Marjane Satrapi já deu provas da sua qualidade em obras como
“Persépolis” ou “Bordados”. Esta autora iraniana traça um retrato da sociedade do
seu país de forma crua e frontal, principalmente no que toca à realidade das
mulheres, deixando expostas verdades incómodas, mas tão necessárias…
“Mulher Vida Liberdade” tornou-se no grito de revolta das
mulheres (e, pela primeira vez, dos homens também), depois da morte de Mahsa
Amini, espancada pela polícia dos bons costumes, apenas porque não estava a usar
o véu de forma correcta. A sua morte, em 2022, desencadeou um movimento inédito
de revolta, que não quer deixar calar as atrocidades que se praticam contra as
mulheres no Irão, em nome do que intitulam ser os bons costumes.
Marjane decidiu fazer este livro, com o auxílio de três
conhecedores da história do Irão: Farid Vahid, politólogo, Jean-Pierre Perrin, repórter
e Abbas Milani, historiador e director de estudos Iranianos. E fê-lo com dois
objectivos: se por um lado pretende dar a conhecer o que se passa no Irão ainda
nos dias de hoje, por outro, e uma vez que acompanha tudo isto do lado de fora,
quer dar força a quem vive diariamente esta opressão, mostrando-lhes que não
estão sozinhos e que a opinião pública mundial está cada vez mais desperta. Por
isso mesmo, este livro é ilustrado por inúmeros artistas, a convite de Marjane,
sendo a sua maioria de países ocidentais.
O livro é composto por textos explicativos escritos pelos três homens que referi acima e de seguida ilustrados por inúmeros artistas. Todos
eles com o seu estilo próprio, a sua identidade, mas com um objectivo comum.
Dar a conhecer uma realidade muito fechada ao mundo.
O facto de o livro ter sido construído a várias mãos, dá-lhe
uma dinâmica incrível. Foi uma excelente ideia, porque transmite ao leitor a
sensação de ouvir vários pontos de vista, várias formas de abordar um mesmo tema,
tornando-nos mais conhecedores do mesmo e mais atentos aos pormenores.
Temos aqui uma obra literária que acima de tudo pretende ser de alerta e de informação e, em ambos os casos, o objectivo é sobejamente cumprido. Marjane Satrapi tem uma visão alargada do assunto e muita coragem. Coragem de expor, expondo-se, em nome de um bem maior. Em nome das mulheres, para que não tenham o fim que Mahsa, infelizmente, teve.
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