Opinião... Christina Lauren * Amor Real à Prova

Fizzy Chen, a protagonista deste livro, que vive uma ausência total de criatividade quer na sua escrita, quer na sua vida amorosa, refere a dada altura que se vais escrever um livro que todos sabem como começa e como acaba, tens de ter um meio cativante que prenda o leitor até ao final.

E foi precisamente isso que fizeram Christina Lauren, neste “Amor Real à Prova”. Conhecemos a escritora Fizzy e o produtor televisivo Connor, percebemos de imediato a química, ficamos a assistir aos seus encontros e confrontos, apenas à espera do final feliz!

Connor tem em mãos um grande desafio, habituado a produzir programas sobre vida selvagem é agora obrigado a criar um reality show amoroso. Totalmente fora da sua zona de conforto, irá encontrar em Fizzy a protagonista ideal para encontrar o seu par num programa televisivo de grandes audiências.

Fizzy é aquela personagem sem filtros, que diz e faz tudo o que pensa, o que torna este livro um pouco apimentado, enquanto consegue arrancar vários sorrisos e até algumas gargalhadas ao leitor. O mundo dos reality shows é algo relativamente recente, mas que já se impôs na sociedade moderna, e é aqui abordado de forma muito inteligente.

Temos um romance que entretém, com duas personagens principais amorosas, das que gostamos de gostar e por quem torcemos, enquanto aguardamos pelo referido final feliz. No que toca a entretenimento, este livro cumpre perfeitamente o seu propósito.

Opinião mais detalhada em video:




Opinião... Francesca Giannone * Amanhã, Amanhã

Descobri Francesca Giannone com “A Carteira” e fiquei fã. A escrita, a história, as personagens (memoráveis), tudo é bom naquele livro. Parti, portanto, para a leitura de “Amanhã, Amanhã” com as expectativas bastante altas.

E, a verdade é que a escrita se mantém bonita e com aquele toque charmoso dos italianos. Foi um deleite percorrer estas páginas até quase ao final. E é aqui precisamente, no final, que está o cerne da questão…

Se este livro tiver continuação, estou pronta para acompanhar Agnese e Lorenzo e a sua paixão pelo legado do avô, a fábrica de sabonetes. No entanto, se for um livro único, fico com uma sensação muito agridoce, já que o final não me satisfez. Poderá subentender-se algumas coisas, mas faltou-me tudo o resto…

Temos aqui uma história de família, centrada em dois irmãos, para quem a Casa Rizzo é tudo. Criado pelo seu avô, é o negócio de família que apaixona Agnese e Lorenzo, ainda que de maneiras diferentes. Enquanto Agnese trata de tudo o que se relaciona com a produção do sabonete, desde os aromas aos seus componentes, numa quase magia alquímica, Lorenzo é mais virado para o mercado e para as vendas, chegando a desenhar a publicidade da marca.

Um revés que veio de dentro da própria família irá desequilibrar esta estrutura e afastar os dois irmãos que pensam de maneira muito diferente, e que se reflete no seu percurso de vida a partir daí.

Gostei muito de conhecer esta família, muito bem descrita por Francesca, no entanto, como referi, o final fez esmorecer (em muito) o meu entusiasmo com o livro como um todo.

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Louise Candlish * Nas Alturas

Louise Candlish apresenta em “Nas Alturas” um thriller com uma boa dose de vingança e ódio, mas acima de tudo, de acções movidas pelo amor de uma mãe.

Há tantas atitudes e decisões, principalmente no início do livro, que levantam tantas bandeiras vermelhas! A dada altura tinha vontade de lhes gritar: “parem, por favor!”. Assistir sem poder intervir é deveras angustiante!

Ellen está na casa de uma cliente quando olha pela janela e vê um homem que conhece no terraço do prédio em frente. O problema? Para Ellen, aquele homem estaria morto há dois anos!

É este o ponto de partida que nos leva a conhecer esta história, repartido entre o presente, depois de Ellen ver Kieran, o homem supostamente morto e o passado conturbado.

Gostei bastante deste thriller, principalmente de alguns elementos que o diferenciaram, por exemplo, a fobia que Ellen tem às alturas (não no sentido da vertigem, mas sim da compulsão para saltar), ou os capítulos curtos intercalados no todo, relativos a aulas onde se aprende a escrever a própria história, quando a mesma se reveste de contornos trágicos e obscuros.

Os volte face são vários e bem construídos, algo imprevisíveis e a questão que se levanta com os diferentes pontos de vista, dependendo de quem narra, ainda que todos tenham vivenciado a experiência, são também eles muito interessantes.

Em suma, gostei bastante desta leitura, com conteúdo rico, mas que entretém e me manteve sempre presa a estas páginas!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Holly Ringland * As Sete Peles de Esther Wilding

Como eu me delicio com livros como “As Sete Peles de Esther Wilding”. Livros com uma história boa, desenvolvida de forma exímia, com personagens bem construídas, sem pressas. Com imensos detalhes e informações que enriquecem o todo. Até papagaios do mar vamos encontrar aqui!

Se eu já tinha gostado muito de “As Flores Perdidas de Alice Hart”, voltei a adorar a escrita de Holly Ringland. A capa já denuncia muita da magia que o interior esconde, com pitadas de mitologia, histórias locais, tradições e costumes. Para mais, a acção desenrola-se entre a Tasmania (!), Austrália, Dinamarca e Ilhas Faroé, tudo destinos incomuns na literatura.

A história base é triste, mas é um percurso de luto que leva estas personagens sofridas à compreensão, tão necessária e importante.

Aura e Esther Wilding são irmãs. Aura entre mar adentro e nunca mais é encontrada e a irmã sente a sua vida condicionada por esta dúvida. O que aconteceu à irmã que a levou a esta decisão drástica? É em busca de respostas que parte para a Dinamarca, país onde Aura viveu durante 3 anos e meio e de onde regressou sem alma...

Adorei cada página deste livro, que para mim foi um daqueles para saborear, devagar. Acontece tanto nestas páginas!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Buzzy Jackson * A Rapariga de Cabelo Vermelho

Hannie Schaft destacou-se pela sua ousadia e coragem, durante a Segunda Guerra Mundial.

Holandesa, Hannie, apesar de não ser judia, rapidamente viu a sua liberdade condicionada pela vontade alemã, ao mesmo tempo que assistia à perseguição a duas das suas melhores amigas, elas sim, judias.

Hannie não se conformou com a situação e decidiu aliar-se à resistência, assumindo um importante papel nesta organização. A sua coragem e bravura fizeram história, agora retratada neste “A Rapariga de Cabelo Vermelho”, isto porque Hannie era ruiva e foi assim que ficou conhecida entre os oficiais nazis.

Tratando do tema que trata, obviamente que temos aqui um livro muito duro, com situações limite, quer físicos, quer mentais. Hannie é, sem dúvida, um exemplo do que é lutar pelo que se acredita. Nesta perspectiva, gostei muito deste livro, assim como da forma como está escrito, com muito detalhe, de forma nua a crua, como o tema exige.

Opinião mais detalhada em vídeo:



Opinião... Mafalda Santos * Conta-me, Escuridão!

Mafalda Santos é um caso sério de escrita em Portugal. Porquê? Por conta da sua imaginação fora da caixa, dos meandros ficcionais em que se move e pela forma como narra a história.

Desta feita, em “Conta-me, Escuridão”, tem ainda um ponto a favor adicional. A ideia para o livro nasceu de um desafio conjunto entre a Mafalda e David Benasulin. Partindo de quadros conhecidos, David reinterpreta-os pelo seu traço e Mafalda pelas suas palavras.

O resultado são 8 histórias curtas, que se movimentam nos meandros do horror, com cenas quase claustrofóbicas, a fazer lembrar sonhos perturbadores de onde não conseguimos sair.

Achei a ideia muito bem conseguida e concretizada. Se algo tenho a dizer, prende-se com um gosto pessoal, que me impede de adorar tudo o que são histórias curtas ou contos, porque fico sempre com sede de mais. No entanto, face à premissa, julgo que todas elas têm o espaço totalmente adequado e é incrível revisitar o quadro depois de ler a história. Está tudo lá!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Beatrice Salvione * A Malnascida

Cruzei-me com “A Malnascida” na Noite da Literatura Europeia, já que este livro foi o representante de Itália naquele evento, no ano passado. A pequena passagem que ouvi, interpretada pela atriz Carolina Amaral, conquistou-me de imediato!

“A Malnascida” conta-nos a história de Maddalena e de Francesca, duas meninas que criam um forte laço de amizade ainda que inesperado. Maddalena é a malnascida que dá título ao livro, já que estava sozinha em casa com o irmão, quando este caiu da janela e morreu. Ficou então ligada a este estigma da pouca sorte, fazendo todos afastarem-se. Todos menos Francesca, uma menina proveniente de uma família mais abastada, que contrariando regras e convenções, prefere a companhia da Maddalena, no meio do rio ou da lama, a estar vestida com laços e rendas.

A relação de amizade destas duas meninas é, de facto, o ponto central do livro, e mostra-nos como amizades de infância são as mais fortes, porque nascem do coração.

A escrita de Beatrice Salvioni é muito italiana, se assim posso dizer. Sente-se o espírito daquele país em cada página do livro, o que me fez gostar ainda mais desta história, que sabemos desde o início, não é feliz. E ainda assim, não queremos deixar de acompanhar estas duas personagens que têm uma força incrível, mesmo contra uma sociedade marcadamente masculina!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Rita da Nova * Quando os Rios Se Cruzam

Estreei-me com Rita da Nova com este seu último livro “Quando os Rios se Cruzam” e foi uma excelente estreia!

Itália é um país a que associo, de imediato, sonhos. E para Leonor, ir para Erasmus em Turim não foi mais do que a concretização do sonho de se libertar da opressão da mãe. O seu pai emigrou há vários anos e, a partir dessa data, a mãe de Leonor aproveitou-se da situação para exigir da filha muito mais do que devia.

Será em Turim que Leonor irá dizer sim a tudo (mesmo ao que não deve), num quase grito de Ipiranga, ainda que com o anjinho bom a sussurrar frequentemente, porque na verdade ela é uma boa menina. Mas até às boas meninas acontecem tragédias e aqui sabemos desde o início que aconteceu uma, só não sabemos o quê...

E é neste suspense que vamos vivendo as páginas do livro, ansiando e temendo em doses iguais o que terá sucedido. E ainda que prevenida, posso dizer que me apanhou de surpresa e incomodou!

Gostei muito da escrita da Rita, fácil de acompanhar, ainda que bonita e adorei sentir Itália nestas páginas. Conheço algumas cidades deste país, mas não Turim, que, terminada a leitura, entrou na lista de locais a visitar!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Jenny Colgan * A Livraria dos Segredos

Jenny Colgan é um dos meus guilty pleasures literários. Sempre que é editado um novo livro da autora, quero muito lê-lo de imediato.

Foi o que aconteceu com “A Livraria dos Segredos”. E, de facto, foi como regressar a um lugar de conforto, onde conheço os cantos à casa e não antecipo surpresas. Mas, ainda assim, me sabe tão bem!

Carmen não está a viver dias fáceis, perdeu o seu emprego e deixou de ter forma de se sustentar. Para complicar ainda mais a sua vida, a sua irmã Sofia aparenta ter uma vida de sonho, tornando inevitáveis as comparações dos pais... E será a irmã que lhe vai arranjar uma solução, ao propor-lhe reerguer uma livraria à beira da falência, já que o seu dono, embora amoroso, quer mais falar sobre livros do que vendê-los!

Obviamente que pelo meio teremos romance, com os devidos malentendidos, típicos deste tipo de livro. Carmen acaba por ser uma daquelas personagens de que inevitavelmente gostamos, porque não tem maldade, apenas inocência.

Jenny Colgan volta ao seu registo, com a cereja no topo do bolo de envolver uma livraria, o que torna qualquer livro logo mais especial, oferecendo aqui um romance bonito e quentinho.

Opinião mais detalhada em video:









Opinião... Carmen Mola * A Besta

Se há leituras que me enchem as medidas, são as de livros como este, onde as descrições são tão vívidas que me sinto lá, vejo os locais, sinto os cheiros, percebo as personagens, reajo ao seu desespero até.

Aqui, os Carmen Mola, levam-nos até Madrid, em 1834, quando a cidade se encontra assolada pela cólera. Tudo é imundo, pobre, doente e, como se não bastasse, há alguém ou algo, consoante as crenças populares, a atacar meninas, deixando-as aos bocados nas ruas da cidade. Ninguém sabe quem é a Besta, mas Diego é um jornalista que não quer deixar morrer o caso e encontra na jovem Lucia o fio condutor que precisava.

A personagem de Lucia é incrível, pela forma como a sua vida se desenrola, mas também pela forma como ela reage a cada adversidade.

Temos aqui um livro que está classificado como thriller, mas que, na minha opinião é mais um romance de época, muito bem construído, com personagens fortes e com pitadas de acção, bastante bem doseadas ao longo de todo o livro, mas sem picos de adrenalina. E com isto não estou a fazer uma crítica, mas um elogio, apreciei muito mais a leitura desta forma!

Opinião mais detalhada em video:



Opinião... Cho Nan-Joo * Kim Jiyoung, nascida em 1982

Kim Jiyoung tem 33 anos e está à beira do colapso. Mãe de uma menina de pouco mais de 1 ano, começa a ter comportamentos estranhos, adquirindo a personalidade de pessoas que lhe estão próximas.

O marido, preocupado, leva-a ao médico, e faremos com eles uma viagem retrospectiva do que foi a vida de Kim até ao momento, ficando claro o porquê das suas atitudes.

Trata-se de um livro duro que expõe o que é o papel da mulher na sociedade coreana, toda a luta das mulheres que têm à sua responsabilidade família, trabalho, filhos, sendo simultaneamente alvo de assédio descarado, numa total falta de respeito.

Gostei particularmente da forma como trata o tema da depressão/esgotamento, numa perspectiva pouco convencional, com um final que é um soco no estômago. Afinal, os círculos viciosos repetem-se infinitamente…

Opinião mais detalhada em video:




Opinião... Rodrigo Guedes de Carvalho * Matarás um Inocente e Dois Culpados


Quando gosto de um autor, tenho por hábito não ler as sinopses dos seus livros. Sei que quero ler, portanto, prefiro até ir à descoberta.

Foi o que voltei a fazer com o novo livro de Rodrigo Guedes de Carvalho, “Matarás um Inocente e Dois Culpados”, mas logo às primeiras páginas pensei que me tinha enganado e estava a ler novamente “As Cinco Mães de Serafim”. Confesso que fiquei muito baralhada, até perceber que este livro dá continuidade àquela história, fazendo um enquadramento completo para que quem não a leu, a possa perceber.

Este foi um dos pontos que menos gostei do livro, porque tendo lido o anterior, passei várias páginas com a sensação de dejá vú. Compreendo o porquê, mas não contribuiu positivamente para a minha experiência de leitura.

Retomamos então a história de Miguel Serafim que, aos 10 anos, perdeu as suas quatro irmãs de uma assentada. A mais velha desapareceu e as outras três morreram no mesmo dia, há 50 anos, precisamente no 25 de Abril de 1974.

Miguel tem hoje sessenta anos, mas continua a carregar o peso desta desgraça que assolou a sua família e será agora, finalmente, que vai descobrir toda a verdade. Nunca ele poderia imaginar tudo o que realmente se passou.

Se por um lado, retornei à escrita de Rodrigo Guedes de Carvalho, que adoro e me delicia, por outro, não achei este livro totalmente necessário. É certo que gostei de saber os pormenores dos acontecimentos, mais ainda da forma como o autor escolhe contar, utilizando acontecimentos e situações reais, incorporadas na narrativa de forma sublime.

Parece-me que este livro precisará de uma releitura daqui a uns anos, quando os pormenores já me escapem, acredito que saborearei esta leitura de outra forma, nessa altura.

Opinião... María Martínez * O Que a Neve Sussurra ao Cair

 


Este livro talvez tenha a capa e o título mais bonitos do ano. Ficou de imediato reservado para ser lido nos dias em torno do Natal, altura em que procuro uma leitura fofinha, de conforto.

Acertei em cheio, ainda que o livro não seja tão leve quanto a capa poderia mostrar.

Ainda assim, adorei conhecer estas personagens: Hunter e Willow, duas pessoas marcadas pela vida, de maneira diferente, mas igualmente profunda. Se Hunter enfrenta a dúvida das suas origens, depois de passar uma vida a sentir-se a mais na família, Willow sente-se usada e abusada por todos quantos a rodeiam e decide afastar-se, indo viver uns tempos com a sua avó.

É nesta localidade que se vão encontrar e o primeiro impacto não vai ser positivo, antes pelo contrário… Uma série de mal-entendidos rapidamente vão criar uma relação de ódio bilateral. Mas já se sabe bem como funcionam estas coisas, não é? Ultrapassada esta barreira imaginária, ambos vão perceber o bem que se querem e que fazem um ao outro.

Temos aqui, portanto, temas difíceis, abordados de forma directa com as suas consequências nas personagens bem expressas na forma como agem. Mas temos também acção muito amorosa, o crescimento de uma relação que, longe de perfeita, é bonita.

Foi, de facto uma excelente altura para ler este livro e adorei de que forma o título está integrado na história. O que será que a neve sussurra ao cair? Terão de ler para descobrir…

Vai valer a pena, se procuram um romance bem escrito, mas leve, com personagens ricas, com vários estados de espírito (não é isso a vida?) e com um enredo típico de um bom romance, então o livro de María Martínez é uma excelente sugestão.

Opinião... Afonso Cruz * O Livro do Ano

 


“O Livro do Ano” de Afonso Cruz habitava já a minha estante há vários anos. Soubesse eu que o leria em menos de uma hora e já o teria lido há muito…

Li agora e honestamente, não sei muito bem o que dizer sobre ele. É um livro simples, com ilustrações muito bonitas e algumas frases tocantes. Algumas, não todas, na minha opinião.

Não dei o meu tempo de leitura por perdido, foi um momento agradável, mas não memorável. Confesso que não esperava o conteúdo, ainda que seja um belíssimo objecto, mais ainda pelas ilustrações.

Ainda assim há uma frase que me tocou muito, que aqui transcrevo: "Para aquecer o corpo, o melhor é uma lareira. Mas, para aquecer a parte de dentro do corpo, o melhor é ler." Ler é sempre o melhor remédio!

Opinião... Liz Nugent * A Estranha Sally Diamond

 

Avancei para a leitura de “A Estranha Sally Diamond” sem saber ao certo o que lhe provocava a referida estranheza. E este livro começa logo de forma bruta, quando Sally perde o seu pai, Tom, e decide seguir à letra as palavras deste, colocando-o num saco do lixo e incinerando-o na pequena incineradora doméstica que tinham na quinta. Obviamente não poderia correr bem…

Primeiro o choque, nosso, enquanto leitores, e da população que não compreende Sally. Depois o entendimento, mas apenas o nosso, que vamos conhecendo os seus antecedentes, não o da população, que não têm acesso a toda esta informação.

Tom não é afinal o pai biológico de Sally, isto porque os seus primeiros anos de vida foram passados bem longe dali e em circunstâncias muito diferentes. E ainda que Sally não tenha memória viva desses tempos, a verdade é que moldou a pessoa que é hoje, socialmente inadaptada, com muita dificuldade em entender nas entrelinhas. Para ela tudo é linear e taxativo.

Mas Sally é daquelas personagens que cativam o leitor. Que se entende e quer ajudar. E assistir ao seu percurso de crescimento pessoal é incrível, a forma como o apoio de quem gosta dela a torna mais confiante a cada passo, a forma como lhe dão espaço e carinho em simultâneo é muito enternecedora. Mas Sally tem ainda de enfrentar muitos fantasmas, até porque uma misteriosa encomenda recebida no correio vai fazer tudo remexer de novo…

Gostei muito deste livro, do princípio ao fim! Intenso, bem escrito e com uma narrativa coerente, ainda que muito pesada. Nem o classificaria como thriller, mas mais como uma história de vida. Uma vida que foi perturbada demasiado cedo e que obrigou Sally a viver com as consequências…

Opinião... João Tordo * Os Dias Passados


Que livraço este!

Quem me segue, sabe que gosto muito dos livros de João Tordo, ainda que não os adore todos na mesma medida. A trilogia que começou com “Águas Passadas” apresentando-nos uma personagem muito carismática, a Pilar Benamor, continuou com “Cem Anos de Perdão” e é agora rematada com “Os Dias Contados”, que curiosamente nos leva ao passado para conhecermos as origens de Pilar e entender a mulher que se tornou.

Tudo é bom neste livro, o início é hilariante, mais ainda para quem esteve na apresentação do livro e ouviu este episódio pela voz do autor, com o seu toque de humor tão característico e cativante. Foi muito fácil viver todas estas cenas na estância de esqui e foi surpreendente começar um thriller desta forma. Foi uma aposta arriscada, diria eu, mas totalmente conseguida.

Fiquei de imediato viciada neste livro! E para quem possa pensar que os acontecimentos na neve são fortes, não sabe ainda o que o espera! A premissa de que ninguém nasce assassino, as circunstâncias é que criam o assassino, é muito inteligente e a sua concretização é brilhante.

O pai de Pilar viveu obsecado com um caso que, apesar de resolvido, não o convenceu. Até à sua morte em serviço, lutou por descobrir a verdade, sem o conseguir e Pilar sente o peso desta herança, que acaba por lhe vir bater à porta quando o famoso embalsamador (ou alguém inspirado nele) volta ao ataque.

Temos aqui um thriller viciante, cheio de acção, de cenas muito duras, principalmente as que envolvem o pequeno Dylan e um final bem construído, que fecha a trilogia com chave de ouro.

Pilar Benamor é uma personagem marcante e a boa novidade é que a poderemos encontrar no ecrã, na série que vai adaptar “Águas Passadas” em breve.

Opinião... Misaki Yazuki e Hyaku Takara * O Meu Marido Dorme no Congelador

Comecemos pelo título: “O Meu Marido Dorme no Congelador”. Muito sugestivo, não? Para além de despertar logo a curiosidade, remete-nos para algo inesperado e, quem sabe, mórbido.

Pois bem, Nana é a protagonista deste mangá e percebemos de imediato que é vitima de violência doméstica. O seu marido agride-a e desrespeita-a desde sempre. Ainda que para os outros pareça o marido perfeito, já que vive sob uma camada de bem parecer, ele é tudo o que não se procura num companheiro. Nana chega ao seu limite e decide matá-lo, para o esconder de seguida num congelador dentro de um anexo da casa.

É com alívio e satisfação que Nana cumpre a sua missão, mas o que ela não espera são todos os acontecimentos que se seguem... Para descobrir quais são, é preciso ler esta história que, num dado momento, me pareceu ter escolhido o caminho mais fácil para a resolução da teia que criou em seu redor, mas que soube contornar muito bem a situação a partir daí, chegando a um final muito satisfatório.

Em termos gráficos, este mangá, a preto e branco, é bastante expressivo e adequado à narrativa que o acompanha. Tem ainda a grande vantagem de, em Portugal, ter sido editado como um livro único, composto pelos dois volumes, pelo que podemos ler a história completa de uma assentada.

Para quem, como eu, não é um fã entusiasta deste género, aqui fica a prova que há livros para todos os gostos. Não podemos remeter os mangás apenas ao seu estilo mais conhecido. “O Meu Marido Dorme no Congelador” será para todos aqueles que gostam de uma boa história de suspense, com pitadas de horror e muitos nervos à flor da pele! 


Opinião... Keum Suk Gendry-Kim * Erva


De quanto horror é capaz a humanidade? E como é possível esta capacidade do ser humano de impor sofrimento ao seu semelhante?

Sempre que leio livros sobre as atrocidades cometidas ao longo do planeta, maioritariamente em cenários de guerra, fico muito incomodada. Será que não há evolução na humanidade? Nem esperança?

Em “Erva” Keum Suk Gendry-Kim conta-nos a história verídica de Ok-Sun Lee, uma mulher coreana que desde criança viveu em sofrimento. Nascida numa família numerosa e pobre, os seus pais acharam que entregá-la seria a forma de lhe dar um futuro. No entanto, as promessas de uma vida mais tranquila rapidamente foram substítuidas por um dia-a-dia de trabalho forçado. Que só veio a piorar quando Ok-Sun foi vendida e levada para a China para servir numa casa de Conforto. Era o nome dado às casas onde estavam meninas disponíveis para satisfazer os soldados chineses e japoneses.

Ok-Sun, à semelhança de tantas outras jovens foi abusada, desrespeitada, mal tratada. Passou fome, privações, humilhações. E isto durante anos. Foi a próprio que contou o seu passado à autora, o que torna tudo ainda mais real.

É este retrato que Keum nos entrega através do seu traço tão original. Se por vezes tem uma delicadeza sem fim, noutros é um traço duro e forte, como são as cenas que retrata. Tudo tem o seu momento e esta autora sabe criar impacto no leitor. O facto de ser totalmente a preto e branco também contribui para esta percepção.

Se já tinha gostado (ainda que também me tenha incomodado!) do seu livro anterior “A Espera”, este “Erva” foi muito mais pesado e impactante para mim. Sem dúvida um livro importante, que permanecerá nas minhas estantes para ser relido e sobre o qual falarei sempre que a ocasião o permitir. Fica a forte recomendação!

Opinião... Helena de Macedo * Exótica Coisas do Mundo


Helena de Macedo foi uma autora que descobri há uns anos e que se revelou uma excelente leitura, pela qualidade da sua escrita, cuidada e com personagens muito ricas em termos de desenvolvimento. Quando a autora me convidou a ler o seu novo volume “Exótica Coisas do Mundo” não hesitei.

Não posso, no entanto, deixar de referir a estranheza da capa e do título. Porque a verdade é que diria que os mesmos me passariam despercebidos numa livraria, ainda que os perceba finda a leitura.

Mas não é só da capa que vive um livro, não é verdade? E o seu conteúdo foi, novamente, cativante desde o início. É muito interessante a capacidade que Helena tem de apresentar as suas personagens e as tornar familiares ao fim de poucas páginas. Aqui temos três gerações de uma família, a avó Luísa, os seus filhos Inês e Tomás e a neta Vitória. O livro começa com a morte de Luísa, para desgosto de todos, mais ainda da sua neta.

A relação entre as duas é das coisas mais bonitas que este livro tem, mágica! Luísa deixou por escrito a parte desconhecida da sua vida, revelando uma sua faceta que explicou muita coisa que todos estranhavam, ainda que a explicação não seja fácil de digerir. E nós, leitores, iremos nesta viagem ao passado juntamente com Vitória.

A dada altura a narrativa envereda por uns caminhos mais esotéricos que, pessoalmente, não me dizem muito. Apreciei muito mais a relação entre as personagens, a sua experiência de vida, a forma como Luísa foi capaz de dar a volta face à adversidade, quando se viu até impedida de ver os filhos.

Em suma, foi uma leitura que me interessou do início ao fim, apesar da temática tão presente ao longo da história, o que é até interessante de analisar. Mas diria, sem muitas dúvidas, que a sua escrita é claramente a responsável!

Opinião... Michiko Aoyama * Chocolate Quente às Quintas-Feiras

 


As light novels japonesas vieram para ficar. Têm sido inúmeros os livros editados recentemente, de autores do país do Sol Nascente e com características algo semelhantes. O mote e a mensagem, principalmente.

Gosto deste género literário e não podia deixar de ler “Chocolate Quente às Quintas-Feiras” que na minha opinião prima pela originalidade dos pormenores.

Começando pela divisão dos capítulos, cada um de sua cor, para compor uma palete de tons pastel no final. A forma subtil como a cor caracteriza cada um dos capítulos conquistou-me! Depois temos o fio condutor que une todo o livro. Cada capítulo é dedicado a uma personagem, que não terá ligação directa com outras do livro, mas que já apareceu algures no cenário. Adorei este pormenor e a forma como a história fecha este ciclo.

No que toca à mensagem, temi, nas duas primeiras histórias que fosse uma mensagem forçada em demasia, qual livro de auto-ajuda. Mas felizmente essa sensação desvaneceu-se e consegui apreciar o livro no seu todo.

Pequenino, de fácil leitura, aconchega e reconforta ao mesmo tempo que provoca um sorriso. Contém um pouco daquela leveza da escrita asiática, que mais parece que caminhamos sobre nuvens, tão agradável e surpreendente.

Opinião... Elena Fischer * A Viagem de Billie


“A Viagem de Billie” foi uma excelente surpresa! Quando li a sinopse, ainda que tenha ficado interessada na leitura, também fiquei um pouco receosa que fosse demasiado juvenil, já que a Billie, a protagonista que dá título ao livro, tem apenas 15 anos.

Mas não foi nada disso. Billie, por conta das suas circunstâncias de vida, foi obrigada a crescer demasiado depressa e isso reflete-se na maturidade da história.

O livro começa de forma trágica, no funeral da mãe de Billie. Esta jovem vive dias negros depois de uma vida dura, e a perspectiva de futuro também não é risonha. Ao longo destas páginas vamos conhecer o seu passado, quando vivia sozinha com a mãe, de origem húngara, passando muitas vezes necessidades financeiras. Não sabe sequer quem é o seu pai. Vamos também conhecer o que levou à morte da sua mãe e a forma como isso condicionou as suas acções futuras.

É um livro extremamente duro, sem ser lamechas. E, sendo o romance de estreia da autora Elena Fischer, mais relevante se torna a forma como a história é descrita e como, logo desde as primeiras páginas, se entranha no leitor. Senti, desde início que já conhecia Billie, sofri com ela e torci para as coisas lhe corressem bem. Na biografia da autora refere que foi nomeado para Livro do ano na Alemanha, e compreendo bem porquê.

É um romance muito bem desenhado, que nos faz acreditar que o amor pode ser sempre redentor, mesmo quando não se trata de sangue do seu sangue. E a Billie é uma personagem que se quer acarinhar, abraçar e dizer que vai ficar tudo bem!

Opinião... Valérie Perrin * Querida Tia

 


Que bom é saber que há um livro novo de uma autora que se adora. A expectativa do que lá vem, o prazer da leitura e a história que fica connosco depois…

Valérie Perrin produz este efeito em mim. Adoro a sua escrita, a sua forma de contar a história, o uso que faz de cada palavra, a importância que cada personagem tem, a riqueza da narrativa. Tudo é bom nos seus livros.

Em “Querida Tia” temos Agnès, que determinado dia recebe uma chamada inesperada, dizendo que a sua tia Colette faleceu. Mas a sua tia já tinha falecido três anos antes, como era possível tal coisa?

Esta situação peculiar desencadeou uma sucessão de acontecimentos que deram uma volta na vida de Agnès fazendo-a voltar à terra da tia para perceber o que se passa. Quem é a pessoa que morreu no passado, quem era a sua tia, que segredos escondia… Agnès passou muito verões com esta tia, e tinha por ela um carinho especial, contudo, havia muito da sua vida (e dos que a rodeiam) que ela não fazia ideia e que vai agora descobrir.

Temos aqui uma viagem ao passado, às bases da família da qual Agnès descende, mas temos também muito mais história, encerrada em cada uma das personagens (mesmo das que, à partida, designaríamos por secundárias). Há tanto a acontecer neste livro. Tanto enredo que se enleia e que se desata apenas no final, quando Agnès percebe realmente o que se passou e nós, leitores, também.

É inevitável comparar os livros de uma autora, mais ainda quando alguns deles estão entre os favoritos de sempre. Nesta comparação, “Querida Tia” fica um pouco abaixo de “A Breve Vida Das Flores” ou “Os Esquecidos de Domingo”. Mas atenção, fica abaixo, dentro de uma classificação de excelente! Porque eu adorei “Querida Tia”, Valérie Perrin já conquistou definitivamente o seu lugar no meu coração de leitora e não há nada que escreva que não me encha as medidas.

Se procuram uma boa história, um livro denso, mas delicioso de se ler, um livro que nos permite viver com ele durante a leitura e que permanece connosco depois desta, este é o livro certo!

Opinião... Daniel Hurst * A Mulher do Médico


“A Mulher do Médico” é Fern. O médico é Drew. A sua amante é a Alice. E o marido da amante do médico é o Rory.

E estas são as quatro personagens principais deste thriller levezinho, que nos oferece uma história clássica de traição e vingança, contada de forma simples, onde é fácil entender cada personagem e a suas motivações.

Por isso mesmo, é também relativamente fácil entender o rumo da história, que não se revelou muito surpreendente para mim. Consegui antecipar cada volte-face, e parece-me que acontecerá o mesmo a todos quantos costumem ler este género literário. A verdade é que, para quem lê muitos thrillers, vai ficando cada vez mais difícil inovar e oferecer uma acção que deixe o leitor de queixo caído.

Ainda assim, achei uma leitura divertida e que me distraiu sempre, com um fluxo constante e moderado de acção que cumpre o propósito.

Drew decide mudar de Manchester para uma pequena aldeia com o argumento que já não aguenta tanto trabalho no hospital e a sua mulher Fern, acaba por aceitar a mudança. Drew não quer, contudo, mudar de local de trabalho, ele apenas tem em mente estar próximo da sua amante, mas o que Drew não sonha é que Fern sabe de tudo…

As personagens estão bem delineadas e descritas, os locais são bastante reais, é fácil imaginar a acção a ocorrer em cada um deles e tudo é coerente. Na minha opinião faltou algo mais chocante e/ou fora da caixa, para o tornar especial, ainda assim é uma leitura agradável, ainda que falemos de traições e vinganças!

Opinião... Beatriz Serrano * O Desencanto


Já há muito tempo que não encontrava uma personagem que eu entendesse tão bem logo às primeiras páginas! Quase diria que já conhecia Marisa, uma amiga antiga, com quem retomei o contacto mais recentemente, mas cuja conexão nunca se perdeu.

É engraçado como se criam estes laços invisíveis com personagens…

Marisa não tem papas na língua, é frontal, até um pouco desbocada. Para nós, leitores, é totalmente transparente, e permite-nos seguir o seu fluxo de pensamentos (constante e abundante!). Através dele percebemos o quanto ir trabalhar a afecta. Porque é um sentimento sempre presente de desperdício do seu tempo útil, que pouco lhe deixa para fazer o que realmente lhe dá prazer.

Quantos de nós não pensámos já o mesmo? Não fossem as responsabilidades e as contas para pagar, quantos permaneceriam nas suas funções profissionais?

Marisa dá voz a estes pensamentos que assolam toda a gente, arriscaria a dizer, cada vez mais… Mas também é Marisa que nos vai dar a conhecer outros lados desta moeda.

E é aqui que o livro dá que pensar e me fez gostar muito dele. Qual é o nosso propósito de vida? Qual o nosso papel na sociedade? Porque seguimos normas e regras, muitas das vezes, que nem sequer nos são impostas?

A dada altura, há uma situação descrita no livro, durante um outdoor da empresa, que ocupou o fim de semana de todos os funcionários (e que ocupa umas quantas páginas do livro), que eu não consegui compreender o intuito e me fez esmorecer um pouco o entusiamo, mas poderei ter sido eu a não alcançar as razões por detrás das acções…

No computo geral, foi uma leitura que gostei muito de fazer, que me permitiu reflectir e fazer uma pausa na correria diária. A escrita é muito cativante, pela sua frontalidade e Beatriz Serrano foi uma nova autora que me surpreendeu. O livro é composto por três partes, mas as duas últimas são muito pequenas. A segunda parte é hilariante, e fez-me rir a bom rir, e o final fecha o livro de forma brilhante!

Opinião... Sarah Pearse * O Parque


É sempre com agrado que começo um novo thriller de Sarah Pearse. Ela tem uma característica que gosto muito neste género de livros, a claustrofobia! A sensação de que aquelas personagens estão fechadas num determinado sítio (ainda que seja ao ar livre), imprime na acção uma aflição que resulta muito bem.

“O Parque” tem ainda um bónus, já que grande parte da acção se passa em Portugal! Ainda que não refira qual o sítio, sabemos que é no Gerês, esse parque natural lindo, mas igualmente cheio de histórias mais macabras, ideal para servir de cenário a esta narrativa.

A detective Elin está de férias com o irmão e decidem passar uma temporada em Portugal. O que Elin não sabia é que o irmão traz uma missão consigo. Ajudar o amigo Penn a encontrar a irmã desaparecida, que terá sido avistada pela última vez, precisamente neste Parque.

De repente esta busca transforma-se numa situação muito mais pessoal do que Elin alguma vez poderia ter imaginado, levando-a a várias conjecturas, algumas rapidamente caindo por terra, até ao caminho da descoberta final.

Achei a primeira parte do livro bastante leve, quase em jeito de romance, deu tempo para conhecer as personagens e os locais. Mas a partir de determinado acontecimento, que vira completamente o jogo, a leitura torna-se acelerada em busca de respostas!

Gostei bastante deste thriller, do desenvolvimento da história, das razões e das questões que levanta. Gostei particularmente do papel do acampamento no meio de tudo isto. E uma vez mais, ainda que no meio de um parque imenso, a sensação de claustrofobia não faltou, e foi muito apreciada!

Opinião... Zidrou e Oriol * Naturezas Mortas


Fui enganada! Até ao momento em que escrevo esta opinião, acreditei piamente que Vidal Balaguer existiu! Um comentário nas redes sociais fez-me levantar a suspeita que poderia ser ficção e uma busca na internet não me esclareceu totalmente. Que teia bem urdida! Palmas para o brilhantismo de Zidrou!

“Naturezas Mortas” apresentou-me, então Vidal Balaguer, um pintor espanhol de quem se sabe a data de nascimento, mas não a de morte, sendo a sua vida revestida de uma certa aura de mistério que foi captada de forma brilhante por Zidrou e Oriol.

Através de um traço algo diferente, mas que me pareceu totalmente adequado ao tema, numa aproximação à pintura do próprio artista, vamos desbravando a sua vida e a peculiaridade por detrás daquilo que pinta.

O final é brilhante, a construção da narrativa igualmente, ao jeito do que Zidrou já nos habituou. É um livro que se lê e desfruta relativamente rápido, mas que depois fica a viver na cabeça do leitor, em background.

No final da história, temos um dossier que complementa a informação fornecida pelo desenho de Oriol e a escrita de Zidrou e que mais complementa esta ideia de que Vidal foi uma personalidade real.

Gostei muito deste livro, ainda que num género completamente diferente de outros “Zidrous” que li. A parceria com Oriol é uma aposta ganha e perfeita para contar esta história. Deixem-se enganar, garanto-vos que vale a pena!

Cyril Lieron e Benoit Dahan * Na Cabeça de Sherlock Homes


Confesso… a capa deste livro arrebatou-me! Nem precisei de o folhear para saber que o queria muito ler. Mas, ainda assim, folheei, e fiquei de imediato maravilhada com as ilustrações e as cores de “Na Cabeça de Sherlock Holmes”!

Restava-me ler e perceber se a história e a sua construção, faziam jus ao primeiro impacto que o livro me provocou. Será que é possível dizer que, não só fez jus, como ainda o superou?

Pois é, temos aqui tudo de bom! Uma história para os fãs de Arthur Conan Doyle, com o espírito livre e até presunçoso de Sherlock Holmes e a sagacidade de Mr. Watson. Uma recriação brilhante, quer no que se refere à adaptação, quer à forma como a mesma foi ilustrada.

Para já não falar sobre os pormenores, merecedores de um óscar para o melhor livro de banda desenhada do ano! Que maravilha é ler este livro. Um deleite para os olhos da primeira à última página, um piscar de olhos constante ao leitor, repleto de interação que me deixou sempre com um sorriso no rosto.

Há que ter muita atenção aos detalhes, porque é nos detalhes que este livro é vencedor! Tem ideias muito originais e muito bem conseguidas. Há ali uma pequena brincadeira com uma determinada linha, o fio condutor da história, que me elevaram o entusiasmo com esta leitura para lá do esperado!

Esta novela gráfica tem tudo o que se quer, uma boa história, muita inteligência na forma como é contada, ilustrações soberbas, com um nível de detalhe absurdo, o uso da cor totalmente adequado à época que retrata e um humor refinado. Em suma, uma novela gráfica que entra directamente para o top das minhas preferidas e que irei sugerir muitas vezes. Como agora. Leiam-na e desfrutem, por favor!

Opinião... Denis Thériault * A Vida Peculiar de Um Carteiro Solitário

 


“A Vida Peculiar de Um Carteiro Solitário” estava já na minha lista de desejados desde que foi editado em Portugal. Fui descobri-lo à venda da livraria Dejà Lú, um projecto que me é muito querido, pelo que me deixou duplamente feliz. Mais ainda fiquei quando, ao folhear o livro, descobri que tem uma carta (de amor ou desamor) e uma dedicatória. Portanto, de alguma forma, este livro esteve envolvido na história da vida de duas pessoas. Adorei!

Como o próprio título indica, vamos aqui conhecer um carteiro, Bilodo, que vive o seu dia-a-dia de forma solitária, recorrendo à correspondência alheia para encher a sua vida.

Pois é, Bilodo leva as cartas que deveria distribuir para casa, abre-as cuidadosamente, lê e volta a fechar para as entregar no dia seguinte. É no meio delas que vai “conhecer” Ségolène, apaixonando-se pelas suas palavras, (quase) vivendo delas.

Alguns acontecimentos irão precipitar a situação, revestindo-a de contornos muito mais obscuros do que aparentavam ser…

A solidão é aqui abordada de forma profunda, dando-nos uma perpectiva muito dura do que é vivê-la, seja por opção própria ou imposta. Não esperava o rumo desta história, mas acabou por me surpreender pela positiva, de tal forma me deixou a pensar no assunto.

A escrita de Denis Thériault é simples, mas cuidada o que transforma esta leitura num momento prazeroso, apesar da mensagem. Sendo um livro pequeno, lê-se quase de uma assentada, até porque não apetece parar de ler até ao final, também ele surpreendente!

Opinião... Nelle Lamarr * A Convidada Perfeita

 


A sinopse deste thriller espicaçou, de imediato, a minha curiosidade. Ora vejam: temos uma família ensombrada pelo luto de uma filha que, passados alguns anos, decide acolher uma estudante de intercâmbio, vinda de Londres para a América.

Esta aluna, Tanya, tem semelhanças incríveis com a falecida Anabel, o que provoca na mãe enlutada uma sensação de quase substituição, enquanto nos restantes irmãos, Paige e Will, levanta muitas questões quanto às origens e intenções de Tanya. Estas dúvidas vão sendo reforçadas, perante acções inesperadas daquela estudante.

Quem é, na verdade Tanya? O que pretende ela desta família? É o que iremos descobrir ao longo da leitura. E vamos igualmente perceber que não há inocentes neste livro, todas as personagens têm os seus esqueletos no armário, todos querem, de alguma forma, ocultar algo dos restantes. É isso que faz com que tenhamos aqui um verdadeiro jogo do gato e do rato!

Uma característica que achei muito interessante neste livro, foi o espaço que a autora deu a cada personagem. Geralmente, neste género literário, pela forma compulsiva como se procura a leitura, acabamos por conhecer cada personagem de forma rasa. Tal não aconteceu aqui e apreciei muito este factor.

A contrapartida dele é que foi mais fácil antecipar o final, quebrando um pouco o efeito surpresa, já que a autora nos foi oferendo migalhas de informação aqui e ali que permitiram ir construindo a narrativa por detrás das aparências.

Ainda assim foi uma leitura que gostei bastante, pela forma como cada personagem é exposta e pela trama em si. Não sendo um thriller de cortar a respiração, foi uma leitura que me deu muito gozo fazer.

Opinião... Rui Conceição Silva * Árvores Tombadas

 


Fico sempre feliz quando regresso a um autor que gosto muito. Mais ainda quando se trata de um autor português, como é o caso de Rui Conceição Silva.

“Árvores Tombadas” marca o seu regresso e, mais uma vez, não desilude! Há duas características nos seus livros que adoro. Primeiro, a escrita, sempre cuidada, cada frase é um deleite de ler, apreciar e sentir. Depois a história, que nos oferece um pouco do nosso Portugal rural, neste caso, dos anos 40. A caracterização daquela época, naquele espaço é deliciosa. E ainda que eu seja e tenha sido sempre uma “menina da cidade”, adoro sentir esta nostalgia (e saudade!) associada aos meus avós paternos.

Esta narrativa dá-nos a conhecer Estrela, uma jovem professora que vai dar aulas para uma aldeia do interior de Portugal. A recepção a esta nova professora não é a mais calorosa, numa época em que ser mulher e professora, ainda para mais jovem, era quase um insulto. Estrela irá enfrentar, por isso, muitas situações desagradáveis, mas a sua paixão pelo ensino e a forma como se relaciona com as crianças rapidamente as cativam.

A elas e a Ricardo, filho de uma das famílias mais abastadas da região, com ideias um tanto contraditórias da maioria. A relação entre os dois vai ser construída com base no respeito mútuo, muito bonito de assistir.

E serão eles, Estrela e Ricardo, juntamente com uma terceira voz não identificada, os narradores desta história, que formarão o retrato daquela sociedade, dos acontecimentos trágicos que assolaram a aldeia, em particular das meninas Teotónia e Ritinha. A relação destas meninas com Estrela é o ponto alto deste livro. Adorei cada doce momento!

Se algo tenho a apontar a este livro prende-se apenas com as transições de vozes, principalmente entre Estrela e Ricardo, que não achei serem muito perceptíveis e que me provocou alguma confusão na leitura, principalmente ao início quando ainda os estava a conhecer.

Este facto não tira nenhuma qualidade ao livro. Adorei esta leitura, que me voltou a oferecer momentos de leitura de qualidade e que não posso deixar de recomendar!

Opinião... Shiro Oguni * O Restaurante dos Pedidos Trocados

 


Sinto que este livro precisa de ser analisado de duas perspectivas diferentes. Por um lado, a escrita e a forma como está construído, por outro, a mensagem.

Vou começar pela mensagem, simplesmente incrível. O ser humano quando usa os seus recursos de forma positiva e em prol do próximo, consegue coisas incríveis. Shiro Oguni era realizador de cinema e televisão, mas foi atraiçoado por uma doença de coração que o impediu de prosseguir com a sua profissão. Foi então que, entre outras coisas, decidiu concretizar alguns sonhos antigos, outros mais recentes, como criar um restaurante, cujos trabalhadores sofram de demência. O que poderia parecer um acto de loucura, ele mesmo, tornou-se num fenómeno de reconhecimento mundial.

O retorno desta experiência foi algo totalmente inesperado, uma vez que as pessoas que sofrem de demência são automaticamente conotadas com total incapacidade, no entanto, quando acompanhadas e estimuladas, conseguem ainda ser muito competentes. Depois, foi a reação dos clientes deste restaurante tão especial que surpreenderam. As pessoas que sabiam ao que iam, reagiram de forma entusiástica, mas as que não sabiam foram cativadas pela simpatia destas pessoas simples, que conseguiam reagir com uma gargalhada a cada pedido trocado.

Esta experiência foi, sem dúvida, uma lição de vida que adorei conhecer!

Mas falta falar sobre a parte literária desta obra. A escrita é extremamente simples e muito telegráfica. Há muitos pontos finais, que acabam por quebrar ritmo de leitura. A forma como o livro está estruturado podia, na minha opinião, ser mais apelativa também. Não quero com isto dizer que não gostei do livro, porque gostei realmente muito, pela sua mensagem tão bonita. E neste caso, à semelhança dos pedidos trocados, encaramos este “pormenor” da escrita com um sorriso!

Opinião... Ashley Elston * A Primeira Mentira Ganha

A Evie namora apenas há três meses com o Ryan. Evie não conhece sequer os seus amigos, no entanto, não é isso que a impede de aceitar ir viver com Ryan, um homem carinhoso e atencioso, que tudo lhe faz para que se sinta bem. O jantar com os amigos será o seu primeiro desafio, afinal as primeiras impressões é que contam não é? Ou será a primeira mentira que ganha? J

Mas o que Evie não esperava é que depois de ultrapassar vários obstáculos, fosse encontrar o grande desafio na namorada do melhor amigo. Esta apresenta-se como Lucca Marino, vinda de uma pequena localidade chamada Eden. O problema? Este é o verdadeiro nome de Evie e aquela foi a localidade que a viu nascer...

Pois é, nada neste livro é o que parece, Evie não é Evie. Lucca também não poderá ser Lucca. Mas então, quem é quem e porquê?

São estas as respostas que o leitor procura em “A Primeira Mentira Ganha”, um thriller que, na minha opinião começou muito bem, principalmente quando coloca frente a frente estas duas mulheres, espicaçando a curiosidade! Gostei também do desenvolvimento da narrativa, sempre interessante e cativante.

No entanto, na parte final da história senti que o novelo se estava a “embrulhar” demasiado, obrigando a um esforço e atenção que me quebraram o ritmo de leitura. Ainda assim, achei toda a construção bem estruturada, coerente e o final surpreendente, que é algo que se quer (muito!) num thriller.

A Evie é daquelas personagens que quase nos obrigam a perdoar-lhe os erros, ainda que não nos afaste da máxima: os fins não podem justificar os meios!

Opinião... Mário Rufino * Cadente


Estava numa sessão de autógrafos com a Tânia Ganho, na Feira do Livro de Lisboa, que me apresentou Mário Rufino e sugeriu a leitura do seu “Cadente”. Fiquei de imediato interessada, sugestão da Tânia é sempre para ter em conta!

A verdade é que não desiludiu. Uma leitura um tanto desafiante, é certo, mas um livro incrível sobre uma temática difícil de viver e de lidar. “Cadente” fala-nos da doença de Alzheimer. E fala-nos na primeira pessoa, o que o torna ainda mais intenso e perturbador, ainda que seja uma obra de ficção.

O nosso narrador é o neto. A sua avó foi a enterrar, no entanto, há muito que já não tinha consciência da vida, de quem a rodeava, das suas memórias. Um percurso penoso tanto para ela, como para o neto que ainda tenta, revivendo o passado com ela, buscar essas memórias no recôndito do seu cérebro. Esta viagem ao passado acaba por ser também um pedido de desculpa. De um homem que outrora foi criança e adolescente e que tanto mal fez a esta avó que o criou.

Pelas suas palavras vamos conhecer o passado, as razões por que vivia com a avó, o caminho que trilhou, o desfecho de uma vida sofrida rematada pela terrível doença.

É um livro muito duro e cru, que expõe a dor da perda progressiva. Em termos de escrita, é muito cuidada e, diria até, diferente. Diferença esta que me provocou o desafio, que me desacelerou o passar das páginas, mas que, em retorno, me ofereceu uma narrativa muito mais rica.

Gostei muito deste livro, da abordagem ao tema, da escrita, da sensação de realidade que me provocou. Irei certamente continuar a acompanhar a obra de Mário Rufino!

Opinião... Rebecca Serle * Prazos de Validade

 


Imaginemos que, para cada relação amorosa que temos, sabemos qual vai ser a sua duração. Todas elas têm um prazo de validade conhecido… Como iriamos viver estas relações? De forma intensa, porque iriam ter um fim ou de forma leviana, pela mesma razão?

É esta a premissa de “Prazos de Validade”, um romance que achei muito interessante, principalmente pelo rumo que tomou. Confesso que a dada altura da primeira metade não estava a ver de que maneira a autora iria conseguir fechar esta história de forma coerente e lógica, mas um elemento que introduziu, depois do meio do livro, veio trazer uma nova luz sobre o assunto e gostei bastante do rumo, ainda que tenha percebido antecipadamente qual era.

Daphne sempre recebeu bilhetes, cartas, o que seja, com indicação da duração do seu próximo caso amoroso. Até ao dia em que o bilhete apenas tem o nome do feliz contemplado, sem data. O que significará isso? É desta que terá um: “felizes para sempre”?

É isso que vamos descobrir, em conjunto com esta personagem peculiar. Ela é amorosa, todos gostam dela (incluindo o leitor!) e torcem para que a vida lhe sorria. Ela tem um novo emprego, onde se sente bem, dá-se bem com a chefe e com a ex-colega que lhe apresentou Jake. Tem um ex-namorado que se tornou melhor amigo, o Hugo, com quem tem uma relação estreita e é o único que sabe da existência das datas.

E tem a sua relação com Jake, a melhor pessoa do mundo, tudo faz para que Daphne se sinta bem e confortável. Face à ausência de data de fim, Daphne investe tudo nesta relação, ainda que o coração não galope. Até onde iremos?

Este foi um romance que me soube muito bem ler, ainda que tenha tido umas questões com a escrita, que não consigo identificar se são da autora, Rebecca Serle ou da tradução. Senti alguma estranheza na forma, ainda que a mesma se tenha desvanecido ao longo da leitura.

À parte este detalhe, gostei muito da premissa, da história e da Daphne! Um bom romance para ler numa tarde de chuva, com um chá que nos aqueça o coração e a alma!

Opinião... Betty Cayouette * Uma Última Oportunidade

 

Antes de mais, uma palavra para a capa deste livro, lindíssima. Rapidamente reconheço a Emerson e o Theo nela, na deslumbrante Cinque Terre, numa sessão fotográfica cheia de amor!

“Uma Última Oportunidade” traz-nos um romance, uma história bonita entre duas personagens de quem é fácil gostar. Ainda assim, tem a carga que Emerson carrega, relacionada com uma agressão sexual no seu passado, tornando-o mais sério do que aparenta.

A autora explica, no início do livro, que ela própria foi vítima e que, durante muito tempo, esta agressão condicionou a sua vida. Tendo conseguido ultrapassar a situação, quis que a sua personagem demonstrasse que um episódio dramático não deve tornar toda uma vida infeliz.

Emerson está à beira de completar 28 anos. É uma modelo muito famosa, sobejamente conhecida e solteira. A poucos dias de fazer anos recebe um lembrete do seu grande amigo Theo, de quem se afastou nos últimos 10 anos. Este aviso, relembra-a do pacto entre eles, que se chegassem aos 28 solteiros, deveriam casar um com o outro.

Emerson decide então conseguir um trabalho de modelo numa campanha que Theo está a fotografar, e o reencontro dos dois não é bem o que esperavam. Ambos terão de reaprender a lidar um com o outro e com o passado…

Achei as duas personagens muito carismáticas, e, apesar do sucesso que alcançaram, têm personalidades amorosas e cativantes. Gostei muito dos diálogos entre eles, um misto de intimidade antiga com insegurança presente. Gostei da forma como os temas foram introduzidos e tratados.

“Uma Última Oportunidade” é, em simultâneo, um romance leve e mais pesado, o que o torna especial e me fez gostar bastante da leitura. A escrita é simples, mas a autora teve a capacidade de construir duas boas personagens que gostei muito de conhecer!

Opinião... Elisabete Martins de Oliveira * Onde as Garças Voam


Não posso deixar de começar por falar na capa e no título deste livro. Achei ambos incríveis, tendo despertado de imediato a minha curiosidade. “Onde as Garças Voam”? Onde? Porquê?

Se já queria conhecer a escrita de Elisabete Martins de Oliveira, que se estreou com “Um Muro e uma Cerca”, que ainda não li (ainda, atenção!), a curiosidade levou a melhor desta vez.

E ainda bem! Gostei muito deste livro, e foi, sem dúvida, um “abre-olhos”. Porque estas personagens passam por acontecimentos que não queremos acreditar que sejam possíveis de acontecer a qualquer um de nós, mas que são, no entanto, totalmente plausíveis!

Elisabete coloca esta personagens numa situação complicada e mostra-lhes um rumo, um caminho doloroso, mas, ainda assim, um caminho. E foi todo este desenvolvimento o que me fez gostar tanto deste livro. Isso e a escrita de Elisabete, simples, mas simultaneamente bonita e completa.

Matilde e Duarte são um casal de classe média, a residir numa vivenda em Lisboa, com dois filhos, a menina diagnosticada no espectro do autismo. Lutaram por uma vida mais confortável e conseguiram alcançar parte dos seus objectivos até ao dia em que Matilde perde grande parte da sua fonte de rendimento, logo seguida de Duarte. Este casal vê-se, de repente, sem fontes de rendimento e sem uma rede de apoio que os suporte neste momento mais difícil. E é a partir daí que começam a traçar planos imediatos dos passos a seguir para enfrentar esta crise, sempre com um objectivo em mente, fazer com que os seus filhos sejam o menos afectados possível.

É angustiante, acreditem! Principalmente quando é tão fácil colocarmo-nos nos seus sapatos e perceber que o que lhes aconteceu pode acontecer a qualquer pessoa, que a situação foge ao controlo muito rapidamente e as consequências são dramáticas.

Foi, por isso, uma leitura muito boa, mas que me deu que pensar. O que é sempre um objectivo concretizado numa obra com temáticas como esta. Resta-me agora ir ler o livro anterior da autora. Depois desta descoberta, não o posso, obviamente, dispensar.

Opinião... Rochette * O Lobo


Determinadas novelas gráficas, mais ainda do que livros de literatura, gritam por mim, sem motivo aparente. Apenas pela capa. E este “O Lobo” já me andava a tentar há demasiado tempo. Rendi-me e li-a. Ou deveria dizer, rendi-me e deliciei-me com esta história?

Confesso que não fiquei de imediato encantada com a arte, assim que iniciei a leitura. Aprecio linhas mais precisas, traços mais delicados. Mas à medida que o argumento me foi absorvendo, as ilustrações complementaram-no de forma perfeita, fazendo-me esquecer a sensação inicial.

Temos um pastor e um lobo. Este lobo perdeu a mãe, ainda muito jovem, às mãos do dito pastor, o qual, por sua vez, perdeu parte do seu rebanho (e, consequentemente, do seu rendimento) pela boca da loba. O ciclo é vicioso, e o sentimento de vingança também…

São estes dias frios, no meio dos Alpes, num clima inóspito e em condições extremas de sobrevivência que vamos acompanhar esta luta desafiadora entre homem e animal.

A dada altura, temi um final trágico para todos, um desfecho onde ninguém ganha. Mas Rochette tinha outros planos e gostei muito quer das opções, quer do caminho que tomou até chegar a elas.

É um livro que se sente: sente-se o frio, acima de tudo, o isolamento das montanhas, a raiva, a sede de vingança, o vazio depois desta. Às primeiras páginas não acreditei vir a gostar tanto deste livro, mas a verdade é que me soube conquistar. Definitivamente!

Opinião... José Rodrigues * O Quinto Pescador


“O Quinto Pescador” marcou a minha estreia com o autor José Rodrigues. Já muito ouvi falar dos seus livros, da sua escrita e agora percebo porquê.

Porque, de facto, a escrita é o ponto forte deste livro. A forma cuidada como o José construiu estas personagens e este enredo, ainda que não o ache totalmente original, conseguiu cativar-me e fazer-me perder nestas páginas.

Francisco é a nossa personagem principal. Um homem perdido, depois da tragédia que o assolou, quando a mulher e os dois filhos pequenos sofreram um fatídico acidente de carro, para mais no seu dia de aniversário. Francisco está sem rumo, e decide viajar sem destino. Mas foi esse mesmo destino que quis que parasse em Luzinha, uma localidade pequenina, onde encontrará o que não procurava…

Este livro é uma ode ao amor, ao poder redentor que este tem sobre um coração e uma alma destroçada. As relações de amizade que se desenvolvem, a forma como os afectos são descritos, tornam esta leitura num deleite e fizeram com que “O Quinto Pescador” ganhasse um lugar especial no meu coração de leitora.

A escrita, como referi, é muito bonita, há cuidado com as palavras, com a forma como são entregues. Sente-se! Este livro tem ainda, no início de cada capítulo, uma fotografia, que o autor menciona terem sido tiradas de propósito para o livro e que, de alguma forma, complementam a história. A preto e branco, criam uma aura quase mística em redor de Luzinha, de Francisco, de Pedro e do cão Rafa.

Uma história triste, mas bonita em simultâneo. Uma homenagem ao poder que um coração puro pode exercer sobre um coração ferido. Muito bonito!

Opinião... Fran Littlewood * A Incrível Grace Adams


Gosto de espreitar o Goodreads antes de iniciar uma leitura. Gostos não se discutem, mas quando a classificação é resultado de inúmeras opiniões, a média é indicativa de algo. Por isso, foi com surpresa que vi que “A Incrível Grace Adams” tinha uma classificação mediana, mais ainda quando a sinopse me tinha chamado tanto a atenção.

Parti para a sua leitura com alguma cautela, no entanto, esta foi rapidamente deitada por terra, porque Grace Adams conquistou-me logo às primeiras páginas. A sua loucura/audácia é cativante, de uma forma inesperada. Para mais, Grace tem uma idade próxima da minha e aborda temas que não se encontram recorrentemente na literatura (o melhor exemplo, a perimenopausa).

A história de Grace é-nos contada em três tempos, o primeiro na actualidade, onde acompanhamos a odisseia de uma mãe que quer, a todo o custo, chegar junto da filha que faz 16 anos e com quem está de relações cortadas. Recuamos mais de 20 anos para assistir ao início da relação entre Grace e Ben, que gerou a adolescente aniversariante Lottie. Pelo meio recuamos apenas uns meses, ao momento em que algo aconteceu levando à destruição da relação de mãe e filha.

A construção de toda esta narrativa foi feita de forma muito inteligente. Se no presente temos uma acção lenta e frenética em simultâneo, quase como se fosse a sensação de um sonho onde pretendemos alcançar algo, mas nunca lá chegamos.  No passado a acção decorre num ritmo mais constante e previsível. Já os meses anteriores, escondem verdades inesperadas que me apanharam de surpresa.

Adorei esta personagem. Real acima de tudo, humana, sofrida, verdadeira. Expressa por actos o que muitas vezes nos passa pela cabeça, mas não executamos porque parece mal. Grace é uma mãe em sofrimento, uma mãe que pretende reconquistar a filha, uma mulher que precisa de recriar um rumo, há muito perdido. Toda a teia a fechar-se e a revelar todos os acontecimentos que tiveram consequências, levam o leitor numa roda-viva.

Não esperava gostar tanto desta história, mas a verdade é que Grace Adams ficou e ficará comigo. Uma personagem daquelas que adoro adorar! E a média no Goodreads vai crescer um bocadinho 😊

Opinião... André Fernandes * As Sete Carruagens

 


A premissa deste livro deixou-me de imediato curiosa. Um metro, sete carruagens, e a cada novo dia, a personagem principal, René, revive uma e outra vez a mesma rotina, tendo a acção lugar em cada uma das diferentes carruagens.

E é precisamente aí que os dias variam uns dos outros, já que as pessoas com que interage em cada carruagem são diferentes e o diálogo é, também ele, distinto.

E chego aqui ao cerne da questão, já que achei estes diálogos muito forçados, com um objectivo, é certo, mas sem qualquer subtileza. Ao ponto de me parecer estar a ler um livro de ajuda e não um romance.

A temática que aborda é muito interessante e importante. Não vou revelar qual é, porque é parte do encanto da narrativa, mas acredito que possa ajudar leitores. Da mesma forma, o conteúdo dos diálogos que mencionei acima são, também eles, de extrema importância. Um alerta, uma aprendizagem, uma ajuda. Mas não são diálogos realistas, que se enquadrassem na acção em curso. E foi este o ponto que me incomodou e fez gostar menos da leitura.

A escrita é simples, fácil de ler e compreender e existe sensibilidade na mensagem. Não quero com as minhas palavras tirar valor ao livro, não seria justo. Só não concordo que lhe chamemos romance…