Olá! Li este mesmo livro no final do ano passado e, apesar de ter gostado e de ter uma ideia que gosto muito, não gostei tanto como esperava. Dei mais ou menos o mesmo que tu e foi uma boa leitura, só gostava de ter tido aquela sensação que faz as pessoas amarem este livro... talvez um dia se o reler me fale mais alto! De qualquer das formas, a tua opinião foi muito interessante, concordo contigo/senti o mesmo na grande maioria. Boas leituras. - Mad (http://presa-nas-palavras.blogspot.pt/)
Li este livro há mais de dez anos e marcou-me profundamente. Creio que é sobre solidão - sobre ser diferente, e essa diferença causar repulsa, incompreensão. Sobre um dia acordarmos e sentirmo-nos sozinhos e distantes e não conseguirmos lidar.
O que retirei (na altura): Gregor sustentava a família, tinha um emprego do qual não gostava, que não o satisfazia, e para o qual detestava ter de acordar de manhã. Mas o pai era fraco, a mãe doente, a irmã muito nova. Gregor é, no fundo, o chefe da família, e todos dependem dele; ele trabalha imenso, tem uma vida banal. É caixeiro viajante, portanto raramente está em casa. E um dia, como num pesadelo, a situação inverte-se e ele não pode mais trabalhar. O pai volta a ganhar a autoridade dentro de casa, mas ressente o filho pela situação; a mãe diz que gosta dele, mas sente-se mal sempre que o vê (amor materno como utopia, mais do que incondicional). E depois há a irmã. Gregor adorava a irmã, queria pagar-lhe o curso de violino com que ela sonhava. E a irmã alimenta-o, ajusta-lhe o quarto, etc. Gregor aceita a sua nova condição, mas tem vergonha. Tenta-se ajustar à família, aparecendo o menos possível. Vai-se tornando cada vez mais insecto (no início conseguia falar, embora não com a mesma voz, mais tarde nem isso). A família é mais relutante - mas aceita o facto como tragédia familiar normal - e depois há a irmã. A irmã, que tem de começar a trabalhar para ajudar a família, e cujo concerto de violino para os hóspedes ele arruína. E, nesse momento, a gota de água - a irmã declara que aquele monstro não pode ser Gregor. E Gregor OUVE isso, e percebe-o. Gregor é o mais humano deles todos. E, completamente alienado, alheado, desprezado pela família, decide morrer.
E como a família tinha aceitado toda a questão como drama familiar banal (fecham-no no quarto e ignoram-no o melhor que podem), a vida continua normalmente. A filha cresceu, está adulta (e a metamorfose que ela passou ao longo do livro? A metamorfose não tem, necessariamente, de ser a de Gregor). Com menos um membro na família (sem um fardo), mudam-se para outra casa, mais pequena. Vão passear. Ele, quando vivo/normal, não estava muito presente, de qualquer das maneiras...
Kafka tinha uma relação muito conturbada com o pai, e consigo mesmo - acho que espelhou muito disso neste livro. Mas, ao mesmo tempo, quem nunca sentiu não ter lugar na família? Quem nunca se sentiu isolado, sozinho, pouco importante? Quem nunca achou que a melhor solução para um problema poderia ser morrer?
E é por tudo isto que acho o livro essencial, importante, é por isto que me marcou.
8 comentários:
Olá!
Li este mesmo livro no final do ano passado e, apesar de ter gostado e de ter uma ideia que gosto muito, não gostei tanto como esperava. Dei mais ou menos o mesmo que tu e foi uma boa leitura, só gostava de ter tido aquela sensação que faz as pessoas amarem este livro... talvez um dia se o reler me fale mais alto! De qualquer das formas, a tua opinião foi muito interessante, concordo contigo/senti o mesmo na grande maioria.
Boas leituras.
- Mad (http://presa-nas-palavras.blogspot.pt/)
Que bom o teu comentário Mad. Já não me sinto só nesta indecisão :-)
Li este livro há mais de dez anos e marcou-me profundamente. Creio que é sobre solidão - sobre ser diferente, e essa diferença causar repulsa, incompreensão. Sobre um dia acordarmos e sentirmo-nos sozinhos e distantes e não conseguirmos lidar.
Bem...eu sei que um dia vou ter que o ler. É daqueles que se tem que ler para tirar dúvidas. E toda a gente fala :)
um beijinho e boas leituras
Concordo Bárbara. Mas toda a parte da familia e principalmente o final, não sei qual a mensagem...
E isso mesmo Isaura. E é pequenino, lês num instantinho
O que retirei (na altura): Gregor sustentava a família, tinha um emprego do qual não gostava, que não o satisfazia, e para o qual detestava ter de acordar de manhã. Mas o pai era fraco, a mãe doente, a irmã muito nova. Gregor é, no fundo, o chefe da família, e todos dependem dele; ele trabalha imenso, tem uma vida banal. É caixeiro viajante, portanto raramente está em casa. E um dia, como num pesadelo, a situação inverte-se e ele não pode mais trabalhar. O pai volta a ganhar a autoridade dentro de casa, mas ressente o filho pela situação; a mãe diz que gosta dele, mas sente-se mal sempre que o vê (amor materno como utopia, mais do que incondicional). E depois há a irmã. Gregor adorava a irmã, queria pagar-lhe o curso de violino com que ela sonhava. E a irmã alimenta-o, ajusta-lhe o quarto, etc.
Gregor aceita a sua nova condição, mas tem vergonha. Tenta-se ajustar à família, aparecendo o menos possível. Vai-se tornando cada vez mais insecto (no início conseguia falar, embora não com a mesma voz, mais tarde nem isso). A família é mais relutante - mas aceita o facto como tragédia familiar normal - e depois há a irmã. A irmã, que tem de começar a trabalhar para ajudar a família, e cujo concerto de violino para os hóspedes ele arruína. E, nesse momento, a gota de água - a irmã declara que aquele monstro não pode ser Gregor. E Gregor OUVE isso, e percebe-o. Gregor é o mais humano deles todos. E, completamente alienado, alheado, desprezado pela família, decide morrer.
E como a família tinha aceitado toda a questão como drama familiar banal (fecham-no no quarto e ignoram-no o melhor que podem), a vida continua normalmente. A filha cresceu, está adulta (e a metamorfose que ela passou ao longo do livro? A metamorfose não tem, necessariamente, de ser a de Gregor). Com menos um membro na família (sem um fardo), mudam-se para outra casa, mais pequena. Vão passear. Ele, quando vivo/normal, não estava muito presente, de qualquer das maneiras...
Kafka tinha uma relação muito conturbada com o pai, e consigo mesmo - acho que espelhou muito disso neste livro. Mas, ao mesmo tempo, quem nunca sentiu não ter lugar na família? Quem nunca se sentiu isolado, sozinho, pouco importante? Quem nunca achou que a melhor solução para um problema poderia ser morrer?
E é por tudo isto que acho o livro essencial, importante, é por isto que me marcou.
PS: vontade enorme de reler!
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