Queria conhecer Gabriela Ruivo Trindade desde que ganhou o prémio Leya, em 2013. O seu livro, “Uma Outra Voz”, habita as minhas estantes quase desde essa altura. Felizmente tive oportunidade de ouvir a Gabriela falar num evento no Dia Mundial do Livro e gostei muito, quer das suas ideias, quer (principalmente) da sua forma de as transmitir. Foi o mote perfeito para ir buscar o livro e ler.
E posso desde já dizer que gostei muito! Encontrei nestas páginas
a mesma fluidez de pensamento a que assisti naquele dia. Aqui, conta-nos a
história de João José Mariano Serrão, um homem que fez a diferença em Estremoz,
ajudando aquela localidade a chegar a cidade, principalmente com a fábrica de
moagem e electricidade, que dá capa ao livro.
Mas esta história não nos é contada da forma tradicional. A
autora escolheu várias vozes, em vários espaços temporais, cada uma com a sua
versão da história, todas elas contribuindo para a riqueza da mesma. Ficaremos
a conhecer as pessoas, o ambiente, os acontecimentos mais relevantes, tudo em
redor deste homem que criou não só riqueza para a terra, como criou ainda os
seus sobrinhos, na ausência de filhos próprios.
Mas esta é também uma história de amor, que se vai revelando
aos poucos e é rematada pelo diário do próprio João, que fecha o livro com chave
de ouro, fechando todas as pontas soltas. Esta construção é, sem dúvida, o
ponto forte do livro, porque as várias perspectivas criam uma aura de mistério,
que o leitor tem de ir descortinando ao longo das páginas.
A autora referiu que não gosta de entregar tudo de bandeja
ao leitor e percebe-se isso neste livro. Cada nova parte é relatada por uma
nova voz, que não sabemos de imediato quem é, o puzzle apenas se vai completando
ao longo da leitura, algo que me agrada muito.
A sinopse refere que o livro se baseia em factos reais, mas
não consegui perceber quanto do livro é real e quanto é ficcionado, o que diz
muito sobre a qualidade da escrita da autora. Para além disso, a regionalização
que introduziu no seu vocabulário torna-o ainda mais verosímil.
Foi, sem dúvida, uma leitura que me agradou muito e me faz
querer descobrir mais da autora.
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