“A Universidade das Cabras”, um título aparentemente
estranho que faz todo o sentido depois de lida esta maravilhosa novela gráfica!
Folheei o livro na primeira vez que o vi e o que me chamou
de imediato a atenção foram as ilustrações. Porque sem serem totalmente
definidas, são tão cativantes. Mais ainda quando se vai lendo e percebendo as
subtis alterações de ambiente que vão imprimindo à narrativa. As ilustrações de
página inteira, cortadas para dar a sensação de movimento da personagem são tão
bonitas! Perdi-me muitas vezes nestas páginas, confesso.
Mas não foram só as ilustrações que me cativaram, a própria
história, repartida no tempo e entre diferentes personagens sem aparente ligação
é muito interessante! Começamos por conhecer Fortuné, em 1833, um professor
itinerante nos Alpes franceses, que percorre centenas de quilómetros com o único
objectivo de distribuir conhecimento às crianças sem acesso ao ambiente
escolar. Ele tem três penas no seu chapéu, indicativo de que tem competências
em três áreas: leitura, escrita e números. Mas as leis mudam e, de um momento para
o outro, Fortuné vê-se impossibilitado de exercer a sua profissão. Escolhe
então vender livros, permanecendo na sua saga por distribuir cultura, mas uma
vez mais é barrado. É então que decide partir, numa viagem que o leva para
longe e que lhe muda a vida para sempre.
Vamos também conhecer Arizona, na actualidade, uma
jornalista que irá ao Afeganistão entrevistar mulheres que marcaram a
diferença. O seu guia será Sanjar, um homem que já foi, também ele professor
itinerante, levando o seu quadro preto às localidades mais recônditas, para que
as crianças (meninos e meninas) pudessem aprender a ler e escrever. Mas também
ele viu os seus intentos bloqueados… E é aqui que as histórias se começam a enredar…
Este livro dá que pensar. Como é que tantas décadas se passaram e ainda assim, a história se repete? O que poderá não ser tão chocante quando passado em 1833, toma contornos muito mais assustadores pela proximidade aos nossos dias. “A Universidade das Cabras” tem ainda um posfácio brilhante, que enriquece em muito a leitura deste livro. Não deixem de a ler!
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