Tenho acompanhado toda a obra de Íris Bravo, desde o seu “A Terceira Índia” e o que me chamou a atenção neste seu novo livro, de imediato, foi o salto qualitativo na sua escrita. Se nos outros livros gostei muito das histórias, assentes numa escrita simples, aqui senti um deleite na leitura. Cuidada e bonita, elaborada quanto baste para contar a história pretendida.
Foi uma surpresa muito positiva que me fez gostar ainda mais
do livro. Isto porque voltamos a ter aqui uma narrativa que cativa e absorve. A
Íris tem a capacidade de me fazer sentir as personagens e as situações, até os
locais.
Comecei “Um Som em Mim” e, ao fim de poucas páginas, parecia
que eram pessoas conhecidas, que não as tinha descoberto minutos antes. Adoro
essa sensação, que me faz ter uma leitura muito mais absorvente!
Depois temos a história, nada fácil, aviso já. Temos aqui
muita violência, que passa não só pela violência doméstica, caracterizada de
forma exemplar, no que toca ao perdão e à cegueira que o amor provoca, mas também
temos uma outra violência, dura e com consequências catastróficas.
A nossa personagem principal é a Francisca, uma jovem adulta
que consegue fugir de casa, levando a mãe e a irmã mais nova. A mãe, impotente
face às circunstâncias, deixa-se levar, mas não ajuda muito. Já a irmã mais nova
é o grande problema delas, porque sendo menor, esta ausência do lar, pode ser
considerada rapto. Isto faz com que vivam escondidas e sem outros recursos que
não a força do seu trabalho. São tempo duros e difíceis para as três. Mas são
também tempos livres, até dada altura em que a vida de Francisca volta a sofrer
outro revés…
Gostei muito desta leitura, pela escrita, pela temática, pela
abordagem. Íris Bravo explicou na apresentação do livro o mote para esta
história e sente-se que é algo que precisava de ser contado. Não é uma história
bonita nem cor-de-rosa, mas é, infelizmente, um retrato da sociedade (para
mais, de alta sociedade!) que importa falar.
Sem comentários:
Enviar um comentário