Opinião... Tânia Ganho * A Mulher-Casa

Data Início: 30-04-2014 

Data Fim: 06-05-2014

AutorTânia Ganho
Título: A Mulher-Casa
Editora: Porto Editora
ISBN: 9789720045942
N. Páginas: 376

Sinopse:
Ela é uma modista de chapéus pouco conhecida; ele, um ghostwriter de políticos menores e personalidades duvidosas. Quando trocam a pacata Aix-en-Provence pela imponente Paris, levam consigo toda uma bagagem de sonhos e promessas de glamour. Porém, o crescente sucesso profissional do marido depressa reduz Mara ao papel de mãe e dona de casa, arrastando-a para um abismo de solidão e desencanto.
É então que se envolve com Matthéo, um jovem chef mais novo do que ela, e de súbito se vê enredada numa espiral de sentimentos contraditórios onde a lealdade, a luxúria e o dever encerram as agonizantes perguntas: poderá uma adúltera ser uma boa mãe? Poderá ela esperar que este amor proibido a salve de si mesma e da sua falta de fé?

Comentário:
Este fantástico livro de Tânia Ganho tem um título peculiar que poderá levantar questões quanto à sua origem. A autora, em entrevista ao blog oplanetalivro.blogspot.pt, explicou: "A “mulher-casa” é o título de uma série de desenhos e pinturas que a artista plástica Louise Bourgeois (1911-2010) fez em 1946-7 e cujo tema – a casa como refúgio ou prisão – desenvolveu até ao final da sua vida, nomeadamente na série de instalações “Células/Celas” que criou nos anos 90."

E o título diz muito do que é a história deste livro. Nele, Tânia, conta-nos a história de Mara e da sua familia. Mara tem um casamento feliz e um filho de 1 ano quando a familia se muda de Aux-en-Provénce para Paris, por imposição do novo trabalho de Thomas, o seu marido. Sendo o Pluma do Ministro, o seu braço direito, Thomas concentra-se cada vez mais no trabalho em detrimento da familia e Mara vê incidir sobre si todas as responsabilidades domésticas e com o filho. Sente-se prisioneira da sua casa, onde trabalha pontualmente a fazer chapéus, mas sente-se cada vez mais só e frustada. O seu escape acaba por ser Matthéo, o cozinheiro da residência, com quem se envolve. Se por um lado lhe dá algum sentido à vida, por outro cria-lhe problemas de consciência e de culpa. E Mara luta diariamente contra o sentimento de desilusão e desanimo que a assalta constantemente, e que lhe tolda as acções.

Tânia é brilhante nas suas descrições, o livro é repleto de referências a Paris e à sua cultura sem perder o fio à história e sem maçar. É um livro belo, profundo, que toca na ferida de forma subtil mas decidida. Adorei tudo: história, envolvente, personagens, escrita, o pequeno Raphael, a revolta de Mara... E o grito abafado de Mara encerra o grito não proferido de tantas mulheres.

Classificação: 9/10

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