Opinião... Nguyen Phan Que Mai * Quando as Montanhas Cantam

 


Que leitura incrível foi esta! “Quando as Montanhas Cantam” tem tudo o que procuro num livro: uma história de família bem construída, com personagens sólidas, incríveis e memoráveis. Para além disso, ainda contém muita História do Vietname, que desconhecia e me perturbou.

Temos aqui uma avó e uma neta como protagonistas principais, ainda que tenhamos muitas outras personagens com muito relevo para a história. E a acção passa-se em três momentos diferentes no tempo, o presente, um passado mais antigo, quando a avó era uma criança e um passado intermédio, quando a avó é adulta, com os seus filhos crianças.

No presente, Huong e a sua avó vivem o terror da guerra. Os pais e tios da pequena Huong partiram para a frente de batalha, pelo que as duas estão sozinhas a enfrentar a destruição da sua cidade e da sua vida. É nesta altura que a avó conta a Huong o seu passado, desde a infância, como forma de a levar para fora da realidade avassaladora que vivem. Mas o passado também não foi fácil. A avó nasceu no seio de uma família abastada que perdeu tudo, assistindo ao que não devia, muito nova ainda. Depois, já mais velha e com a vida relativamente estável, viveu a reforma agrária que a obrigou a fugir com os filhos, deixando tudo para trás (esta fuga foi a parte mais perturbadora do livro, para mim).

Toda a história desta mulher é de sofrimento, perdeu tudo, viu o pai morrer da pior forma, recuperou para voltar a perder tudo, teve de fugir, teve de tomar das decisões mais difíceis que uma mãe precisa de tomar e vive agora tempos de guerra. Teria todos os motivos para ser amargurada, com sede de vingança e, no entanto, tudo o que ela quer é amar a sua família, mantendo-a próxima e unida. Que personagem maravilhosa. Ficará para sempre comigo, como exemplo a seguir, sem dúvida!

Não tinha noção da dimensão do sofrimento deste povo. Embora seja uma história de ficção, baseia-se em situações reais, algumas delas passadas na família da autora, o que confere outra dimensão à leitura. É caso para dizer, a realidade consegue, muitas vezes, ultrapassar a ficção.

Esta é daquelas narrativas que me arrebatam e me deixam de lágrima no olho no final do livro. A escrita de Nguyen Phan Que Mai é simples, mas despojada de artifícios, tornando tudo muito real e próximo. Não é que eu goste de sofrer a ler, mas sendo retrato de uma sociedade não tão distante assim em termos temporais, é de extrema importância conhecer esta realidade. Recomendo muito a sua leitura!

Sem comentários: