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Opinião... Angélica Lopes * A Maldição das Flores


Quando se é uma leitora ávida como eu sou, é sempre uma lufada de ar fresco encontrar uma história original, que nos arrebate e cative. Foi o que me aconteceu com “A Maldição das Flores”.

A premissa é, em si, incrível. Remontemo-nos aos inícios de 1900, quando a voz das mulheres era simplesmente inexistente. Na região de Pernambuco havia um grupo de mulheres rendeiras, do qual faziam parte a família Flores (que dá título ao livro, já que paralelamente conheceremos a maldição que as assola) e uma amiga, a Eugenia. É precisamente Eugenia que, obrigada a casar-se com um homem que a impedia de sair de casa e a maltratava, encontrou nas suas rendas o veículo de comunicação perfeito.

Cada ponto correspondia a uma letra do alfabeto, portanto, todas aquelas que soubessem o código, poderiam comunicar. E é desta forma que Eugenia comunica com a sua amiga Inês Flores, na tentativa de fuga que ambas elaboram.

Damos então um salto até à actualidade e conhecemos Alice, uma jovem activa e reivindicativa, que luta e defende os seus princípios, tentando ganhar a tal voz que tanta falta fez às mulheres ao longo de décadas. Ela será a herdeira de um véu, em renda, e do respectivo código. Este é-lhe oferecido por uma tia que ela não conhecia. Quando percebe o que aquele véu representa, não consegue mais parar até conhecer a história de toda a família e quem foi Eugenia.

É este caminho que iremos fazer em conjunto com Alice e, garanto-vos, é uma caminhada incrível! Toda a envolvente destas rendas, os acontecimentos que se atropelam, as aparências, o sofrimento de tantas mulheres ao longo dos anos, tudo é vívido e sentido. Adorei!

Quem me segue, sabe que tenho alguma relutância em ler em português do Brasil, porque sinto que me atrapalha a compreensão imediata do que leio. Mas, neste livro, senti que fluiu de forma ligeira, talvez porque a história me interessou tanto.

Em suma, encontrei aqui um romance original, com um tema também ele original e muito bem desenvolvido, ainda que assente numa problemática tão antiga: as desigualdades entre homens e mulheres. Aqui, elas provaram que com inteligência se consegue contornar a força bruta, ainda que nem sempre com um final feliz!

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