Opinião... Ticas Graciosa * Nini

 


Saber que um livro, ainda que seja de ficção, é baseado em factos verídicos, para mais vividos pela autora, dá-lhe de imediato outra dimensão.

“Nini” é a menina protagonista desta história, que viveu no seio de uma família com graves problemas, que assistiu ao que não devia desde muito pequena, que perdeu os seus pais da forma mais trágica. Mas Nini é igualmente a menina que soube perdoar e não se deixar amargurar pelos acontecimentos, que facilmente a poderiam ter levado por um caminho de raiva e dor. Ela preferiu ver as coisas boas da vida, segurar-se a elas para continuar, em vez de se perder neste lado mau que vivenciou.

E esta é, sem dúvida, a mensagem forte deste livro. Uma lição de vida, quando nos queixamos de pequenas coisas e fazemos delas uma coisa enorme, ao vermos estes exemplos, percebemos o que são situações dramáticas. É de reflectir!

Desde cedo houve muita violência doméstica na família de Nini. O seu pai sofria de uma doença mental que o cegava de ciúmes, no entanto, apesar dos avisos dos que estavam mais próximos, nada se fez para evitar a tragédia anunciada. Se do lado da mãe de Nini todos procuravam ajudar e incentivar ao tratamento, o oposto aconteceu do lado da família paterna. Aliás todo o contexto familiar deste lado da família causa de imediato alguma estranheza, pela forma fria como se relacionavam, numa relação de quase medo.

São inúmeros os momentos deste livro em que apetece intervir e gritar sinais de alerta. É compreensível que quando se está dentro das situações se tenha uma perspectiva distorcida das mesmas, mas ainda assim é muito custoso de observar.

A escrita de Ticas Graciosa tem por vezes uma construção de frases que me dificultou a leitura, obrigando-me a reler algumas passagens. Mas à medida que o livro avança, acabei por me habituar, não tendo estragado a leitura no seu todo.

Como disse, Nini conseguiu sobreviver a este ambiente doentio, à tragédia (ela nunca culpou o pai pelo sucedido, atribuindo antes culpa à doença), às mudanças drásticas da sua vida após a tragédia (a convivência com a avó não foi fácil) e ainda achar que a vida tem muita graça. Que grande lição!

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