Victor Vidal e o seu “Não Há Pássaros Aqui” foi o vencedor do Prémio Leya 2023. Finalizada a sua leitura, consigo perceber as razões para a atribuição do prémio.
O autor fez aqui um trabalho de dissecação da mente humana incrível.
Partindo de uma personagem feita em cacos, analisa cada um deles, procurando
origens e razões, por um caminho, na maioria das vezes, muito tortuoso.
É uma história difícil de ler, de sentir e absorver, porque
revela o pior do ser humano, mas a forma como o autor nos apresenta os factos,
impede-nos de virar as costas e seguir.
Aqui conhecemos Ana, quando esta recebe um telefonema que
lhe vai virar a vida do avesso, novamente! A sua mãe está desaparecida há uma
semana e a sua presença é requerida pela polícia. Ana obriga-se então a regressar
ao lar onde nunca foi feliz, revivendo os momentos tensos, tristes e que quer
esquecer.
Talvez porque se viu obrigada a viajar até ao seu passado,
num impulso decide ligar ao seu amigo de então, Benjamin e passaremos a ter, a
partir daqui, duas personagens sofridas, amarguradas, perdidas no presente por
conta dos seus passados.
A procura por respostas a questões pendentes fará parte do
dia-a-dia dos dois, em busca de uma salvação que poderá chegar tarde demais…
Todo o livro é uma imensa dor, acontecimentos trágicos, mágoas,
marcas profundas para sempre. A escrita é muito boa, criando uma teia em volta
destas duas personagens, no presente e no passado, que nos levam numa espiral
que roça a loucura. Perturbador, intenso e de um enorme sofrimento, até para o
leitor, que assiste impotente, a tanta barbárie.
“Não Há Pássaros Aqui” é um título intrigante, mas que faz
tanto sentido depois de lido o livro. Talvez se houvesse mais pássaros ali, com
a sua beleza e encanto, a vida não tivesse sido tão dura…
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