Estava numa sessão de autógrafos com a Tânia Ganho, na Feira do Livro de Lisboa, que me apresentou Mário Rufino e sugeriu a leitura do seu “Cadente”. Fiquei de imediato interessada, sugestão da Tânia é sempre para ter em conta!
A verdade é que não desiludiu. Uma leitura um tanto
desafiante, é certo, mas um livro incrível sobre uma temática difícil de viver
e de lidar. “Cadente” fala-nos da doença de Alzheimer. E fala-nos na primeira
pessoa, o que o torna ainda mais intenso e perturbador, ainda que seja uma obra
de ficção.
O nosso narrador é o neto. A sua avó foi a enterrar, no
entanto, há muito que já não tinha consciência da vida, de quem a rodeava, das
suas memórias. Um percurso penoso tanto para ela, como para o neto que ainda
tenta, revivendo o passado com ela, buscar essas memórias no recôndito do seu
cérebro. Esta viagem ao passado acaba por ser também um pedido de desculpa. De
um homem que outrora foi criança e adolescente e que tanto mal fez a esta avó
que o criou.
Pelas suas palavras vamos conhecer o passado, as razões por
que vivia com a avó, o caminho que trilhou, o desfecho de uma vida sofrida rematada
pela terrível doença.
É um livro muito duro e cru, que expõe a dor da perda
progressiva. Em termos de escrita, é muito cuidada e, diria até, diferente.
Diferença esta que me provocou o desafio, que me desacelerou o passar das páginas,
mas que, em retorno, me ofereceu uma narrativa muito mais rica.
Gostei muito deste livro, da abordagem ao tema, da escrita,
da sensação de realidade que me provocou. Irei certamente continuar a acompanhar
a obra de Mário Rufino!
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