Algumas questões... a Sérgio Luís de Carvalho


Antes de mais gostaria de agradecer a amabilidade do escritor Sérgio Luís de Carvalho que se prontificou a responder a algumas questões que lhe coloquei. As respostas são reflexo do empenho e dedicação que coloca em tudo o que faz!





Sérgio Luís de Carvalho é autor de inúmeras obras literárias: estudos históricos, romances e literatura infanto-juvenil, tendo editado recentemente o romance "O Exílio do Último Liberal".

Foi vencedor do "Prémio Literário Ferreira de Castro" (1989), na categoria de ficção narrativa, pelo romance "Anno Domini 1348" e finalista dos prémios "Prémio Jean Monnet de Literatura Europeia" (2004) e "Prémio Amphi de Literatura Europeia" 2005, com o mesmo romance.


Uma nota final, antes de passar às questões. Sérgio foi o meu professor de História do 10º ano (já lá vão uns aninhos...) e foi o primeiro professor que teve a capacidade de me fazer gostar dessa disciplina! 


1. Quando e como descobriu que queria ser escritor?

Poderia dizer que sempre o quis. Lembro-me de em miúdo escrever umas salganhadas e uns poemas de pé-quebrado (normalmente quadras). Isto na primária. Claro que não me lembro de nada que tenha “escrito” na altura, exceto uma quadra que fiz na 4ª classe (era trabalho de casa) e que até tinha a métrica certa e as rimas corretas.
Claro que nessa altura não formulava as coisas nesses termos. Não dizia que queria ser escritor. Escrevia e lia muito porque a televisão começava às 19 e tal e não havia computadores, game box e internet. Um miúdo tinha de se entreter com alguma coisa quando não estava na rua ou em casa dos amigos da mesma idade.
Na adolescência escrevia uns poemas muito angustiados sobre as injustiças do mundo, o destino e os meus problemas com o acne. Mas, de novo, nada de muito promissor nem de muito determinado.
Creio que foi na faculdade (cursei História em Lisboa) que comecei a achar que queria realmente escrever. A partir daí e com um primeiro romance nas mãos, foi a luta para encontrar editor, se bem que os meus primeiros livros fossem de literatura histórica infanto-juvenil, editados pela editora Franco, em Lisboa. Aliás, os meus dois primeiros livros foram os últimos que a editora Franco editou. Depois faliu.
Tento não associar uma coisa à outra…


2. Qual foi o melhor momento da sua carreira de escritor?

Tenho tido os meus momentos. Receber o Prémio Literário Ferreira de Castro em 1989, logo no romance de estreia. Ter sido finalista a dois prémios literários europeus em França, em 2004 e 2005. Ter romances meus estudados em universidades italianas e galegas. Receber elogios de colegas, da crítica e do público. Receber mails e cartas de pessoas que não conheço comovidas com um romance meu que as emocionou…
Enfim, aquelas pequenas e grandes coisas que nos amaciam o ego e a vaidade.



3. E o momento mais embaraçoso?

Felizmente nunca tive muitos momentos embaraçosos. É o que faz ser prudente… Mas tive um momento muito aborrecido que ainda hoje recordo. Foi por volta de 1988. O meu primeiro romance foi recusado por muitas editoras. Os editores davam a desculpas clássicas: “Não é um autor conhecido… Não podemos arriscar… O romance até é jeitoso, mas…”.
Por fim, após longa e teimosa porfia, recebi um telefonema de um editor de uma grande editora (como ainda existe, não menciono o seu nome). Tinham gostado muito do romance e queriam publicá-lo. Daí a uma semana falariam comigo para combinar detalhes. Claro que passei uma semana em êxtase. Ter o primeiro romance publicado… E logo na dita editora “grande e famosa”…
Passado uma semana recebi o tal telefonema em que o mesmo editor, constrangido e desfazendo-se em desculpas, me disse que o seu diretor tinha mudado de opinião. Sim… o romance era bom. Mas como o autor era desconhecido…
Curiosamente foi esse mesmo romance que no ano seguinte ganhou (finalmente) o Prémio Literário Ferreira de Castro e foi finalista em França aos dois prémios literários europeus.
A vida dá voltas…
Esse momento foi mais embaraçoso para o editor do que para mim. Mas foi, nesse momento um grande murro no estômago…



4. Qual é a sensação de saber que o que escreve é lido e admirado por todo o mundo?

Isso é que é otimismo. Lido e admirado em todo o mundo? Não faz isso por menos. Bom, nos países estrangeiros que já publicaram romances meus (França e Espanha) e nos países onde sei que já fui “estudado” (Itália) as opiniões são muito favoráveis. Em Portugal tenho tido sempre, felizmente, boas críticas, bons artigos e boas análises em alguns livros de crítica literária. Não digo que isso me deixa indiferente. Claro que não deixa. Claro que fico satisfeito. Mas, sinceramente, tento não pensar muito nisso. Um certo grau de insatisfação impele-nos mais para a frente que o comodismo da autossatisfação.


5. O que queria ser quando era criança?

Como sempre sucede nos miúdos, quis ser muita coisa. A maior parte das coisas que queria ser já nem me lembro. Mais a sério, comecei por me sentir atraído pelo Direito, já no ensino secundário. Isto, para além da atração pelas Letras, claro. Acabei, à última da hora, por desistir de Direito e ir para História (foi em 1977). Desde essa altura (teria uns 17/18 anos) até hoje dediquei-me à História e à Literatura.


6. Qual é o seu maior sonho?

Em termos globais, o meu maior sonho é que se cumpram os objetivos que uns revolucionários franceses estabeleceram no distante ano de 1789: Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Sempre.
Em termos pessoais, o meu maior sonho é sentir que um dia, daqui a uns anos, quando olhar para trás, me sinta realizado pelo que fiz, pelo que produzi e que sinta também a felicidade e a realização das pessoas que amo.
É muita ambição, não é? Mas vai-se tentando.



7. Como se imagina daqui a 20 anos?

Imagino-me a crer que talvez tenha valido a pena. Imagino-me a defender os mesmos ideais. Imagino-me a escrever e a ler. Imagino-me com dores nas costas ao acordar.


8. Se não fosse escritor (e professor), o que seria?

Menos feliz.


Muito obrigada e muito sucesso!

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