Isto que vos vou dizer agora é pura verdade. Terminei “A Cicatriz” ao final da noite, já na cama, e sonhei com este livro. Acordei com uma sensação de angústia que nunca experimentei com outra leitura… E isto é dizer muito de um livro, capaz de nos transmitir tal emoção, com esta intensidade!
Se tivesse de descrever esta história em poucas palavras,
escolheria: expectativa, ansiedade, angústia, horror e sofrimento. Porque toda
a acção é como que uma crónica de uma morte anunciada, parafraseando o querido
Gabriel García Márquez.
Desde o primeiro momento, o leitor sabe que algo de trágico
aconteceu e que a nossa protagonista/narradora está no seu limite. Só não
sabemos o que foi concretamente (embora se vá tornando mais previsível a cada
nova página), nem o que o ultrapassar daquele limite representa.
A protagonista e o seu companheiro (a quem ela se refere como
“ele”, sem nome) partem para o Brasil, numa viagem que esperam ser de sonho,
quase uma lua de mel antecipada. Decidem viver o que de melhor o Rio de Janeiro
oferece, sol, praias, caipirinhas, água de coco, bons restaurantes e bonitos
passeios. Ainda assim, sempre alertados para os perigos que aquela cidade
representa, principalmente para os gringos! Mas o hábito faz o monge e a
falsa sensação de segurança faz com sejam cada vez mais descuidados,
principalmente à noite. Até ao dia…
Toda a narrativa transmite uma ansiedade inacreditável para
o leitor. A escrita de Maria Francisca Gama é muito inteligente, a forma como
constrói as frases, como fala directamente com o leitor, como vai deixando
recados aqui e ali. A veracidade que confere às suas palavras é outro ponto
forte. Acreditei em cada palavra, como se uma amiga me falasse e isso fez-me
sofrer, ao acompanhar o sofrimento dela. É intenso, aviso desde já!
Outra coisa que gostaria de salientar é o facto de haver
tanto em poucas páginas (o livro tem pouco mais de 160 páginas). E não precisa
de mais, está lá tudo, numa verdadeira montanha-russa que nos deixa de cabeça
para baixo e estômago às voltas. É muito cru, não tem subterfúgios naquilo que
quer contar, afinal a nossa personagem principal já escondeu o que aconteceu,
de todos, demasiado tempo. É, agora, altura de contar a verdade e de se
libertar.
Sem comentários:
Enviar um comentário