Opinião... Valérie Perrin * Os Esquecidos de Domingo


Arriscaria a dizer que esta minha primeira leitura do ano poderá ser um dos favoritos de 2024. E desconfio que não falharei… Que livro bom este.

Da escrita de Valérie Perrin já não espero nada mais que o sublime. Esta senhora tem o dom da palavra e leva-nos a viajar com ela ao som do seu encantamento. É incrível a capacidade que tem de me transportar para dentro do livro, assim que o reabro e retomo a leitura. Vivi com estas personagens, estive naquele lar junto com Hélène, naquela casa com a Vó e o Vô. Senti a dor da perda de Justine e senti o choque de cada nova descoberta. Tudo vívido, que deleite!

Desta feita, em “Esquecidos de Domingo”, Valérie entrega-nos uma narrativa cheia de detalhes e de camadas que se traduzem numa história memorável! Por falar no título, quem são os esquecidos de Domingo? São os habitantes do lar onde a jovem Justine trabalha, cujos familiares pouco visitam, aqueles que aos Domingos (e a todos os outros dias da semana) são esquecidos e precisam de ser relembrados. Na minha opinião, este título já merecia um prémio! 

A nossa querida Justine tem apenas 21 anos, mas é uma jovem com uma carga familiar passada demasiado pesada, já que perdeu os seus pais e tios num acidente de carro quando era ainda uma criança. Ela e o seu primo, também ele órfão, vivem com os avós paternos, num lar onde não falta pão na mesa, mas onde as emoções não são permitidas. O Vô, como lhe chamam, é um homem calado e circunspecto e a Vó uma mulher que já se tentou suicidar inúmeras vezes. Justine tem sede de saber mais sobre o passado dos seus pais e depois de vários indícios de que a história não estaria bem contada, vai em busca da verdade. Será que os seus frágeis ombros aguentam com mais esta carga (emocional)?

Paralelamente, temos a história de Hélène, uma habitante do lar, por quem Justine se encanta, passando com ela longas horas. Hélène irá contar-lhe a sua história de vida, história esta que Justine irá escrever num caderno azul, para oferecer ao neto da velha senhora. E nós, leitores, teremos o privilégio de ler este caderno. Mais uma história incrível dentro deste livro. Nela iremos encontrar as várias formas de amar, o perdão, a amizade. 

Tudo é bom neste livro. Sinto que me tornei leitora ávida em busca de livros como este. Livros que se quer muito acabar porque precisamos de saber mais, mas, ao mesmo tempo, livros que não queremos que acabem, para nos mantermos dentro das suas páginas… Um livro cheio de detalhes, com uma teia tão bem construída!

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