Opinião... Elisabete Martins de Oliveira * Onde as Garças Voam


Não posso deixar de começar por falar na capa e no título deste livro. Achei ambos incríveis, tendo despertado de imediato a minha curiosidade. “Onde as Garças Voam”? Onde? Porquê?

Se já queria conhecer a escrita de Elisabete Martins de Oliveira, que se estreou com “Um Muro e uma Cerca”, que ainda não li (ainda, atenção!), a curiosidade levou a melhor desta vez.

E ainda bem! Gostei muito deste livro, e foi, sem dúvida, um “abre-olhos”. Porque estas personagens passam por acontecimentos que não queremos acreditar que sejam possíveis de acontecer a qualquer um de nós, mas que são, no entanto, totalmente plausíveis!

Elisabete coloca esta personagens numa situação complicada e mostra-lhes um rumo, um caminho doloroso, mas, ainda assim, um caminho. E foi todo este desenvolvimento o que me fez gostar tanto deste livro. Isso e a escrita de Elisabete, simples, mas simultaneamente bonita e completa.

Matilde e Duarte são um casal de classe média, a residir numa vivenda em Lisboa, com dois filhos, a menina diagnosticada no espectro do autismo. Lutaram por uma vida mais confortável e conseguiram alcançar parte dos seus objectivos até ao dia em que Matilde perde grande parte da sua fonte de rendimento, logo seguida de Duarte. Este casal vê-se, de repente, sem fontes de rendimento e sem uma rede de apoio que os suporte neste momento mais difícil. E é a partir daí que começam a traçar planos imediatos dos passos a seguir para enfrentar esta crise, sempre com um objectivo em mente, fazer com que os seus filhos sejam o menos afectados possível.

É angustiante, acreditem! Principalmente quando é tão fácil colocarmo-nos nos seus sapatos e perceber que o que lhes aconteceu pode acontecer a qualquer pessoa, que a situação foge ao controlo muito rapidamente e as consequências são dramáticas.

Foi, por isso, uma leitura muito boa, mas que me deu que pensar. O que é sempre um objectivo concretizado numa obra com temáticas como esta. Resta-me agora ir ler o livro anterior da autora. Depois desta descoberta, não o posso, obviamente, dispensar.

Opinião... Rochette * O Lobo


Determinadas novelas gráficas, mais ainda do que livros de literatura, gritam por mim, sem motivo aparente. Apenas pela capa. E este “O Lobo” já me andava a tentar há demasiado tempo. Rendi-me e li-a. Ou deveria dizer, rendi-me e deliciei-me com esta história?

Confesso que não fiquei de imediato encantada com a arte, assim que iniciei a leitura. Aprecio linhas mais precisas, traços mais delicados. Mas à medida que o argumento me foi absorvendo, as ilustrações complementaram-no de forma perfeita, fazendo-me esquecer a sensação inicial.

Temos um pastor e um lobo. Este lobo perdeu a mãe, ainda muito jovem, às mãos do dito pastor, o qual, por sua vez, perdeu parte do seu rebanho (e, consequentemente, do seu rendimento) pela boca da loba. O ciclo é vicioso, e o sentimento de vingança também…

São estes dias frios, no meio dos Alpes, num clima inóspito e em condições extremas de sobrevivência que vamos acompanhar esta luta desafiadora entre homem e animal.

A dada altura, temi um final trágico para todos, um desfecho onde ninguém ganha. Mas Rochette tinha outros planos e gostei muito quer das opções, quer do caminho que tomou até chegar a elas.

É um livro que se sente: sente-se o frio, acima de tudo, o isolamento das montanhas, a raiva, a sede de vingança, o vazio depois desta. Às primeiras páginas não acreditei vir a gostar tanto deste livro, mas a verdade é que me soube conquistar. Definitivamente!

Opinião... José Rodrigues * O Quinto Pescador


“O Quinto Pescador” marcou a minha estreia com o autor José Rodrigues. Já muito ouvi falar dos seus livros, da sua escrita e agora percebo porquê.

Porque, de facto, a escrita é o ponto forte deste livro. A forma cuidada como o José construiu estas personagens e este enredo, ainda que não o ache totalmente original, conseguiu cativar-me e fazer-me perder nestas páginas.

Francisco é a nossa personagem principal. Um homem perdido, depois da tragédia que o assolou, quando a mulher e os dois filhos pequenos sofreram um fatídico acidente de carro, para mais no seu dia de aniversário. Francisco está sem rumo, e decide viajar sem destino. Mas foi esse mesmo destino que quis que parasse em Luzinha, uma localidade pequenina, onde encontrará o que não procurava…

Este livro é uma ode ao amor, ao poder redentor que este tem sobre um coração e uma alma destroçada. As relações de amizade que se desenvolvem, a forma como os afectos são descritos, tornam esta leitura num deleite e fizeram com que “O Quinto Pescador” ganhasse um lugar especial no meu coração de leitora.

A escrita, como referi, é muito bonita, há cuidado com as palavras, com a forma como são entregues. Sente-se! Este livro tem ainda, no início de cada capítulo, uma fotografia, que o autor menciona terem sido tiradas de propósito para o livro e que, de alguma forma, complementam a história. A preto e branco, criam uma aura quase mística em redor de Luzinha, de Francisco, de Pedro e do cão Rafa.

Uma história triste, mas bonita em simultâneo. Uma homenagem ao poder que um coração puro pode exercer sobre um coração ferido. Muito bonito!

Opinião... Fran Littlewood * A Incrível Grace Adams


Gosto de espreitar o Goodreads antes de iniciar uma leitura. Gostos não se discutem, mas quando a classificação é resultado de inúmeras opiniões, a média é indicativa de algo. Por isso, foi com surpresa que vi que “A Incrível Grace Adams” tinha uma classificação mediana, mais ainda quando a sinopse me tinha chamado tanto a atenção.

Parti para a sua leitura com alguma cautela, no entanto, esta foi rapidamente deitada por terra, porque Grace Adams conquistou-me logo às primeiras páginas. A sua loucura/audácia é cativante, de uma forma inesperada. Para mais, Grace tem uma idade próxima da minha e aborda temas que não se encontram recorrentemente na literatura (o melhor exemplo, a perimenopausa).

A história de Grace é-nos contada em três tempos, o primeiro na actualidade, onde acompanhamos a odisseia de uma mãe que quer, a todo o custo, chegar junto da filha que faz 16 anos e com quem está de relações cortadas. Recuamos mais de 20 anos para assistir ao início da relação entre Grace e Ben, que gerou a adolescente aniversariante Lottie. Pelo meio recuamos apenas uns meses, ao momento em que algo aconteceu levando à destruição da relação de mãe e filha.

A construção de toda esta narrativa foi feita de forma muito inteligente. Se no presente temos uma acção lenta e frenética em simultâneo, quase como se fosse a sensação de um sonho onde pretendemos alcançar algo, mas nunca lá chegamos.  No passado a acção decorre num ritmo mais constante e previsível. Já os meses anteriores, escondem verdades inesperadas que me apanharam de surpresa.

Adorei esta personagem. Real acima de tudo, humana, sofrida, verdadeira. Expressa por actos o que muitas vezes nos passa pela cabeça, mas não executamos porque parece mal. Grace é uma mãe em sofrimento, uma mãe que pretende reconquistar a filha, uma mulher que precisa de recriar um rumo, há muito perdido. Toda a teia a fechar-se e a revelar todos os acontecimentos que tiveram consequências, levam o leitor numa roda-viva.

Não esperava gostar tanto desta história, mas a verdade é que Grace Adams ficou e ficará comigo. Uma personagem daquelas que adoro adorar! E a média no Goodreads vai crescer um bocadinho 😊

Opinião... André Fernandes * As Sete Carruagens

 


A premissa deste livro deixou-me de imediato curiosa. Um metro, sete carruagens, e a cada novo dia, a personagem principal, René, revive uma e outra vez a mesma rotina, tendo a acção lugar em cada uma das diferentes carruagens.

E é precisamente aí que os dias variam uns dos outros, já que as pessoas com que interage em cada carruagem são diferentes e o diálogo é, também ele, distinto.

E chego aqui ao cerne da questão, já que achei estes diálogos muito forçados, com um objectivo, é certo, mas sem qualquer subtileza. Ao ponto de me parecer estar a ler um livro de ajuda e não um romance.

A temática que aborda é muito interessante e importante. Não vou revelar qual é, porque é parte do encanto da narrativa, mas acredito que possa ajudar leitores. Da mesma forma, o conteúdo dos diálogos que mencionei acima são, também eles, de extrema importância. Um alerta, uma aprendizagem, uma ajuda. Mas não são diálogos realistas, que se enquadrassem na acção em curso. E foi este o ponto que me incomodou e fez gostar menos da leitura.

A escrita é simples, fácil de ler e compreender e existe sensibilidade na mensagem. Não quero com as minhas palavras tirar valor ao livro, não seria justo. Só não concordo que lhe chamemos romance…

Opinião... Stephen King * Carrie


Confesso, ler Stephen King causa-me receio… Não consigo evitar ir a medo para um livro seu. E este “Carrie” estava talvez no topo dos mais temidos. Afinal sem razão! Embora seja um livro difícil, com uma temática dura, não me provocou insónias!

Publicado em 1974, celebra agora 50 anos… É obra! Não posso deixar de falar sobre esta edição tão bonita, como também não posso deixar de mencionar que embora tenha adorado ler as palavras de Margaret Atwood no prefácio, apanhei uma série de spoilers… É certo que tive 50 anos para conhecer a história, mas a realidade é que não a conhecia e preferia tê-lo lido como posfácio. Fica o alerta para quem ainda não leu.

Carrie é uma menina que nunca teve uma vida feliz. Primeiro às mãos da mãe, depois dos colegas, foi eternamente mal-tratada e vítima de bullying. É também desde cedo que percebe que a força da sua mente é poderosa…

Carrie irá crescer, sempre neste ambiente, sempre alvo de chacota, sempre mal-amada pela sua própria mãe e, no seu interior, a revolta vai crescendo e crescendo até se tornar intolerável e o pior acontecer! E quando acontece tudo é catastrófico e incontrolável!

A escrita de King é muito peculiar, cheia de apartes que tornam o ritmo de leitura diferente, mas não menos interessante. É um livro pesado, mas de leitura viciante. E fez-me pensar o quanto foi corajoso, pelos temas que abordou (e pela forma como o fez), há 50 anos, quando as mentalidades e liberdades eram outras! Não será por acaso que resistiu até aos dias de hoje, continuando a conquistar leitores e, inclusive, com adaptações para filmes.

Pela minha parte, dispenso ver o filme, parece-me que visualmente esta história será demasiado para mim, mas quanto ao livro foi uma bela surpresa. A partir de dada altura, dei por mim a lê-lo freneticamente e a não querer parar enquanto não cheguei à última página. O que, basicamente, diz tudo!

Opinião... Filipa Fonseca Silva * Admirável Mundo Verde


Já não lia uma distopia há bastante tempo. Aliás, não é um género literário frequente para mim. Talvez por isso, e talvez influenciada por outras distopias mundialmente famosas que li, esperava um rumo diferente para este livro.

Filipa Fonseca Silva oferece-nos este “Admirável Mundo Verde”, uma história sobre o mundo que nos rodeia, e o quanto maltratamos este bonito planeta. O tema é mais do que actual e urgente, basta ligar a televisão e assistir aos telejornais. Alterações climáticas, o não atingimento dos valores acordados em Paris, o quanto o poder político se sobrepõe às necessidades mundiais…

Nesta história, temos Laura, uma jovem que acredita que é preciso mais do que palavras, e que decide, em conjunto com outros que pensam como ela, agir. Mas a forma como o fazem é extremada e as consequências imprevisíveis. Até porque falamos de seres humanos, e nem sempre os objectivos iniciais são os mesmos quando se atingem outros patamares de poder…

Avançamos três anos na história e vamos conhecer Billie, ou melhor, Joana. Actualmente, dá pelo nome de Joana e foi amiga próxima de Laura. E será através dos olhos de Billie que vamos conhecer esta nova sociedade e o que foi o caminho até aqui.

Como referi, esperava um rumo diferente para este livro. Se comecei a adorar toda a construção, as personagens, os acontecimentos, a dada altura, a narrativa evoluiu para acções que não esperava e que me levantaram mais questões do que responderam às minhas dúvidas… Não é necessariamente mau, mas fui surpreendida e deixou-me confusa quando conclui a leitura.

De qualquer forma, o tema é necessário e ainda pouco abordado na literatura e este livro é um excelente ponto de partida para uma discussão profunda sobre a temática. Poderá até ser um bom livro para debater num clube de leitura, onde os spoilers não existem e é possível falar abertamente do tema. Fica a sugestão.

Opinião... Aimée de Jongh * Dias de Areia


 Aprendo tanto com os livros! Aprendo outras perspectivas de vida, outras culturas, viajo até locais onde nunca fui fisicamente. No caso de “Dias de Areia” aprendi sobre um acontecimento de que nunca tinha ouvido falar…

Dust Bowl é o nome do fenómeno climático, que ocorreu nos Estados Unidos da América, em 1930 e que durou 10 anos. Em plena Grande Depressão, e depois de uma seca severa e de falhas nos processos de cultivo que tornaram a terra árida, enormes e contínuas tempestades de areia, tornaram a vida uma odisseia em boa parte do país.

O nosso protagonista é John Clark, fotógrafo de profissão, que sendo admitido num jornal, tem como primeiro grande trabalho fazer a cobertura deste fenómeno in loco. E nós iremos acompanhá-lo nesta viagem, que se revela dura em muitas frentes. A areia é o primeiro obstáculo, mas outros se seguirão, como a má recepção que teve por parte dos locais e que ele precisa de ultrapassar.

Este livro é uma novela gráfica, muito completa e bem construída, com uma narrativa sólida e ilustrações incríveis. O traço de Aimée de Jongh é muito bonito e teve a capacidade de passar o sufoco da tempestade de areia para o leitor. A desolação, a dificuldade em respirar, está lá tudo! A acompanhar o traço bonito está a escolha muito adequada da cor, com páginas muito sombrias (adoro o efeito da tempestade a aproximar-se!), mas outras mais detalhadas e coloridas, qual lufada de ar fresco.

A história deste fotógrafo é uma outra história dentro da narrativa, igualmente bem desenvolvida e incómoda até. O que procura ele? E encontrará o que procura?

Como última nota, gostaria de salientar as fotos verdadeiras que se encontram no início de cada capítulo e que a autora inseriu de forma brilhante no todo do seu desenho.

Não conhecia Aimée de Jongh, uma autora dos Países Baixos, mas irei estar atenta à sua obra, já que esta primeira experiência foi muito positiva!

Opinião... Tânia Ganho * O Meu Pai Voava


Conheci Tânia Ganho com o livro “A Mulher-Casa”. Adorei. Um livro que tantos anos depois ainda povoa a minha mente. Seguiu-se “Apneia”, uma leitura arrebatadora, que colocou a Tânia no topo das minhas preferências, no que se refere a autoras nacionais.

Mas, mesmo sabendo a qualidade da sua escrita, o poder da sua palavra, nada me preparou para este “O Meu Pai Voava”. Que livro maravilhoso. De uma tristeza profunda, face ao que lhe deu origem, mas igualmente de uma beleza e simplicidade ímpar. No fundo, uma homenagem sentida (e que se sente!) a este pai que partiu.

Senti-me completamente arrebatada por esta leitura, como se estivesse numa montanha-russa de sentimentos galopantes, ora sorrindo por conta de uma peripécia à mesa da família, ora de coração apertado pela dor da autora.

Importa referir que se trata de um livro de não-ficção, que Tânia sentiu a necessidade de escrever após a morte do seu pai, que se debatia com o terrível Alzheimer. A perda progressiva das faculdades deve ser algo muito difícil de lidar para o próprio e para quem o rodeia, principalmente, como referido no livro, no que toca a manter a dignidade da pessoa doente.

Sente-se que este livro foi escrito por uma alma em chagas, um coração ferido e sofrido. Mas também se sente que só fica assim ferido quem ama, e não há manifestação mais bonita deste amor por um pai.

Eu tenho a felicidade de ter os meus junto a mim, mas sei que um dia voltarei a este livro (que seja daqui a muitos anos!), com outros olhos e outra necessidade. E ainda assim, a sua leitura, no presente, foi tão importante para mim!

Opinião... Kate Morton * O Regresso


 Romances que são sagas familiares, bem escritos e desenvolvidos e aqui esta leitora fica totalmente rendida!

“O Regresso” de Kate Morton conta-nos a história de Nora e da sua neta Jess. Elas são naturais da Austrália, mas Jess vive actualmente em Inglaterra. Certo dia recebe a chamada que não quer receber, de um hospital, a informar que a avó sofreu uma queda e que se encontra nos cuidados intensivos. Tal cenário leva Jess a regressar à sua terra Natal de imediato.

Entre visitas ao hospital, Jess vai juntando algumas peças, que começaram a despertar a sua curiosidade porque a avó caiu quando tentava aceder ao sótão da casa onde vive, empreitada extremamente perigosa, por causa das escadas de acesso. O que estaria naquele sótão de tão importante, para Nora arriscar a subida? Depois, algumas coisas que o cuidador da avó lhe disse, fizeram com que Jess começasse a investigar determinados acontecimentos do passado da família.

E nós, leitores, vamos com ela nesta viagem, ao tempo em que o irmão de Nora era vivo e vivia noutra região da Austrália juntamente com a sua mulher e quatro filhos.

Algo de trágico aconteceu, de tal forma que ainda hoje se reflete nas reacções de Nora. Trilhar este caminho foi descobrir cada uma das personagens, as suas peculiaridades, os seus propósitos.

A forma como Kate Morton foi revelando a informação, quase transformaram este romance num thriller, porque há coisas a descobrir e os pedaços de informação que nos foi oferecendo apenas espicaçaram mais à leitura. E é neste ponto que o livro teve algo que, para mim, não fez muito sentido. A dada altura, Jess tem acesso a um livro que conta a história desta parte da família ligada ao tio-avô. E vai lendo este livro aos pouquinhos, intercalados com o seu dia-a-dia de visitas à avó. Parece-me que nestas circunstâncias, aquele livro teria sido devorado de uma assentada evitando alguns mal-entendidos.

Não significa que tenha estragado a leitura, de todo, mas foi algo que me fez alguma comichão ainda que perceba que esteja relacionado com a construção da narrativa.

Muito bem escrito, com personagens ricas e cheias de vertentes, uma história com suspense e um fim algo surpreendente, “O Regresso” foi um romance que me encheu as medidas!

Opinião... Chas Newkey-Burden * Taylor Swift - A História Completa

 


Dentro dos livros de não ficção, as biografias são os que eu mais aprecio. Acho interessante conhecer as pessoas por detrás da aura da fama, o que muitas vezes nos quebra ilusões, mas por outro lado, cria motivação para correr atrás dos sonhos.

Taylor Swift é mundialmente conhecida e dispensa apresentações. Não sendo uma grande apreciadora da sua música, a sua ascensão meteórica despertou a minha curiosidade para este livro.

Antes de mais importa dizer duas coisas que poderão condicionar a minha opinião que se segue. Este livro é uma biografia não autorizada, pelo que não temos aqui a voz da cantora, antes temos uma recolha de informação pública, como artigos de jornais e revistas ou entrevistas dadas a canais de televisão, que ainda que esteja bem feita, não tem a mesma profundidade que teria caso fossem as suas palavras.

Outra questão prende-se com a data em que o livro foi originalmente publicado. Ele remete-se a 2013, pelo que não temos aqui os últimos 11 anos da sua vida, ainda que aborde alguns factos recentes nesta edição revista.

Como em qualquer biografia, gostei muito de conhecer as origens e o início da vida pública de Taylor. Compreendi uma vez mais a importância que a família tem nestas situações, onde as crianças revelam competências extraordinárias, mas ainda precisam de muito apoio. Os pais de Taylor tiveram a capacidade de a compreender e acompanhar. Mas também a deixaram trilhar o caminho sozinha, fazendo-a crescer de forma responsável.

Depois temos o preço da fama, os episódios de vitórias, os outros episódios menos felizes, a razão de ser das suas músicas (que para ela são como uma espécie de diário).

Em suma, gostei bastante de conhecer Taylor um pouco melhor, ainda que tenha algumas reticências quanto à escrita adoptada no livro e ao facto de ser uma biografia não autorizada. De qualquer forma, a sua leitura foi agradável e fez-me ir ouvir algumas músicas com atenção na letra.

Opinião... Kei Aono * O Destino da Livraria de Kichijoji

 

Sabem aqueles livros que só de olhar para eles, sentimos que queremos muito gostar da leitura? Foi o que me aconteceu com “O Destino da Livraria de Kichijōji”, para mais na incrível embalagem onde o recebi, já de si bonita, melhor ainda porque vinha recheada de Tsuru!

Mas a capa não faz um livro, e o que o envolve também não. A narrativa, as personagens, a escrita, esses sim são factores determinantes. E alguns destes aspectos ficaram aquém, na minha opinião.

É certo que o livro segue em crescendo de interesse, no entanto, a primeira metade é muito vazia de conteúdo, pautada por repetições de ideias e pouca acção. Ainda assim algo no livro me impulsionou a continuar a leitura, e ainda bem, porque a segunda metade melhora significativamente. Porque é na segunda metade que as personagens revelam a sua essência, e onde se comprova que a união faz a força!

A livraria de Kichijōji é uma livraria bastante antiga, com uma enorme oferta, mas meio perdida no tempo. Os funcionários mais novos procuram trazer alguma inovação, mas rapidamente são barrados pelos mais antigos e conservadores. É o caso de Aki, uma jovem que acaba de se casar, e que encontra em Riko, a sua superiora, uma adversária no local de trabalho.

No entanto, o futuro não se avizinha risonho para esta livraria, obrigando a que todos coloquem de lado as suas diferenças e a que Riko, entretanto promovida a gerente, abra horizontes a novas experiências. Conseguirão, juntos, salvar a livraria?

A escrita japonesa é muito característica e única. Pautada pela contemplação e pela lentidão da acção, é expectável que as narrativas não sejam aceleradas e para devorar. Ainda assim, a primeira metade deste livro passa um pouco esta linha divisória, acabando por cair no desinteresse, o que desmotivou a minha leitura. Se todo o livro tivesse o mesmo conteúdo da segunda parte, estou certa de a percepção seria diferente. Desta forma, embora tenha acabado por gostar da leitura, não a senti especial como esperava.

Opinião... Yulin Kuang * Como Terminar uma História de Amor


 Já há algum tempo que procurava um romance levezinho e despretensioso, aquilo que eu costumo chamar, a brincar, de pastilha elástica para o cérebro. E não é tão fácil de encontrar como parece porque, a dada altura, ou se transformam num “dramalhão” ou são tão leves que não chegam a ter qualquer interesse.

“Como Terminar uma História de Amor” conseguiu um bom equilíbrio entre estes elementos. É leve, mas tem história. Tem personagens que apetece gostar e torcer por elas, o que é sempre um ponto a favor, tem tempero q.b. e uma estrutura relativamente linear e pouco exigente que permite desfrutar dos elementos anteriores.

Helen Zhang é uma escritora de sucesso, com uma série juvenil publicada e bestseller, à beira de ser convertida em série. Ela é de origem chinesa e tem, no seu passado, um acontecimento marcante e doloroso que a liga irremediavelmente (e pelas piores razões) a Grant Shepard.

Helen está a viver um sonho, com a criação desta série, mas tudo se complica quando percebe que Grant faz parte da equipa de guionistas. Ele mesmo, aquele que ela não quer ver pelas recordações que acarreta…

Eles decidem seguir em frente, ser profissionais e deixar o passado de lado enquanto trabalham. Será que conseguem?

É esta jornada que iremos acompanhar, ao mesmo tempo de descobrimos o que aconteceu na juventude dos dois que tanto afectou a sua relação presente. O motivo é muito forte e levanta muitas questões, de facto. Temos aqui o tema da culpa e da percepção da mesma. Mas temos também duas personagens amorosas, que cativam o leitor e dificultam ainda mais essa mesma percepção.

Gostei bastante deste livro, dentro do seu género. Foi uma leitura que me manteve sempre interessada, que me fez tentar estar no lugar deles e perceber qual seria a minha posição. Leve, mas não vazio de conteúdo. Perfeito para esta altura do ano, quando o calor não é compatível com leituras mais densas e exigentes.

Opinião... Kristen Perrin * Como Resolver o Próprio Homicídio

 


Aqui está um livro que partiu de uma premissa muito interessante, mas que, na minha opinião, não a soube cumprir de forma plena…

“Como Resolver o Próprio Homicídio” apresenta-nos Frances Adams, que quando jovem foi ler a sua sina numa feira. O que ela não esperava é que esta leitura lhe modificasse toda a vida, já que previa a sua morte por assassinato. E ainda lhe juntou algumas pistas de como tal iria acontecer.

A partir desse dia, Frances passou a viver em função de descobrir o seu próprio assassino, aquele que ainda não existia…

Os anos passaram e, no presente, vamos acompanhar Annie Adams, sobrinha neta de Frances. A sua tia-avó, agora idosa, decidiu mudar o testamento e organiza um encontro com todos os implicados. O problema é que Frances é assassinada precisamente neste dia, pouco tempo antes de todos chegarem, cumprindo-se assim os desígnios da sina.

Mas Frances, embora não tenha conseguido evitar o seu próprio homicídio, deixou preparada uma carta, onde determina que a sua herança irá para quem encontrar o assassino. Annie é uma das contempladas e aceita de imediato o desafio…

E poderíamos ter aqui uma história muito original e divertida, assente numa ideia igualmente original. No entanto, achei a concretização da mesma muito morna. Há vários pontos que não me pareceram lógicos nem coerentes, começando pelo cenário do crime, que foi imediatamente utilizado por todos. Tanto quanto sei, cabia à polícia isolar o espaço e investigar antes de qualquer outra pessoa… E mesmo o desenlace, tem associadas questões desconhecidas do leitor, o que nunca lhe teria permitido desvendar o todo.

Em suma, temos aqui uma ideia gira, uma capa espectacular e expectativas altas que não foram completamente cumpridas. Não é um livro entediante, mas, na minha opinião, não enche as medidas…

Opinião... Fredrik Backman "Os Vencedores"

 


Fredrik Backman faz-me acreditar que a escrita é, de facto, um dom. Que delícia é ler as suas palavras, seja qual for o tema que elas transmitam! Aquela piada “leria nem que fosse a sua lista de compras” assenta aqui que nem uma luva!

“Os Vencedores” encerra a trilogia que se iniciou com “Beartown” e continuou com “Nós Contra os Outros”. Continuaremos a acompanhar o dia-a-dia desta população, residente em Björnstad, bem como a da localidade vizinha, Hed, eternos rivais no desporto do qual respiram, o hóquei.

É precisamente em torno do hóquei que tudo se passa, porque foi esta modalidade que permitiu o desenvolvimento de ambas as terras. A relação da população com este desporto é de quase amor/ódio, tal é a intensidade de sentimentos que os assolam e a forma intensa como o vivem. Mas uma coisa é certa, como eternos rivais, não há nem poderá haver nada na equipa do lado que tenha valor. E o sentimento é recíproco.

É com este mote que acompanhamos os habitantes de Björnstad e de Hed, com todas as questões e situações dentro e fora de cada família. Vamos acompanhando o crescimento de todos, a acção do livro decorre ao longo de vários anos, outra característica que gostei muito nesta trilogia.

Todas as personagens estão muito bem desenvolvidas, temos o nosso tempo para conhecer as diferentes facetas de cada uma delas. Terminada a trilogia, quase as sinto reais! Toda a caracterização é feita com muita mestria, com diferentes perspectivas e opiniões, que revelam muitas vezes pormenores surpreendentes.

Mas o ponto alto é a construção do texto, a forma como Fredrik brinca (de maneira muito inteligente) com o leitor. Como levanta uma pontinha do véu, que espicaça a curiosidade, para nos manter agarrados por mais um capítulo, e depois outro, e depois outro…

Senti que esta leitura exigiu o seu tempo, tempo que lhe entreguei de bom grado, porque senti real necessidade de saborear cada parágrafo! Sendo um calhamaço, naturalmente, este tempo foi ainda mais longo, e que bom que assim foi! Porque a verdade é que tive muita pena de me despedir desta cidade, destas personagens, deste ambiente de que tanto gostei.

Fredrik Backman está, sem dúvida, entre os meus autores preferidos de sempre. Adoro tudo o que ele escreve e, “Os Vencedores” não foram excepção!

Opinião... Íris Bravo * O Som Em Mim


Tenho acompanhado toda a obra de Íris Bravo, desde o seu “A Terceira Índia” e o que me chamou a atenção neste seu novo livro, de imediato, foi o salto qualitativo na sua escrita. Se nos outros livros gostei muito das histórias, assentes numa escrita simples, aqui senti um deleite na leitura. Cuidada e bonita, elaborada quanto baste para contar a história pretendida.

Foi uma surpresa muito positiva que me fez gostar ainda mais do livro. Isto porque voltamos a ter aqui uma narrativa que cativa e absorve. A Íris tem a capacidade de me fazer sentir as personagens e as situações, até os locais.

Comecei “Um Som em Mim” e, ao fim de poucas páginas, parecia que eram pessoas conhecidas, que não as tinha descoberto minutos antes. Adoro essa sensação, que me faz ter uma leitura muito mais absorvente!

Depois temos a história, nada fácil, aviso já. Temos aqui muita violência, que passa não só pela violência doméstica, caracterizada de forma exemplar, no que toca ao perdão e à cegueira que o amor provoca, mas também temos uma outra violência, dura e com consequências catastróficas.

A nossa personagem principal é a Francisca, uma jovem adulta que consegue fugir de casa, levando a mãe e a irmã mais nova. A mãe, impotente face às circunstâncias, deixa-se levar, mas não ajuda muito. Já a irmã mais nova é o grande problema delas, porque sendo menor, esta ausência do lar, pode ser considerada rapto. Isto faz com que vivam escondidas e sem outros recursos que não a força do seu trabalho. São tempo duros e difíceis para as três. Mas são também tempos livres, até dada altura em que a vida de Francisca volta a sofrer outro revés…

Gostei muito desta leitura, pela escrita, pela temática, pela abordagem. Íris Bravo explicou na apresentação do livro o mote para esta história e sente-se que é algo que precisava de ser contado. Não é uma história bonita nem cor-de-rosa, mas é, infelizmente, um retrato da sociedade (para mais, de alta sociedade!) que importa falar.

Opinião... Florbela Melhorado * O Escravo que se Tornou Fidalgo

 


“O Escravo que se Tornou Fidalgo”, logo à partida, o título desperta a curiosidade, pelo inusitado. Qual foi o escravo que chegou a fidalgo? Será real? Um trocadilho?

A verdade é que é real e João de Sá existiu e veio contrariar a norma. Nasceu escravo, e morreu fidalgo, cavaleiro da Ordem de Santiago. Ao longo deste livro, escrito pela mão de Florbela Melhorado, vamos conhecer todo o seu percurso, passando pelos principais acontecimentos da época que atravessa.

Tive a oportunidade de ouvir a autora, na apresentação ocorrida na Feira do Livro, e saber o que deu origem a este livro, tornou-o ainda mais interessante. Tudo partiu de um quadro, que se encontra na capa do livro, na parte superior, a vermelho. A autora detectou que havia neste quadro um cavaleiro negro, o que a intrigou. Partiu então em busca de quem era este homem, para descobrir que dava pela alcunha de Panasco, tinha sido escravo, e chegado a cavaleiro.

Toda esta obra resulta de uma pesquisa cuidada, que se percebe durante a leitura, rica em pormenores e detalhes. E é precisamente aqui que gostaria de ressalvar algo que gostei menos neste livro. As notas de rodapé, que são várias e algumas longas. Ao ler no seguimento da narrativa, provocaram-me uma quebra de ritmo de leitura que não apreciei. Tanto que, a dada altura, optei por ler cada capítulo seguido, para depois voltar atrás e ler as notas de rodapé.

Temos aqui um romance histórico bem construído, que intercala momentos diferentes do tempo, dando-lhe dinâmica e, um pormenor que gostei muito, a autora deu voz a João de Sá, em alguns capítulos, permitindo entrar na sua cabeça e conhecer as suas preocupações, alegrias e tristezas. Gostei muito desta característica, pouco comum neste género literário.

Para quem procura um livro com uma parte da História de Portugal, bem contado e documentado, com episódios pouco conhecidos, encontrará aqui uma boa leitura!

Opinião... Caroline Bernard * Eu Sou a Frida

Assim que descobri esta novidade, intitulada “Eu Sou a Frida”, fiquei de imediato interessada e curiosa com a mesma. Frida Kahlo é uma personalidade que me intriga e atrai. Mulheres que tiveram a coragem de fazer diferente e enfrentar as convenções são sempre uma inspiração.

Aqui vamos acompanhar Frida desde 1938, numa altura da sua vida em que decide deixar de ser a sombra de Diego Rivera, para criar o seu lugar no mundo das artes, já que os seus quadros seriam tão valorosos quanto os do seu marido, no entanto, sendo mulher, foi sempre remetida para segundo plano.

Tomada a decisão, Frida investe nesta empreitada que trará frutos. Primeiro uma exposição em Nova Iorque, depois em Paris, levam a artista ao estrelato que tanto ambicionava. Mas nem tudo foram rosas, inúmeros foram os contratempos que só a sua resiliência permitiu ultrapassar.

Frida teve uma vida difícil, sempre acompanhada de muita dor provocada primeiro pela doença, depois pelo acidente. Será através dos seus quadros que conseguirá ultrapassar parte desta dor, numa jornada muito auto-biográfica.

A escrita de Caroline Bernard é simples e bonita, fácil de ler, mas mantendo uma vivacidade que faz o leitor acreditar que Frida Kahlo está ali, a recordar. Conta-nos inúmeros episódios, muitos deles que eu desconhecia e que gostei muito de descobrir.

Adorei esta leitura e o anterior livro da autora, “Frida e as Cores da Vida”, já está na minha lista de desejados para leitura futura e próxima!

 

Opinião... Victor Vidal * Não Há Pássaros Aqui


Victor Vidal e o seu “Não Há Pássaros Aqui” foi o vencedor do Prémio Leya 2023. Finalizada a sua leitura, consigo perceber as razões para a atribuição do prémio.

O autor fez aqui um trabalho de dissecação da mente humana incrível. Partindo de uma personagem feita em cacos, analisa cada um deles, procurando origens e razões, por um caminho, na maioria das vezes, muito tortuoso.

É uma história difícil de ler, de sentir e absorver, porque revela o pior do ser humano, mas a forma como o autor nos apresenta os factos, impede-nos de virar as costas e seguir.

Aqui conhecemos Ana, quando esta recebe um telefonema que lhe vai virar a vida do avesso, novamente! A sua mãe está desaparecida há uma semana e a sua presença é requerida pela polícia. Ana obriga-se então a regressar ao lar onde nunca foi feliz, revivendo os momentos tensos, tristes e que quer esquecer.

Talvez porque se viu obrigada a viajar até ao seu passado, num impulso decide ligar ao seu amigo de então, Benjamin e passaremos a ter, a partir daqui, duas personagens sofridas, amarguradas, perdidas no presente por conta dos seus passados.

A procura por respostas a questões pendentes fará parte do dia-a-dia dos dois, em busca de uma salvação que poderá chegar tarde demais…

Todo o livro é uma imensa dor, acontecimentos trágicos, mágoas, marcas profundas para sempre. A escrita é muito boa, criando uma teia em volta destas duas personagens, no presente e no passado, que nos levam numa espiral que roça a loucura. Perturbador, intenso e de um enorme sofrimento, até para o leitor, que assiste impotente, a tanta barbárie.

“Não Há Pássaros Aqui” é um título intrigante, mas que faz tanto sentido depois de lido o livro. Talvez se houvesse mais pássaros ali, com a sua beleza e encanto, a vida não tivesse sido tão dura…

Opinião... Catharina Maura * A Noiva Errada


Quem é “A Noiva Errada”?

Esta é a pergunta que o leitor deste livro precisa de ver respondida. Tudo porque nos conta a história de duas famílias muito ricas (embora uma esteja em posição social e económica mais elevada do que a outra) e, no seio destas famílias, o casamento é uma aliança de negócios em vez de uma celebração do amor. Por isso mesmo, a avó da família Windsor já decidiu com quem vai casar o seu neto mais velho, Ares. Ela será Raven DuPont, uma supermodelo tranquila e amistosa.

Os problemas começam quando Raven leva a sua irmã Hannah a uma festa onde Ares também se encontra. Hannah fica perdida de amores por ele e o sentimento é recíproco. A avó decide fazer a vontade ao neto já que, mantendo-se dentro da mesma família a aliança contínua garantida. No entanto, Hannah é uma atriz famosa e rapidamente percebe que este casamento a vai limitar nas suas viagens e disponibilidade para gravar. É então que decide dar um passo atrás e adiar o casamento, atitude que desgosta o noivo e chateia a avó que volta atrás com a sua decisão, retomando a intenção de o casar com Raven.

Agora, quem é a noiva errada? O que acontecerá? É o que iremos descobrir ao longo desta leitura que conta com paixões escondidas, reservas na entrega ao outro, partes picantes q.b., bem escritas e desenvolvidas, más decisões que levam a arrependimentos, e outras decisões que se revelam bem mais acertadas.

Apesar das minhas renitências com o género de romance erótico, este livro acabou por cumprir a sua função de entretenimento de forma bastante satisfatória. Há toda uma série de questões que se levantam relativas aos casamentos arranjados por terceiros que achei muito interessantes. Não me fez mudar de opinião quanto ao género, mas proporcionou-me bons momentos de lazer.

Opinião... Angélica Lopes * A Maldição das Flores


Quando se é uma leitora ávida como eu sou, é sempre uma lufada de ar fresco encontrar uma história original, que nos arrebate e cative. Foi o que me aconteceu com “A Maldição das Flores”.

A premissa é, em si, incrível. Remontemo-nos aos inícios de 1900, quando a voz das mulheres era simplesmente inexistente. Na região de Pernambuco havia um grupo de mulheres rendeiras, do qual faziam parte a família Flores (que dá título ao livro, já que paralelamente conheceremos a maldição que as assola) e uma amiga, a Eugenia. É precisamente Eugenia que, obrigada a casar-se com um homem que a impedia de sair de casa e a maltratava, encontrou nas suas rendas o veículo de comunicação perfeito.

Cada ponto correspondia a uma letra do alfabeto, portanto, todas aquelas que soubessem o código, poderiam comunicar. E é desta forma que Eugenia comunica com a sua amiga Inês Flores, na tentativa de fuga que ambas elaboram.

Damos então um salto até à actualidade e conhecemos Alice, uma jovem activa e reivindicativa, que luta e defende os seus princípios, tentando ganhar a tal voz que tanta falta fez às mulheres ao longo de décadas. Ela será a herdeira de um véu, em renda, e do respectivo código. Este é-lhe oferecido por uma tia que ela não conhecia. Quando percebe o que aquele véu representa, não consegue mais parar até conhecer a história de toda a família e quem foi Eugenia.

É este caminho que iremos fazer em conjunto com Alice e, garanto-vos, é uma caminhada incrível! Toda a envolvente destas rendas, os acontecimentos que se atropelam, as aparências, o sofrimento de tantas mulheres ao longo dos anos, tudo é vívido e sentido. Adorei!

Quem me segue, sabe que tenho alguma relutância em ler em português do Brasil, porque sinto que me atrapalha a compreensão imediata do que leio. Mas, neste livro, senti que fluiu de forma ligeira, talvez porque a história me interessou tanto.

Em suma, encontrei aqui um romance original, com um tema também ele original e muito bem desenvolvido, ainda que assente numa problemática tão antiga: as desigualdades entre homens e mulheres. Aqui, elas provaram que com inteligência se consegue contornar a força bruta, ainda que nem sempre com um final feliz!

Opinião... Sophie Lark * Brutal Prince

 


Temos gangues rivais? Sim, temos. Os Gallo e os Griffin, uma família de origem irlandesa outra italiana, ambas relacionadas com a máfia.

Temos uma relação de ódio que se transformará noutra coisa? Temos. E com cenas bem calientes, por sinal!

Temos então os ingredientes certos para um bom romance, levezinho e divertido, óptimo para estes dias mais quentes. Na minha opinião, poderia ter sido, caso não tivesse um enorme senão, que se prendeu com as cenas mais tórridas do romance. Nada contra elas, mas a linguagem utilizada poderia ser muito mais bonita, revestindo-as de uma sensualidade que achei inexistente. Nada de puritanismos, apenas não se adequa ao meu gosto pessoal.

E este pequeno/grande senão, porque são várias as passagens, fez com que não apreciasse o livro como um todo, ainda que tenha achado bastante piada às picardias entre as personagens principais, a Aida Gallo e o Callum Griffin.

Ela é destemida e não mede as consequências. Ele tem sede de poder, a qualquer custo. Juntos só poderiam provocar um tornado. Foram estas partes que me divertiram e fizeram rir. Isso e as reacções inesperadas, que apanharam as personagens de surpresa e a mim também.

Em suma, é um livro que entretém, não é maçador, mas não me encheu as medidas. É bem verdade que cada livro tem seu leitor, eu não serei o deste...

Opinião... Salva Rubio * O Fotógrafo de Mauthausen

 


“O Fotógrafo de Mauthausen” conta-nos um período negro da história mundial, mas sobre a perspectiva de um fotógrafo espanhol. O que foi, à partida, uma novidade para mim. O tema da Segunda Guerra Mundial e, em particular, dos campos de concentração, dada a sua enormidade, são muitas vezes abordados na literatura, mas nunca tinha lido na perspectiva dos espanhóis.

Mais ainda, perceber que estas pessoas, por serem contra o franquismo, foram obrigadas a exilar-se em França, que rapidamente usou a sua força como préstimos à pátria, para os largar ao seu destino quando os nazis avançaram. É desta forma que milhares de espanhóis foram levados para o campo de concentração de Mauthausen, na Áustria.

Um deles foi Francisco Boix que terá passado por duras penas, à semelhança dos seus compatriotas, mas que teve a “sorte” de ver descoberta a sua habilidade com a fotografia, passando a integrar a equipa de prisioneiros “afortunados” (com muitas aspas). A sua função era acompanhar o fotógrafo nazi e revelar todas as fotos tiradas no campo. E havia ali um pouco de tudo, desde fotos a simular uma realidade inexistente, onde os prisioneiros eram bem tratados, para provar o que não existia, até fotos dos próprios nazis, com o objectivo de as enviarem aos familiares, passando por fotografias que testemunhavam atrocidades várias.

São precisamente estas últimas que Francisco quer esconder para que sirvam de provas futuras. Para tal, arrisca muitas vezes a sua vida e a dos seus companheiros…

A arte deste livro é de grande qualidade, fazendo uso das cores sombrias para retratar um dia-a-dia muito duro e cinzento. Gostei muito da forma como a narrativa foi contada, ilustrada de forma muito adequada à seriedade do tema.

Adicionalmente, o livro tem um dossier histórico muito completo, que detalha partes da novela gráfica, mostra fotos e distingue o que é ficção do que é realidade. Pareceu-me uma obra muito completa, séria e profissional que me deu a conhecer (mais) uma perspectiva que desconhecia sobre um tema que não podemos esquecer.

Opinião... Eleanor Shearer * A Canção do Rio


 Ler um livro sobre escravatura é saber, à partida, que será uma leitura sofrida. Mas se juntarmos uma mãe escrava em busca dos seus filhos vendidos, temos uma história de amor incondicional que não deixa ninguém indiferente.

Que livro bonito. Que ode ao amor maternal. Personagens fortes, lutadoras e bem caracterizadas. Sofri a ler este livro, tanto que tive de retardar o ritmo de leitura, para o absorver e, muitas vezes, respirar fundo.

Rachel é escrava e mãe. Toda a sua vida foi de sofrimento, primeiro pela clausura, depois por ver os seus filhos serem levados, um por um. No dia em que é abolida a escravatura, Rachel sabe que é a sua oportunidade de fugir (porque embora já não fossem escravos, tinham a obrigação de permanecer com os seus anteriores donos, por mais 6 anos) e procurar os seus entes mais queridos.

Parece-me que não é sequer possível imaginar o que será esta demanda. Se seria difícil nos dias de hoje, com acesso a tanta informação, imagine-se em 1834! Só mesmo uma força muito poderosa poderia fazer esta mulher acreditar. E esta força chama-se amor!

Não achei as falas de Rachel fáceis de ler, porque retratam a pessoa que é, iletrada e sem acesso a qualquer tipo de educação. No entanto, só fazia sentido ser desta forma e, como tudo, ao fim de algum tempo, acostumei-me e na segunda metade do livro já não me causava sequer estranheza.

Uma palavra para a tradução deste livro. Calculo que tenha sido uma tarefa árdua, que foi concretizada de forma exemplar.

Este romance é tão bonito quanto a capa do livro, ainda que toque em temas que são tudo menos bonitos. Ressalvar também os cenários onde se passa a acção, senti a terra crua de Barbados e de Trindade, tudo muito bem descrito. Um livro para ler devagar, degustar e louvar esta mãe incrível!

Opinião... Daniel Sweren-Becker * Kill Show

 

“Kill Show” tem uma premissa muito original e interessante. Foi o que de imediato chamou a minha atenção e me fez passá-lo para o topo da lista dos livros por ler.

Sara é uma rapariga de 16 anos, que desaparece a caminho da escola. O caso ganha rapidamente uma nova dimensão quando os pais aceitam participar num reality show televisivo, que tem por objectivo acompanhar e tentar solucionar o caso, em tempo real.

O formato escolhido pelo autor para contar esta narrativa é também ele muito original, já que não há texto corrido, havendo antes falas das diferentes personagens, em jeito de entrevista. Mas o mais interessante é que parece que todas elas estão numa grande sala, a ouvir-se, já que há reacções às intervenções anteriores, o que cria uma dinâmica muito gira no livro.

Depois temos os plot twists, muito bem feitos, que me pregaram valentes rasteiras, mas sempre com coerência e sentido, tornando quase impossível parar de ler.

Todo o livro é uma enorme critica à sociedade actual, ao poder da manipulação de imagem e ao peso da opinião pública anónima. A panóplia de diferentes personagens é outra característica interessante deste livro, temos desde os pais e restante família, a toda a equipa produtora do programa, passando pelo inevitável negacionista ou pelo grupo de apoio criado espontaneamente nas redes sociais.

Actual e com uma utilização muito inteligente das ferramentas digitais, Daniel Sweren-Becker criou um thriller muito interessante e original, que dá que pensar e que levanta inúmeras questões morais. Gostei muito desta leitura!

Opinião... Ticas Graciosa * Nini

 


Saber que um livro, ainda que seja de ficção, é baseado em factos verídicos, para mais vividos pela autora, dá-lhe de imediato outra dimensão.

“Nini” é a menina protagonista desta história, que viveu no seio de uma família com graves problemas, que assistiu ao que não devia desde muito pequena, que perdeu os seus pais da forma mais trágica. Mas Nini é igualmente a menina que soube perdoar e não se deixar amargurar pelos acontecimentos, que facilmente a poderiam ter levado por um caminho de raiva e dor. Ela preferiu ver as coisas boas da vida, segurar-se a elas para continuar, em vez de se perder neste lado mau que vivenciou.

E esta é, sem dúvida, a mensagem forte deste livro. Uma lição de vida, quando nos queixamos de pequenas coisas e fazemos delas uma coisa enorme, ao vermos estes exemplos, percebemos o que são situações dramáticas. É de reflectir!

Desde cedo houve muita violência doméstica na família de Nini. O seu pai sofria de uma doença mental que o cegava de ciúmes, no entanto, apesar dos avisos dos que estavam mais próximos, nada se fez para evitar a tragédia anunciada. Se do lado da mãe de Nini todos procuravam ajudar e incentivar ao tratamento, o oposto aconteceu do lado da família paterna. Aliás todo o contexto familiar deste lado da família causa de imediato alguma estranheza, pela forma fria como se relacionavam, numa relação de quase medo.

São inúmeros os momentos deste livro em que apetece intervir e gritar sinais de alerta. É compreensível que quando se está dentro das situações se tenha uma perspectiva distorcida das mesmas, mas ainda assim é muito custoso de observar.

A escrita de Ticas Graciosa tem por vezes uma construção de frases que me dificultou a leitura, obrigando-me a reler algumas passagens. Mas à medida que o livro avança, acabei por me habituar, não tendo estragado a leitura no seu todo.

Como disse, Nini conseguiu sobreviver a este ambiente doentio, à tragédia (ela nunca culpou o pai pelo sucedido, atribuindo antes culpa à doença), às mudanças drásticas da sua vida após a tragédia (a convivência com a avó não foi fácil) e ainda achar que a vida tem muita graça. Que grande lição!

Opinião... Jean Regnaud e Émile Bravo * A Minha Mamã está na América e encontrou o Bufallo Bill

O título “A Minha Mamã Está na América e Encontrou o Bufallo Bill” e a capa amorosa desta novela gráfica não deixam adivinhar o quanto este livro é tocante.

Não irei falar muito sobre a história, porque a descoberta da mesma é o ponto chave. De qualquer forma, gostaria de partilhar aqui uma citação que se encontra na contracapa do livro, pelo Le Nouvel Observateur: “Uma bela história sobre o luto, a amizade e aquela mania dos adultos de mentir por omissão”.

Julgo que resume na perfeição e toca num ponto muito pertinente, já que muitas vezes os adultos não sabem como falar com as crianças, principalmente em situações extremas e inesperadas. Este menino é um doce e tem uma perspectiva da vida muito inocente, própria da sua idade.

Quanto às ilustrações, achei-as muito bonitas e, acima de tudo, muito expressivas. É incrível como as suas expressões falam tanto, ao ponto de quase não ser necessário texto. Para além disso, uma primeira leitura poderá levar-nos a crer que são desenhos simples, mas uma observação mais cuidada revelar-nos-á inúmeros detalhes. Depois temos a palete de cores, com tons que adoro e que resultam muito bem no todo.

O livro tem ainda, entre capítulos, os interlúdios, que embora não sejam continuação directa da narrativa, acabam por estar relacionados e acrescentar valor ao que já foi apresentado.

Em resumo, temos aqui uma novela gráfica aparentemente simples, mas que, no entanto, contém uma mensagem muito forte e que obriga a reflexão. E este menino, na sua inocência, cativa qualquer leitor!

Opinião... Francesca Giannone * A Carteira

 

Assim que vi a capa deste livro, tive um feeling que era o livro certo para mim. Depois de saber a história, mais convencida fiquei. Elevei de tal forma as expectactivas que, confesso, iniciei a leitura com algum receio.

Mas posso dizer agora, que qualquer receio foi totalmente infundado. Que livro bom este! Tem tudo o que eu adoro e procuro num romance. Uma escrita exemplar, uma história de família que percorre longos anos, uma localidade pequena, bem característica do espírito italiano, mulheres fortes, alegrias e sofrimentos. Que leitura tão rica.

Sinto sempre que os italianos são exímios a escrever romances de família, o ritmo, as personagens de personalidade forte, a forma de escrever, encaixa tudo na perfeição.

Aqui temos Anna, uma mulher que se muda com o seu marido Carlo para a terra Natal dele, local onde é bem recebida, no entanto, onde não se sente em casa. É com dificuldade que Anna se integra nesta nova sociedade, junto da família de Carlo. Para agravar a situação, sente que precisa de uma ocupação profissional, algo que não é visto com bons olhos àquela época. Mas ela é resiliente e será como carteira que irá encontrar o seu lugar. Se primeiro é olhada de lado, por exercer uma profissão masculina, a forma como a encara, com profissionalismo e coração, acaba por fazer com que todos se rendam.

Anna era a bisavó da autora, Francesca Giannone. Ela terá encontrado um cartão de visita desta bisavó, o que a levou a imaginar esta história, cuja localidade e personagens são mera ficção. Ainda assim, saber que esta bisavó existiu e foi o mote para esta narrativa tão bonita, torna-a ainda mais especial.

O livro dá tempo ao leitor para se envolver com as personagens, para as sentir e se sentir lá, no meio da acção. Adorei cada página, cada personagem, cada passagem. Só tive pena que tivesse terminado. Anna Allavena, carteira, ficou comigo, como exemplo e como inspiração!

Opinião... Freida McFadden * A Criada Está a Ver

 


Ai Freida, o que foste fazer à “nossa” criada?

Desculpem o desabafo, mas terminei a leitura deste terceiro volume e fiquei um tanto indignada com as opções que Freida McFadden tomou neste livro. Millie revelou-se uma personagem incrível no primeiro volume, “A Criada”. Uma mulher de armas, lutadora e poderosa ao seu jeito, genial e destemida. Uma personagem que é impossível esquecer.

Agora, os anos passaram, Millie casou e tem dois filhos e acaba de se mudar para a sua casa de sonho, numa zona tranquila onde ela sente que os seus filhos poderão crescer livres e em segurança. Mas nem tudo é o que parece e os vizinhos não os recebem da forma que sonhariam, revelando-se muito diferentes do que imaginaram.

Millie tornou-se numa personagem empoeirada, sem garra, sem presença e sem a força que tanto a caracterizou e de que tanto gostei, o que me deixou muito decepcionada com este livro…

Millie à parte, e falando apenas em termos de thriller, está bem construído, é de leitura rápida (embora não frenética) e é coerente. Mas não surpreende e, inclusive, há ali um pormenor no final (que não vou revelar por causa dos spoilers), que não me convenceu totalmente.

Os vizinhos do lado deste novo lar são estranhos, ela é dona do seu nariz, autoritária e pouco simpática com quem não gosta. Ele é maleável, aceita e cumpre tudo o que a mulher diz. Do outro lado da rua mora outra vizinha, que tem por hábito espreitar à janela, sabendo tudo sobre todos (acha ela!), tem o controlo absoluto sobre o seu filho, chegando a levá-lo de trela à paragem de autocarro escolar. Definitivamente não foi este o cenário que Millie idealizou quando fez a proposta de compra daquela casa, mas nem sempre as coisas são como imaginamos… aliás, num thriller, nunca são, não é?

Quem procura um thriller que entretenha e não complique, poderá apreciar esta leitura. Quem é fã da autora e sabe o que ela consegue fazer, fica com um amargo de boca, porque este não acompanha a qualidade e intensidade de “A Criada” (o meu preferido ainda e sempre!).

Opinião... Pedro Rodrigues * A Mar

 


A primeira coisa que me fez pegar neste livro foi, sem dúvida, a capa. Está incrível e, depois de ler o livro, percebo o quanto se adequa! Depois de o folhear percebi de imediato que não se tratava de uma narrativa contínua e o autor esclarece logo no início do livro que se trata de um conjunto de textos que foi escrevendo ao longo dos anos, alguns publicados digitalmente, outros guardados na gaveta, que decidiu publicar em formato de livro. Incluí ainda umas páginas muito originais, com pequenos pensamentos acompanhados de desenhos.

O livro está dividido em quatro partes, cada uma correspondendo a uma estação do ano e achei a ideia muito criativa, já que os textos estão datados e é possível organizá-los desta forma. E é desta forma que se entende o quanto a época do ano se reflete na nossa disposição, sendo os textos do Verão mais positivos que os do Inverno. É muito interessante esta análise.

Achei igualmente interessante perceber o crescimento do autor no que toca ao amor. A maturidade tudo traz, se os textos mais antigos revelam uma energia e dramatismo próprios de uma determinada idade, os textos mais recentes já são mais serenos e encaram o amor de forma diferente. A dor que acompanha o fim de um relacionamento é aqui abordada de uma forma honesta que me agradou bastante.

Apreciei particularmente os textos destinados aos avós e à mãe. Nada como falar de quem mais amamos para transmitir emoções! São lindos!

Obviamente houve outros textos que não me disseram tanto e, em alguns casos, temi que ultrapassassem a linha ténue das frases feitas. Acredito que nunca a ultrapassou, no entanto.

Sugiro que leiam este livro aos poucos, deixando-o num local onde se sintam confortáveis e o vão desfrutando, abrindo numa página aleatória até. Eu li o livro de seguida, sem outros a intercalar e acredito que terei perdido parte da sua magia por isso (é um dos meus defeitos… não saber esperar…).

Terminada a leitura, fiquei com a sensação de que li um diário de Pedro Rodrigues, que me contou alguns dos seus segredos e esse voto de confiança da parte dele, conquistou o meu coração de leitora!

Opinião... Marta Coelho * Minúscula


 Assim que descobri que Marta Coelho tinha lançado um novo livro, entrou de imediato na minha TBR. Já tinha lido um livro da autora há uns anos e gostado muito da sua escrita. “Minúscula” é o título do novo livro e tenho de referir, antes de mais, o quanto gostei desta capa, desde as cores à composição! Ainda que não conhecesse a Marta, seria, com certeza, um livro que chamaria por mim!

E que livro bom este! Primeiro porque o que tanto gostei no anterior, a escrita, não só está lá, como sofreu um salto de qualidade enorme! Em segundo, a história. Parti para a sua leitura na expectactiva de encontrar um bom romance, mas encontrei muito mais e fui completamente apanhada de surpresa! A dada altura, o livro sofre uma reviravolta que me deixou de queixo caído. Foi genialmente construído!

“Minúscula” fala-nos sobre Duda. Ela é escritora, mas desde o fim de uma relação de vários anos, sente-se perdida, não só na vida, como na inspiração que lhe permite contar histórias. Mas Duda é muito mais do que esta mulher sozinha em busca de inspiração. Em pequenas viagens ao passado vamos entender muito do que ela é no presente. A vida não tem sido fácil para ela, mas a sua resiliência mantém-na à tona, em busca de um futuro feliz.

Fala-nos também de Pedro, alguém que vamos conhecendo muito devagarinho. Ele está numa rua do Chiado a escrever poemas a troco de moedas. Duda cruza-se com ele e, quase em jeito de desafio, insta-o a escrever sobre amor, o único tema em que ele não acredita. E ainda assim, faz magia com as palavras… De tal forma, que ainda que contra os seus princípios, Duda utilize o que ele escreveu para cumprir um prazo de entrega de trabalho. Quando pensava que tinha arruinado de vez a sua vida profissional, recebe um convite inesperado para escrever um livro a quatro mãos. Com quem? Com Pedro, que não é apenas um escritor de rua, é antes o autor de uma obra muito premiado no passado…

E só isto poderia fazer o livro. Mas não, Marta usou de toda a sua criatividade para nos oferecer uma história com muito mais, que foi um deleite ler. Esta devia ter sido uma daquelas leituras que se me filmassem ia dar uns bons memes! 😊

“Minúscula” fala-nos de solidão, de saúde mental, do quanto a infância nos influencia na vida adulta, do poder do amor. Tudo pelas bonitas palavras de Marta. Estou definitivamente rendida a este livro!

Opinião... Tina Vallès * A Memória da Árvore

 


“A Memória da Árvore” foi um livro que me passou despercebido, mas que, felizmente, me foi apresentado por uma amiga leitora em quem confio muito. E, uma vez mais, não desiludiu. Que livro bonito este, uma ode ao amor entre um avô e um neto. Tenho o privilégio de assistir a uma relação igualmente forte e posso afirmar que é realmente bonito.

Aqui temos um pequeno grande pormenor, este avô está a perder a memória… vamos acompanhar a progressão da doença pelos olhos deste jovem neto, através da inocência e do falar do seu coração. É maravilhoso!

Alturas houve em que senti que este livro tinha um tom de “O Principezinho”, pela forma como nos ensina a olhar o mundo com olhos inocentes e nos relembra o que é realmente importante.

A escrita é muito bonita, palavras simples que dão voz a este menino, separados em páginas quase como se fossem pequenas passagens, mas que todas juntas nos oferecem o todo. Uma história simultaneamente triste e bonita, uma mensagem de amor profundo que adorei conhecer.

Opinião... Gabriela Ruivo Trindade * Uma Outra Voz


Queria conhecer Gabriela Ruivo Trindade desde que ganhou o prémio Leya, em 2013. O seu livro, “Uma Outra Voz”, habita as minhas estantes quase desde essa altura. Felizmente tive oportunidade de ouvir a Gabriela falar num evento no Dia Mundial do Livro e gostei muito, quer das suas ideias, quer (principalmente) da sua forma de as transmitir. Foi o mote perfeito para ir buscar o livro e ler.

E posso desde já dizer que gostei muito! Encontrei nestas páginas a mesma fluidez de pensamento a que assisti naquele dia. Aqui, conta-nos a história de João José Mariano Serrão, um homem que fez a diferença em Estremoz, ajudando aquela localidade a chegar a cidade, principalmente com a fábrica de moagem e electricidade, que dá capa ao livro.

Mas esta história não nos é contada da forma tradicional. A autora escolheu várias vozes, em vários espaços temporais, cada uma com a sua versão da história, todas elas contribuindo para a riqueza da mesma. Ficaremos a conhecer as pessoas, o ambiente, os acontecimentos mais relevantes, tudo em redor deste homem que criou não só riqueza para a terra, como criou ainda os seus sobrinhos, na ausência de filhos próprios.

Mas esta é também uma história de amor, que se vai revelando aos poucos e é rematada pelo diário do próprio João, que fecha o livro com chave de ouro, fechando todas as pontas soltas. Esta construção é, sem dúvida, o ponto forte do livro, porque as várias perspectivas criam uma aura de mistério, que o leitor tem de ir descortinando ao longo das páginas.

A autora referiu que não gosta de entregar tudo de bandeja ao leitor e percebe-se isso neste livro. Cada nova parte é relatada por uma nova voz, que não sabemos de imediato quem é, o puzzle apenas se vai completando ao longo da leitura, algo que me agrada muito.

A sinopse refere que o livro se baseia em factos reais, mas não consegui perceber quanto do livro é real e quanto é ficcionado, o que diz muito sobre a qualidade da escrita da autora. Para além disso, a regionalização que introduziu no seu vocabulário torna-o ainda mais verosímil.

Foi, sem dúvida, uma leitura que me agradou muito e me faz querer descobrir mais da autora.

Opinião... Raphael Montes * Jantar Secreto

 


Acabei de ler este livro e pensei “este livro é tão bom!”, mas, em simultâneo, pensava “mas este livro é tão mau!!”. Como pode uma coisa assim? 😊

É verdade, Raphael Montes conseguiu a proeza de fazer um thriller incrível de um tema terrível. Como é que consegue prender a atenção do leitor, narrando atrocidades? Só me imaginava com a mão a tapar os olhos, com os dedos entreabertos a espreitar, num misto de quero e não quero saber (Não o fiz (embora o pudesse ter feito!)).

Acho que nunca tal me tinha acontecido numa leitura, confesso.

Esta história começa serena. Um grupo de amigos que sai da terra para a grande cidade. Neste caso, para o Rio de Janeiro. Eles são 4 e veem estudar, alugando um apartamento que partilham. Uns com mais sucesso que outros, lá vão avançando e chegam ao mercado de trabalho. Mas a vida não é fácil e a crise não ajuda, levando-os a um ponto de sufoco inesperado, depois de vários anos instalados na grande cidade.

Tudo piora quando um deles, o Leitão, fica com o dinheiro da renda do apartamento em vez de pagar a mesma. Quando os outros descobrem, a dívida já está impossível de pagar e são ameaçados de despejo. É nessa altura que lhes surge uma ideia que parece peregrina. Porque não servir jantares em casa, já que um deles é um chef de qualidade, ainda que a mesma não seja devidamente reconhecida no mundo hoteleiro.

Uma brincadeira supostamente inofensiva do tal Leitão, transforma o anúncio deste evento em algo completamente diferente, já que a iguaria anunciada não é de todo o esperado. O que começou como uma brincadeira rapidamente entre numa escalada de horror e, em simultâneo, de riqueza, que os prende cada vez mais.

Os caminhos são muito obscuros, cruéis, imorais.  E é este caminho que trilhamos com os protagonistas, qual câmara dos horrores.

Atenção que este livro tem descrições impróprias para estômagos mais sensíveis. A dada altura obriga a parar e respirar fundo, tal é a descrença na capacidade humana para o mais negro e perverso. Perturbador é o mínimo de que se pode qualificar este livro.

Mas ainda assim é um thriller construído com uma mestria, que nos conduz por onde quer e nos surpreende quando determina que é chegada a altura. Genial!