitura de “Amanhã, Amanhã” com as expectativas bastante altas.

E, a verdade é que a escrita se mantém bonita e com aquele toque charmoso dos italianos. Foi um deleite percorrer estas páginas até quase ao final. E é aqui precisamente, no final, que está o cerne da questão…

Se este livro tiver continuação, estou pronta para acompanhar Agnese e Lorenzo e a sua paixão pelo legado do avô, a fábrica de sabonetes. No entanto, se for um livro único, fico com uma sensação muito agridoce, já que o final não me satisfez. Poderá subentender-se algumas coisas, mas faltou-me tudo o resto…

Temos aqui uma história de família, centrada em dois irmãos, para quem a Casa Rizzo é tudo. Criado pelo seu avô, é o negócio de família que apaixona Agnese e Lorenzo, ainda que de maneiras diferentes. Enquanto Agnese trata de tudo o que se relaciona com a produção do sabonete, desde os aromas aos seus componentes, numa quase magia alquímica, Lorenzo é mais virado para o mercado e para as vendas, chegando a desenhar a publicidade da marca.

Um revés que veio de dentro da própria família irá desequilibrar esta estrutura e afastar os dois irmãos que pensam de maneira muito diferente, e que se reflete no seu percurso de vida a partir daí.

Gostei muito de conhecer esta família, muito bem descrita por Francesca, no entanto, como referi, o final fez esmorecer (em muito) o meu entusiasmo com o livro como um todo.

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Opinião... Louise Candlish * Nas Alturas

Louise Candlish apresenta em “Nas Alturas” um thriller com uma boa dose de vingança e ódio, mas acima de tudo, de acções movidas pelo amor de uma mãe.

Há tantas atitudes e decisões, principalmente no início do livro, que levantam tantas bandeiras vermelhas! A dada altura tinha vontade de lhes gritar: “parem, por favor!”. Assistir sem poder intervir é deveras angustiante!

Ellen está na casa de uma cliente quando olha pela janela e vê um homem que conhece no terraço do prédio em frente. O problema? Para Ellen, aquele homem estaria morto há dois anos!

É este o ponto de partida que nos leva a conhecer esta história, repartido entre o presente, depois de Ellen ver Kieran, o homem supostamente morto e o passado conturbado.

Gostei bastante deste thriller, principalmente de alguns elementos que o diferenciaram, por exemplo, a fobia que Ellen tem às alturas (não no sentido da vertigem, mas sim da compulsão para saltar), ou os capítulos curtos intercalados no todo, relativos a aulas onde se aprende a escrever a própria história, quando a mesma se reveste de contornos trágicos e obscuros.

Os volte face são vários e bem construídos, algo imprevisíveis e a questão que se levanta com os diferentes pontos de vista, dependendo de quem narra, ainda que todos tenham vivenciado a experiência, são também eles muito interessantes.

Em suma, gostei bastante desta leitura, com conteúdo rico, mas que entretém e me manteve sempre presa a estas páginas!

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Opinião... Holly Ringland * As Sete Peles de Esther Wilding

Como eu me delicio com livros como “As Sete Peles de Esther Wilding”. Livros com uma história boa, desenvolvida de forma exímia, com personagens bem construídas, sem pressas. Com imensos detalhes e informações que enriquecem o todo. Até papagaios do mar vamos encontrar aqui!

Se eu já tinha gostado muito de “As Flores Perdidas de Alice Hart”, voltei a adorar a escrita de Holly Ringland. A capa já denuncia muita da magia que o interior esconde, com pitadas de mitologia, histórias locais, tradições e costumes. Para mais, a acção desenrola-se entre a Tasmania (!), Austrália, Dinamarca e Ilhas Faroé, tudo destinos incomuns na literatura.

A história base é triste, mas é um percurso de luto que leva estas personagens sofridas à compreensão, tão necessária e importante.

Aura e Esther Wilding são irmãs. Aura entre mar adentro e nunca mais é encontrada e a irmã sente a sua vida condicionada por esta dúvida. O que aconteceu à irmã que a levou a esta decisão drástica? É em busca de respostas que parte para a Dinamarca, país onde Aura viveu durante 3 anos e meio e de onde regressou sem alma...

Adorei cada página deste livro, que para mim foi um daqueles para saborear, devagar. Acontece tanto nestas páginas!

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Opinião... Buzzy Jackson * A Rapariga de Cabelo Vermelho

Hannie Schaft destacou-se pela sua ousadia e coragem, durante a Segunda Guerra Mundial.

Holandesa, Hannie, apesar de não ser judia, rapidamente viu a sua liberdade condicionada pela vontade alemã, ao mesmo tempo que assistia à perseguição a duas das suas melhores amigas, elas sim, judias.

Hannie não se conformou com a situação e decidiu aliar-se à resistência, assumindo um importante papel nesta organização. A sua coragem e bravura fizeram história, agora retratada neste “A Rapariga de Cabelo Vermelho”, isto porque Hannie era ruiva e foi assim que ficou conhecida entre os oficiais nazis.

Tratando do tema que trata, obviamente que temos aqui um livro muito duro, com situações limite, quer físicos, quer mentais. Hannie é, sem dúvida, um exemplo do que é lutar pelo que se acredita. Nesta perspectiva, gostei muito deste livro, assim como da forma como está escrito, com muito detalhe, de forma nua a crua, como o tema exige.

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Opinião... Mafalda Santos * Conta-me, Escuridão!

Mafalda Santos é um caso sério de escrita em Portugal. Porquê? Por conta da sua imaginação fora da caixa, dos meandros ficcionais em que se move e pela forma como narra a história.

Desta feita, em “Conta-me, Escuridão”, tem ainda um ponto a favor adicional. A ideia para o livro nasceu de um desafio conjunto entre a Mafalda e David Benasulin. Partindo de quadros conhecidos, David reinterpreta-os pelo seu traço e Mafalda pelas suas palavras.

O resultado são 8 histórias curtas, que se movimentam nos meandros do horror, com cenas quase claustrofóbicas, a fazer lembrar sonhos perturbadores de onde não conseguimos sair.

Achei a ideia muito bem conseguida e concretizada. Se algo tenho a dizer, prende-se com um gosto pessoal, que me impede de adorar tudo o que são histórias curtas ou contos, porque fico sempre com sede de mais. No entanto, face à premissa, julgo que todas elas têm o espaço totalmente adequado e é incrível revisitar o quadro depois de ler a história. Está tudo lá!

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Opinião... Beatrice Salvione * A Malnascida

Cruzei-me com “A Malnascida” na Noite da Literatura Europeia, já que este livro foi o representante de Itália naquele evento, no ano passado. A pequena passagem que ouvi, interpretada pela atriz Carolina Amaral, conquistou-me de imediato!

“A Malnascida” conta-nos a história de Maddalena e de Francesca, duas meninas que criam um forte laço de amizade ainda que inesperado. Maddalena é a malnascida que dá título ao livro, já que estava sozinha em casa com o irmão, quando este caiu da janela e morreu. Ficou então ligada a este estigma da pouca sorte, fazendo todos afastarem-se. Todos menos Francesca, uma menina proveniente de uma família mais abastada, que contrariando regras e convenções, prefere a companhia da Maddalena, no meio do rio ou da lama, a estar vestida com laços e rendas.

A relação de amizade destas duas meninas é, de facto, o ponto central do livro, e mostra-nos como amizades de infância são as mais fortes, porque nascem do coração.

A escrita de Beatrice Salvioni é muito italiana, se assim posso dizer. Sente-se o espírito daquele país em cada página do livro, o que me fez gostar ainda mais desta história, que sabemos desde o início, não é feliz. E ainda assim, não queremos deixar de acompanhar estas duas personagens que têm uma força incrível, mesmo contra uma sociedade marcadamente masculina!

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Opinião... Rita da Nova * Quando os Rios Se Cruzam

Estreei-me com Rita da Nova com este seu último livro “Quando os Rios se Cruzam” e foi uma excelente estreia!

Itália é um país a que associo, de imediato, sonhos. E para Leonor, ir para Erasmus em Turim não foi mais do que a concretização do sonho de se libertar da opressão da mãe. O seu pai emigrou há vários anos e, a partir dessa data, a mãe de Leonor aproveitou-se da situação para exigir da filha muito mais do que devia.

Será em Turim que Leonor irá dizer sim a tudo (mesmo ao que não deve), num quase grito de Ipiranga, ainda que com o anjinho bom a sussurrar frequentemente, porque na verdade ela é uma boa menina. Mas até às boas meninas acontecem tragédias e aqui sabemos desde o início que aconteceu uma, só não sabemos o quê...

E é neste suspense que vamos vivendo as páginas do livro, ansiando e temendo em doses iguais o que terá sucedido. E ainda que prevenida, posso dizer que me apanhou de surpresa e incomodou!

Gostei muito da escrita da Rita, fácil de acompanhar, ainda que bonita e adorei sentir Itália nestas páginas. Conheço algumas cidades deste país, mas não Turim, que, terminada a leitura, entrou na lista de locais a visitar!

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Opinião... Jenny Colgan * A Livraria dos Segredos

Jenny Colgan é um dos meus guilty pleasures literários. Sempre que é editado um novo livro da autora, quero muito lê-lo de imediato.

Foi o que aconteceu com “A Livraria dos Segredos”. E, de facto, foi como regressar a um lugar de conforto, onde conheço os cantos à casa e não antecipo surpresas. Mas, ainda assim, me sabe tão bem!

Carmen não está a viver dias fáceis, perdeu o seu emprego e deixou de ter forma de se sustentar. Para complicar ainda mais a sua vida, a sua irmã Sofia aparenta ter uma vida de sonho, tornando inevitáveis as comparações dos pais... E será a irmã que lhe vai arranjar uma solução, ao propor-lhe reerguer uma livraria à beira da falência, já que o seu dono, embora amoroso, quer mais falar sobre livros do que vendê-los!

Obviamente que pelo meio teremos romance, com os devidos malentendidos, típicos deste tipo de livro. Carmen acaba por ser uma daquelas personagens de que inevitavelmente gostamos, porque não tem maldade, apenas inocência.

Jenny Colgan volta ao seu registo, com a cereja no topo do bolo de envolver uma livraria, o que torna qualquer livro logo mais especial, oferecendo aqui um romance bonito e quentinho.

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Opinião... Carmen Mola * A Besta

Se há leituras que me enchem as medidas, são as de livros como este, onde as descrições são tão vívidas que me sinto lá, vejo os locais, sinto os cheiros, percebo as personagens, reajo ao seu desespero até.

Aqui, os Carmen Mola, levam-nos até Madrid, em 1834, quando a cidade se encontra assolada pela cólera. Tudo é imundo, pobre, doente e, como se não bastasse, há alguém ou algo, consoante as crenças populares, a atacar meninas, deixando-as aos bocados nas ruas da cidade. Ninguém sabe quem é a Besta, mas Diego é um jornalista que não quer deixar morrer o caso e encontra na jovem Lucia o fio condutor que precisava.

A personagem de Lucia é incrível, pela forma como a sua vida se desenrola, mas também pela forma como ela reage a cada adversidade.

Temos aqui um livro que está classificado como thriller, mas que, na minha opinião é mais um romance de época, muito bem construído, com personagens fortes e com pitadas de acção, bastante bem doseadas ao longo de todo o livro, mas sem picos de adrenalina. E com isto não estou a fazer uma crítica, mas um elogio, apreciei muito mais a leitura desta forma!

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Opinião... Cho Nan-Joo * Kim Jiyoung, nascida em 1982

Kim Jiyoung tem 33 anos e está à beira do colapso. Mãe de uma menina de pouco mais de 1 ano, começa a ter comportamentos estranhos, adquirindo a personalidade de pessoas que lhe estão próximas.

O marido, preocupado, leva-a ao médico, e faremos com eles uma viagem retrospectiva do que foi a vida de Kim até ao momento, ficando claro o porquê das suas atitudes.

Trata-se de um livro duro que expõe o que é o papel da mulher na sociedade coreana, toda a luta das mulheres que têm à sua responsabilidade família, trabalho, filhos, sendo simultaneamente alvo de assédio descarado, numa total falta de respeito.

Gostei particularmente da forma como trata o tema da depressão/esgotamento, numa perspectiva pouco convencional, com um final que é um soco no estômago. Afinal, os círculos viciosos repetem-se infinitamente…

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Opinião... Rodrigo Guedes de Carvalho * Matarás um Inocente e Dois Culpados


Quando gosto de um autor, tenho por hábito não ler as sinopses dos seus livros. Sei que quero ler, portanto, prefiro até ir à descoberta.

Foi o que voltei a fazer com o novo livro de Rodrigo Guedes de Carvalho, “Matarás um Inocente e Dois Culpados”, mas logo às primeiras páginas pensei que me tinha enganado e estava a ler novamente “As Cinco Mães de Serafim”. Confesso que fiquei muito baralhada, até perceber que este livro dá continuidade àquela história, fazendo um enquadramento completo para que quem não a leu, a possa perceber.

Este foi um dos pontos que menos gostei do livro, porque tendo lido o anterior, passei várias páginas com a sensação de dejá vú. Compreendo o porquê, mas não contribuiu positivamente para a minha experiência de leitura.

Retomamos então a história de Miguel Serafim que, aos 10 anos, perdeu as suas quatro irmãs de uma assentada. A mais velha desapareceu e as outras três morreram no mesmo dia, há 50 anos, precisamente no 25 de Abril de 1974.

Miguel tem hoje sessenta anos, mas continua a carregar o peso desta desgraça que assolou a sua família e será agora, finalmente, que vai descobrir toda a verdade. Nunca ele poderia imaginar tudo o que realmente se passou.

Se por um lado, retornei à escrita de Rodrigo Guedes de Carvalho, que adoro e me delicia, por outro, não achei este livro totalmente necessário. É certo que gostei de saber os pormenores dos acontecimentos, mais ainda da forma como o autor escolhe contar, utilizando acontecimentos e situações reais, incorporadas na narrativa de forma sublime.

Parece-me que este livro precisará de uma releitura daqui a uns anos, quando os pormenores já me escapem, acredito que saborearei esta leitura de outra forma, nessa altura.

Opinião... María Martínez * O Que a Neve Sussurra ao Cair

 


Este livro talvez tenha a capa e o título mais bonitos do ano. Ficou de imediato reservado para ser lido nos dias em torno do Natal, altura em que procuro uma leitura fofinha, de conforto.

Acertei em cheio, ainda que o livro não seja tão leve quanto a capa poderia mostrar.

Ainda assim, adorei conhecer estas personagens: Hunter e Willow, duas pessoas marcadas pela vida, de maneira diferente, mas igualmente profunda. Se Hunter enfrenta a dúvida das suas origens, depois de passar uma vida a sentir-se a mais na família, Willow sente-se usada e abusada por todos quantos a rodeiam e decide afastar-se, indo viver uns tempos com a sua avó.

É nesta localidade que se vão encontrar e o primeiro impacto não vai ser positivo, antes pelo contrário… Uma série de mal-entendidos rapidamente vão criar uma relação de ódio bilateral. Mas já se sabe bem como funcionam estas coisas, não é? Ultrapassada esta barreira imaginária, ambos vão perceber o bem que se querem e que fazem um ao outro.

Temos aqui, portanto, temas difíceis, abordados de forma directa com as suas consequências nas personagens bem expressas na forma como agem. Mas temos também acção muito amorosa, o crescimento de uma relação que, longe de perfeita, é bonita.

Foi, de facto uma excelente altura para ler este livro e adorei de que forma o título está integrado na história. O que será que a neve sussurra ao cair? Terão de ler para descobrir…

Vai valer a pena, se procuram um romance bem escrito, mas leve, com personagens ricas, com vários estados de espírito (não é isso a vida?) e com um enredo típico de um bom romance, então o livro de María Martínez é uma excelente sugestão.

Opinião... Afonso Cruz * O Livro do Ano

 


“O Livro do Ano” de Afonso Cruz habitava já a minha estante há vários anos. Soubesse eu que o leria em menos de uma hora e já o teria lido há muito…

Li agora e honestamente, não sei muito bem o que dizer sobre ele. É um livro simples, com ilustrações muito bonitas e algumas frases tocantes. Algumas, não todas, na minha opinião.

Não dei o meu tempo de leitura por perdido, foi um momento agradável, mas não memorável. Confesso que não esperava o conteúdo, ainda que seja um belíssimo objecto, mais ainda pelas ilustrações.

Ainda assim há uma frase que me tocou muito, que aqui transcrevo: "Para aquecer o corpo, o melhor é uma lareira. Mas, para aquecer a parte de dentro do corpo, o melhor é ler." Ler é sempre o melhor remédio!