Opinião... Ann Napolitano * Olá, Linda


Por vezes a relação de um leitor com um livro é muito curiosa e passa por várias fases. Foi o que me aconteceu com “Olá, Linda”. Comecei a sua leitura com muito entusiasmo e expectativas, depois de tanto ouvir opiniões muito positivas, para me deparar com uma leitura que não me agarrou de imediato. Até mais de meio do livro achei a história bem construída, mas sem me empolgar, o que esmoreceu o meu entusiasmo inicial.

A partir de determinada altura, ganha um novo fôlego e segue em crescendo até ao final. Mas ainda assim, precisei que passassem uns dias para sentir a força desta história em mim. Porque hoje, dou por mim a reviver momentos desta narrativa e a relembrar estas personagens, tão bem construídas.

Porque sim, a força desta história está totalmente centrada nas suas personagens. A família Padavano e todos os que com ela convivem são aqui dissecados e expostos desde pequenos até à meia-idade, passando por inúmeros eventos traumáticos.

Julia, Sylvie, Cecelia e Emeline são as quatro irmãs Padavano. O pai, Charlie, vive num outro hemisfério, onde as responsabilidades de adulto não existem. Já a mãe, Rose, tem sonhos que quer ver concretizados através das filhas e é o motor desta família.

William vive só e sente-se abandonado, depois da família ter sido destruída pela morte da sua irmã mais velha, quando ele era ainda um bebé. William irá encontrar em Julia uma companheira e na sua família, o aconchego que falta na sua. Até que os desejos de uns não coincidem com os de outros e os confrontos se tornam inevitáveis, abrindo brechas profundas nas suas relações.

Adorei poder acompanhar a vida destas personagens ao longo de tantos anos e, até, diferentes gerações. Sentir a sua evolução (nem sempre positiva), o seu amadurecimento. Os obstáculos que a vida lhes impôs, tornaram-nos quase humanos, reais.

A escrita de Ann Napolitano tem uma característica que gosto bastante. Lança uma determinada situação sem contexto imediato, para, no capítulo seguinte, explicar o que lhe deu origem. É uma interacção muito interessante com o leitor.

E, como disse no início, este livro tem vindo a infiltrar-se na minha pele com o passar dos dias e a consolidar o espaço que lhe é devido. Não é frequente acontecer, mas não deixa de ser uma sensação muito interessante!

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