Apaixonei-me pela escrita de Nuno Franco Pires ao final da primeira página, do primeiro livro que li do autor. E a cada novo livro, é sem dúvida a escrita que me encanta e cativa. Um verdadeiro deleite!
“Abril” dá seguimento ao livro anterior “Sombras da Raia”, e
tem início no dia 24 de Abril de 1974, aquele que marcou a viragem, em termos
políticos, do nosso país. Todo este processo de transformação está muito bem
documentado, sem ser exaustivo ou cansativo. Para mim, que não aprecio
particularmente ler sobre política, foi perfeito. Trouxe-me conhecimento mantendo
o fio condutor da história da família Castro Gomes, família reputada em Elvas,
que viu crescer os irmãos Afonso e Duarte, ao lado da menina austríaca que
acolheram, Mia.
Esta família, à semelhança de tantas outras, irá sofrer as
consequências das escolhas políticas (que não são sequer consistentes no seio
da própria família!) e que obrigaram o irmão mais velho a fugir com a mulher
para Espanha, atravessando o rio a nado. Esta fuga é um ponto alto na história,
breve, mas intensa!
Temos aqui um pouco de tudo: uma parte significativa da
história política portuguesa, vista pelos olhos de quem estava longe das
grandes cidades, temos a saga desta família que já conhecemos do livro anterior,
temos paixões proibidas, amores inocentes, um crime e muita dor.
Temos uma narrativa cheia de pormenores, com muito em
relativas poucas páginas. Isto porque Nuno Franco Pires tem a capacidade de relatar
algo mundano de forma bonita, terna e até saudosa. Sim, porque este livro deixa
saudades, apetece continuar esta viagem, leve (ainda que a história tenha
momentos muito tensos!), serena (ainda que descreva uma revolução) e próxima
(ainda que Elvas fique a uns bons quilómetros, junto à raia!). É este o poder
de um livro, de nos levar para outro lugar, para outro momento, para outra
realidade. “Abril” foi uma viagem e tanto!
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